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Gráfico Gastos Militares Alemães 2União Europeia - Diário Liberdade - [Carlos Serrano Ferreira] Como vimos apontando em palestras e artigos, a hegemonia alemã na Europa vem crescendo desde a entrada em cena do Euro, e em particular com a atual crise e as políticas de austeridade impostas por Berlim. O domínio econômico é evidente, mas o crescimento de sua preponderância nos organismos da União Europeia e sua remilitarização colocam um cenário onde o perigo alemão é crescente.


A integração europeia se converteu, a partir das alterações com Maastricht e, em particular com o Tratado de Lisboa, num espaço de ampliação e consolidação da hegemonia germânica. Os recentes governos alemães tem conseguido impor uma supremacia sobre o continente - até agora sem dar um tiro. Conseguem assim o que o Kaiser, na I Guerra Mundial, e Hitler, na II Guerra Mundial, não conseguiram com as forças das armas. A euroburocracia e a força financeira tem sido mais eficientes que o exército nessa tarefa. As expansões da União Europeia à Leste, sobre a antiga área de influência soviética, ainda que contrabalançada com a presença de países ligados mais à Washington, como Polônia e Romênia, tem sido uma ofensiva alemã, reconquistando antigas áreas de influência do velho Reich. A criação de um protetorado 'europeu' na Bósnia aponta o sombrio significado dessa política. As condicionalidades draconianas impostas à entrada dos novos países, como o fechamento dos centenários estaleiros croatas, serve à construção da dependência dos países do Leste, enquanto os recursos para os países do Sul que aderiram nos anos 80 à então CEE minguam, afinal o seu objetivo de construir as infraestruturas da dependência já foram cumpridas. O bloqueio à entrada da Turquia na UE não é apenas pelo medo - comungado pela população alemã e pelas elites - do crescimento da já grande comunidade turca no país e da 'islamização' da Europa e do país, mas relaciona-se ao poder político na votação no Conselho Europeu, pois com sua população de mais de 75 milhões passaria a ser o segundo país neste critério na União Europeia, atrás apenas da Alemanha, e teria assim uma enorme capacidade de contrabalançar o poder alemão nas votações.

A verdade é que a colonização da antiga Alemanha Oriental, que possibilitou o rebaixamento salarial e o enfraquecimento dos poderosos sindicatos alemães, permitiu o fortalecimento financeiro do país e consolidou a conversão do espaço comum europeu em plataforma de exportação teutônica. Não é por acaso que o Banco Central Europeu é em Frankfurt...

A intervenção clara da Alemanha na Europa em todos os assuntos é claríssima. Atua para reforçar a austeridade, como mecanismo de reforçar a dependência desses países. E, na principal crise política atual, a ucraniana, tem papel ativo através da intervenção do 'partido alemão' na Ucrânia, o UDAR de Wladimir Klitschko, atual prefeito de Kiev. Este partido foi construído pela CDU de Merkel e seus quadros formados pela Fundação Konrad Adenauer. É também claríssima a aliança da Alemanha com o atual presidente ucraniano, Petro Poroshenko e seu partido Bloco Petro Poroshenko. Não foi por acaso que o UDAR concorreu com seus candidatos nas listas do Bloco.

Mas, quero chamar a atenção para dois elementos: o crescimento dos gastos militares alemães e o aumento do peso alemão nos cargos de direção da União Europeia. A partir da base de dados do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) pode se ver - na gráfica que acompanha este artigo - como, após uma queda entre 1991-1997, desde 1998 o gasto militar alemão vem crescendo, com grande força a partir de 2007 e ultrapassando em 2012 os gastos pré-unificação e do período da Guerra Fria, inclusive em meio à crise que se abateu sobre a Europa.

Ainda mais revelador é a pesquisa do think thank belga Bruegel, que disponibilizou um interessante artigo em seu blog, no dia 13 de abril, do pesquisador Allison Mandra, intitulado 'Measuring Political Muscle in European Union Institutions - which country holds the highest number of top posts in the EU institutions?' (disponível aqui) e que mostra o crescente peso alemão nas instituições europeias a partir da crise econômica. Apesar de algumas lacunas, como não contabilizar algumas entidades como o Banco Central Europeu, a Corte de Justiça, entre outras, é extremamente clarificadora. Se em 1999 e em 2009, a Alemanha era a segunda em número de nacionais nas principais posições na Comissão Europeia e no Parlamento Europeu, passou a ter a primeira posição em 2015. Em 1999 possuía 16 entre os principais cargos, passando a 18 em 2009 e 23 em 2015. Se lembrarmos que entre 1999 e 2015 houve a adesão de mais treze países, ver-se-á que o crescimento de seu peso foi ainda maior. Em particular nota-se a queda França, que em 2009 possuía 19 cargos e caiu para 12 em 2015. Isto é ainda mais perceptível se virmos a evolução da porcentagem da França, de 16,8% em 2009 para 8% em 2015, enquanto a Alemanha possui agora 15,4%.

Esta discrepância entre a Alemanha e a França é relevada por Jean Quatremer num artigo para Liberátion, sintomaticamente intitulado, 'La France, de plus en plus étrangère à l'Europe' (disponível aqui). Em certo trecho ele aponta que "Desde Jacques Delors, que deixou a presidência da Comissão em Dezembro de 1994, e Jean-Claude Trichet, que saiu do Banco Central Europeu no final de 2011, os franceses já não detêm cargos executivos no seio da União, fora o comissário garantido pelos Tratados. Um sintoma e um símbolo." (Tradução nossa). Ele chega a ser irônico ao falar que "O Parlamento Europeu é agora de fato a terceira câmara do Bundestag [Parlamento alemão] de tanto que os alemães são onipresentes." (Tradução nossa).

A posição geopolítica alemã, em particular a partir da tragédia da reunificação, cria inevitavelmente a necessidade do expansionismo teutônico. Hoje ainda de forma econômica e política, mas num futuro, quando os conflitos interimperialistas se aguçarem até o limite, também militarmente. O que garantiu a pacificação na Europa e da Alemanha foi a existência da Guerra Fria, que sufocou as pretensões das potências europeias (fora uns esperneios gaullistas) e a divisão do país. O restabelecimento de condições similares ao período pré-Guerra Fria permite o reerguimento alemão, agora claramente a única potência com capacidade de disputar o grande jogo mundial, onde se apresentam os EUA, a Rússia e a China. Seu atraso militar pode ser suprido com rapidez, pois possui a base tecnológica e econômica para isso. Se os rumos na União Europeia permanecerem os atuais, essa rota da Alemanha rumo à disputa pela supremacia mundial seguirá. Por isso, não se pode perder de vista, como tenho sempre dito, que o perigo alemão não pára de crescer... Como o japonês, mas esta é uma outra história. 


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