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300914 hidra-de-lernaEsquerda Marxista - [Alex Minoru e Serge Goulart] Para os marxistas o Estado laico, a liberdade religiosa e o fato de que a religião deve ser praticada e financiada apenas por seus próprios apoiadores na esfera da vida privada, são questões que andam juntas, indissociáveis.


Se no fundo da história, no passado, a religião surge como explicação fantasiosa de uma natureza incompreensível, mais tarde ela vai se confundir com o Estado e fazer as vezes de ideologia das classes ou castas dominantes. Isso faz parte da pré-história da grande caminhada da humanidade rumo ao seu máximo e inesgotável desenvolvimento. Hoje, o retorno, ou a ameaça de retorno à essas situações é um inegável mergulho na barbárie, uma marcha à ré destroçando tudo o que de luz e de progresso a humanidade conquistou e construiu.

A igreja católica desempenhou neste sentido um papel notável e desprezível. Desde sua adoção como religião de Estado pelo decadente império romano a religião católica passou a ser usada como instrumento de dominação, pilhagem e conquista. Essa é a história da Idade Medieval, das Cruzadas, da conquista das Américas e da África, do assassinato do genial Giordano Bruno, em 1600, e das perseguições contra todos que buscavam desenvolver a ciência. É o regime dos que ainda hoje negam a teoria da evolução das espécies, de Darwin, combatem pesquisas com células tronco e preferem a morte de milhões de mulheres proletárias do que reconhecer-lhes o direito de aborto em hospitais públicos decentes.

A separação entre a igreja e o Estado foi uma das maiores conquistas da grande Revolução Francesa, de 1789. O programa da revolução francesa, um programa que partia das ideias das "Luzes", do Iluminismo, realizou a separação do Estado da Igreja, a proclamação do Estado secular, a participação popular pelo voto, a instrução pública, estatal e gratuita, o serviço militar generalizado, os direitos da cidadania, o sistema de pesos e medidas decimal, a igualdade dos filhos perante a herança e a igualdade de todos perante a lei, o divórcio, a abolição das torturas e dos castigos físicos, acompanhado do abrandamento das leis penais, os primórdios da emancipação feminina, a extensão da cidadania aos judeus, a condenação da escravidão e a bandeira de que toda humanidade deve viver em liberdade, igualdade e fraternidade.

Foi a mais profunda revolução contra as excrecências feudais existentes e foi onde se conheceu o mais claro surgimento de partidos políticos agrupados sob as bandeiras de um programa social e político. É o nascimento da era moderna capitalista onde a luta política é claramente uma luta de classes e através dos partidos e seus programas, das organizações de classes, se estabelece como democracia. Significou um avanço extraordinário para toda a humanidade.

O atual impasse do sistema de produção capitalista, a época do imperialismo, nos conduz à regressão social e política. Mesmo o que a burguesia estabeleceu como democrático e progressivo nos tempos em que era uma classe revolucionária varrendo o passado e abrindo caminho para o futuro, hoje, tudo está em risco, tudo está sendo demolido, falsificado e esterilizado pela decadência capitalista.

Essa classe que outrora enfrentou os deuses e seus enviados à Terra, os papas, bispos e os reis com sua corte de privilegiados infames, a nobreza, hoje, é a reação em toda linha. Tendo estabelecido seu governo sobre o planeta e assegurado seus privilégios, não teme nada mais que a revolução dos bilhões de desgraçados que ela mantem na escravidão capitalista através do engano, da ameaça e da repressão permanente.

Como um monstro moribundo, tomado pelo câncer e todas as suas horríveis enfermidades congênitas, mas que se recusa a morrer e se debate em estertor, esta classe social chamada de burguesia e seus aliados semifeudais sobreviventes da escuridão da Idade Média, reis, papas, aiatolás, transformados em incontroláveis senhores da guerra, organizam o caos no mundo e mergulham a humanidade na barbárie.

Este é o significado histórico da sobrevivência do capitalismo e suas guerras, seus líderes religiosos buscando restabelecer o controle e a primazia da religião sobre o Estado e empurrando os povos do século 21 a viver como seus antepassados, sob o chicote de deus interpretado pelos oportunistas de plantão, aiatolás, bispos, papas ou os cínicos donos das seitas que pululam sobre o sofrimento e angustia das classes trabalhadoras.

O objetivo final de todos estes obscurantistas é manter ou redividir o botim realizado à custa do sangue e dor de todos os que respiram e ainda tem forças para trabalhar e que produzem todas as riquezas da Terra.

Há inúmeras formas adotadas por esta enfermidade do capitalismo, como um vírus mutante que se aloja, instala a dor e o caos e leva, mais cedo ou mais tarde, todo o organismo à metástase e à morte.

É o caso do Estado sionista de Israel, um Estado religioso e racista, criado para defender os interesses imperialistas no Oriente Médio. As teocracias islâmicas, como a Arábia Saudita, nada mais são do que defensoras dos interesses capitalistas. No Irã, uma revolução popular em 1979 foi desviada para a constituição de um República Islâmica, que salvou o capitalismo e segue oprimindo o povo. A Revolução Egípcia percebeu rapidamente a armadilha de um regime islâmico e 17 milhões de pessoas foram às ruas e puseram para correr o presidente Mohammed Morsi e a Irmandade Muçulmana do poder.

O Estado Islâmico

Para seguir sua dominação, a burguesia fomenta as divisões étnicas e religiosas entre os povos. É a velha tática de dividir para reinar.

O grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que tem ganhado repercussão com a conquista de regiões da Síria e do Iraque, é fruto direto dessa política.

O Estado Islâmico (EI) só ganhou terreno por conta das décadas de guerras e exploração imperialista, que criaram a decomposição social, a miséria e fomentaram as disputas étnicas e religiosas. Os EUA, inclusive, ajudaram a armar o EI quando ele servia aos seus interesses contra Bashar al-Assad, na Síria.

A burguesia imperialista é tão hipócrita que sem nenhum problema se horroriza quando um alucinado membro do Estado Islâmico degola um jornalista norte-americano ou um inglês. Não deveriam se horrorizar. Eles ensinaram a fazer isso.

Não é o que fazia o nobre rei Leopoldo II, da Bélgica, com as amputações sistemáticas de mãos e pés dos dominados congoleses? Com as matanças de congoleses como se fosse uma caçada?

Não foi o que fez sua majestade britânica nos países em que dominou arrancando o sangue e a alma dos povos além de suas cabeças?

Os fiéis súditos a serviço de sua majestade britânica nos tempos modernos de dominação da Malásia, em 1952, cortavam cabeças e divulgavam as fotos. O governo da rainha britânica utilizava os Ibans Dayak, caçadores de cabeças malaios, para fazer o serviço em grande escala. Sim, em 1952, não em séculos passados. E isso era defendido pela imprensa burguesa abertamente. O jornal The Daily Telegraph (http://www.telegraph.co.uk/) publicava que os Dayaks seriam "excelentes lutadores na selva da Malásia, e seria absurdo se a opinião pública desinformada se opusesse à sua utilização".

O Escritório Colonial de sua majestade também dizia que, além de decapitação, "outras práticas podem ter crescido, principalmente em unidades que empregam Dayaks, que proporcionam fotos feias". Eis uma fleumática "foto feia":

Assim, só um tolo pode levar a sério a "indignação" de Barack Obama, depois do Vietnam, de Guantánamo, de Abu Ghraib, das bombas de napalm, de fósforo, ah, é claro, e de Hiroshima e Nagasaki.

As fotos na prisão de Abu Ghraib comandada pelo general Karpinski falam por si só de quem ensinou o que a quem. Um perfeito modelo de "libertação" do povo do Iraque.

Alguém pode acreditar nas lágrimas de crocodilo usadas para "gastar" bombas e artilharia paga com dinheiro público na Síria contra o Estado Islâmico?

A que foi reduzida a Somália após a intervenção militar imperialista? E o Afeganistão? O Iraque? A Líbia? A Síria?

É o terror e a barbárie que o imperialismo espalha no Oriente Médio, na África e no mundo. A ditadura de Pinochet, instalada em 11 de setembro de 1973, no Chile, orientada, organizada, apoiada pela CIA e a grande democracia de Washington, começou assim, segundo o relato do jornalista brasileiro Paulo Cannabrava, a partir de relatos de quem esteve lá:

"Victor Jarra, grande cantor popular chileno, foi cruelmente assassinado nos primeiros dias da ditadura instaurada pelos militares liderados por Augusto Pinochet em 1973. O crime aconteceu no Estádio Nacional que servia de prisão para milhares de militantes.

Em um dado momento, Victor desceu para a plateia e se aproximou de uma das portas por onde entravam os detidos. Ali topou – cara a cara – com o comandante do campo de prisioneiros que o olhou fixamente e fez o gesto mimico de quem toca violão. Victor assentiu com a cabeça, sorrindo com tristeza e ingenuidade. O militar sorriu, contente com sua descoberta.
Levaram Victor até à mesa e ordenaram que pusesse suas mãos em cima dela. Rapidamente surgiu um facão. Com um só golpe cortaram seus dedos da mão esquerda e, com outro, os da mão direita. Os dedos caíram no chão de madeira, ainda se mexendo, enquanto o corpo de Victor se movia pesadamente...

Depois choveram sobre ele golpes, pontapés e os gritos: 'canta agora... canta...', a fúria desencadeada e os insultos soezes do verdugo ante um 'alarido coletivo' dos detidos...
De improviso, Victor se levantou trabalhosamente e, com o olhar perdido, dirigiu-se às galerias do estádio... fez-se um silêncio profundo. E então gritou:
- Vamos lá, companheiros, vamos fazer a vontade do senhor comandante.

Firmou-se por alguns instantes e depois, levantando suas mãos ensanguentadas, começou a cantar em voz ansiosa o hino da Unidade Popular (Coligação de partidos de esquerda que apoiavam o governo de Allende), a que todos fizeram coro...
Aquele espetáculo era demasiado para os militares. Soou uma rajada e o corpo de Victor começou a se dobrar para a frente, como se fizesse uma longa e lenta reverência a seus companheiros. Depois caiu de lado e ficou ali estendido".

Mas, para além dos vídeos com ameaças e decapitações, quem tem sofrido com o terror cotidiano no Oriente Médio é a população dos territórios dominados por estes grupos armados pelos EUA, Inglaterra e França, Arábia Saudita, Qatar e outros. Nessas áreas a instituição de um Califado, o Estado Islâmico, governado pelo califa Abu Bakr al-Baghdadi, suposto sucessor de Maomé, é só uma expressão medieval que mostra para onde conduz a guerra e a invasão imperialista "civilizada". No califado do Estado Islâmico vigora a Sharia, a lei religiosa muçulmana.

Uma face do caráter extraordinariamente reacionário desse grupo aparece nas imposições de currículo escolar. Em Mossul, no Iraque, foi proibido o ensino de música, literatura e da Teoria da Evolução, de Darwin. Em Raqqa, na Síria, filosofia e química foram retiradas do currículo. Tudo isso em meio a execuções em massa de distintos grupos étnicos e religiosos.

Agora, uma nova incursão imperialista está em marcha no Iraque. Já se iniciaram bombardeios aéreos patrocinados pelos EUA, e apoiados pelo Reino Unido e França. Os EUA passaram a financiar outros grupos na Síria para combater o EI. Mas, nada será resolvido pelos que construíram esse caos. Apenas mais caos e sofrimento, desagregação pode surgir daí.

Brasil

E porque o Brasil não seria tocado por esta tragédia histórica?

A igreja católica sempre exerceu influência sobre os parlamentares e governantes. Foi uma das instituições auxiliares para o golpe de 64. Com o fim da monarquia e a proclamação da República, em 15 de Novembro de 1889, o Estado se separa da igreja e em 7 de janeiro de 1890, o Governo provisório publica um decreto da separação da Igreja e do Estado, proibindo no art. 1º, ao Governo Federal fazer leis, regulamentos ou atos administrativos sobre religião, e abolindo no art. 4º o padroado (direito que a Santa Sé delegava aos monarcas católicos de administrar e organizar a Igreja Católica em seus domínios conquistados e por conquistar), com todas as suas instituições, recursos e prerrogativas.

A separação do Estado e da Igreja no Brasil é um princípio da república brasileira e o Estado é laico desde a Constituição de 1891. Isso está reafirmado na atual Constituição Federal de 1988 que reafirma essa separação no art.19.

Mas, tudo isso vai se tornar letra morta se o ataque obscurantista das religiões, embaladas pela situação de degradação social e política causada pela continuidade do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção, não for barrado em todas as frentes.

Se a igreja católica continua sua pressão de forma mais discreta, as igrejas evangélicas, como expressão de seitas degeneradas da corrente principal, esbanjam cinismo e sua atitude é aberta e chocantemente provocativa. Estão em guerra aberta contra o estado laico e trabalham dia e noite para estabelecer os seus califados no Brasil.

Um pastor é candidato a presidente da república, milhares de bispos e pastores são candidatos em todos os níveis e se apresentando assim, como enviados do evangelho para salvar a humanidade do fogo do inferno. Pastores dos mais reacionários, como Silas Malafaia, guiam seus fiéis nas escolhas eleitorais e ditam ou influenciam a linha política de candidatos, como Marina Silva. Mas, também de Dilma Rousseff. Uma igreja, a Universal do Reino de Deus, está em seus cultos e atividades religiosas organizando um partido político (o PRB). É o obscurantismo que mostra toda a sua cara.

O dever de combater abertamente estas expressões bárbaras da sociedade, de explicar a catástrofe social que significam, as ameaças que contem, é uma tarefa absolutamente necessária para os marxistas se querem um dia vencer a guerra de classes.

Educar o proletariado e a juventude na compreensão de que religião é uma questão privada e que é inaceitável que se torne uma orientação para a vida através do Estado, que governe ou tente influenciar a vida política, é essencial para o futuro da revolução e da construção de uma força política revolucionária.

A burguesia abandonou no passado suas virtudes revolucionárias. Hoje, se dedica a demolir mesmo o que ela própria construiu e estabelecer o caos e a dor. O proletariado e a juventude não podem permitir este luxo à esta classe dominante decadente e sem futuro algum.

É nosso o privilégio de demolir tudo o que resta do feudalismo na sociedade capitalista, de demolir todas as instituições reacionárias que a burguesia forjou para sua dominação. É nosso o privilégio de enterrar esta sociedade agonizante e abrir caminho para as verdadeiras Luzes que tornarão o mundo e os horizontes da vida tão coloridos e infinitos que o oceano vai se abrir para que passe o futuro.

Socialismo ou barbárie

Tanto no Brasil, como no mundo, o crescimento da religião sobre a política, além de ser uma face da decadência do capitalismo, é consequência direta da crise de direção do proletariado. A classe trabalhadora, com uma direção revolucionária de massas, não se deixa levar pelo palavreado de igrejas e líderes oportunistas. A classe consciente sabe que o mundo não é divido entre fiéis e infiéis, entre bons e maus, mas entre burgueses e proletários, e que a luta que pode mudar a vida é a luta contra a burguesia e seu sistema.

O capitalismo joga com a vida dos povos ao redor do mundo para manter o seu domínio. Só uma revolução encabeçada pela classe trabalhadora que exproprie os exploradores colocará fim aos últimos resquícios medievais existentes, ou que nos ameaçam, e abrirá caminho para uma sociedade verdadeiramente livre, fraterna e igualitária, que permita o desenvolvimento da humanidade.

Mais do que nunca a questão é: socialismo ou barbárie.


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