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140914 scottishEscócia - Carta Maior - [Marcelo Justo] A poucos dias do referendo sobre a independência da Escócia, o Reino Unido está à beira de um ataque de nervos. 


Na Escócia, os eleitores estão divididos ao meio entre o campo do "Sim" e o do "Não", enquanto na fleumática Inglaterra convidam para balançar as bandeiras britânicas a fim de convencer os vizinhos, pedem a intervenção da rainha Elizabeth II, e as ações de bancos e empresas e a libra esterlina caem. Em um gesto desesperado, os líderes dos três principais partidos britânicos – os Conservadores, do primeiro-ministro David Cameron, os liberais-democratas e os Trabalhistas - viajaram nesta quarta-feira (10) à Escócia para convencer o eleitorado a permanecer na união.

As pesquisas marcam há duas semanas um forte ressurgimento da intenção de voto a favor da independência. No domingo, chegou ao clímax quando uma sondagem deu uma leve vantagem ao sim. Assim, a coalização conservadora liberal-democrata liderada por David Cameron saiu prometendo que se a Escócia votasse a favor da permanência na união com a Inglaterra, consagrada há mais de 300 anos, obteria uma autonomia muito maior do que a atual, equivalente virtualmente a um federalismo nos moldes dos Estados Unidos.

Em uma clara afirmação de que a continuidade do Reino Unido (Inglaterra, Escócia e País de Gales) é uma "política de Estado", a oposição trabalhistas transmitiu a mesma mensagem. Seu líder, Ed Miliband, convocou os ingleses para sacudir as bandeiras britânicas, enquanto o ex-premiê trabalhista Gordon Brown, escocês de nascimento, saiu em caravana para persuadir o eleitorado com um plano ultrafederalista de 10 pontos, que seria iniciado um dia após o referendo.

O apoio dos trabalhistas é fundamental. Os conservadores e liberais democratas somaram 17% dos votos nas últimas eleições na Escócia. O premiê David Cameron cultivou um perfil mais tranquilo na campanha porque os conservadores se transformaram em uma marca tão tóxica que são uma das principais armas da campanha do "Sim": a caracterização "posh" de Cameron bastaria para convencer muitos. Como disse o líder do Partido Nacionalistas Escocês, Alex Salmond, a visita de Cameron à Escócia é um ato a favor da independência. E não apenas por uma questão de distinção e arrogância. O Partido Nacionalista Escocês levou adiante uma muito exitosa campanha para convencer os escoceses de que a única maneira de se libertarem dos conservadores é votando pela independência e que o estatal Serviço Nacional de Saúde, dizimado pela coalizão, estaria salvo apenas se a Escócia se separasse.

Em contrapartida, a mensagem do "não" à independência foi negativa e complacente, antecipando uma sorte do apocalipse econômico ou destacando as enormes dificuldades que representa. Estas dificuldades existem, sem dúvidas.

Uma das mais óbvias é que divisa usaria uma Escócia que administra a libra esterlina desde a união com a Inglaterra em 1707. Igualmente complexa é a questão da dívida pública britânica: se a Escócia se tornar independente, quem se responsabilizará da dívida acumulada pela instituição Inglaterra-Escócia-País de Gales?

Outro ponto do debate é o petróleo. Desde que em 1964 o governo britânico outorgou as primeiras licenças para extração de petróleo e gás, a indústria investiu mais de 700 bilhões de dólares e o Tesouro britânico recebeu cerca de 350 bilhões de dólares em seus cofres. O impacto não foi apenas econômico. Politicamente, foi decisivo para o êxito de Margaret Thatcher, que chegou justamente para se beneficiar da exploração, mas também para o crescimento do Partido Nacional Escocês, que passou a ser uma força inexistente nos anos 1950 (aproximadamente 1% do eleitorado) a uma minoria de peso nos anos 1970 (11% dos votos) e uma maioria nas eleições autônomas de 2011 (46%).

O SNP disse que vai custear a independência com uma recuperação dos ganhos do petróleo e a conformação de um Fundo Soberano para administrar seus benefícios. Em 2010, a Escócia forneceu 67% da demanda de petróleo britânica e 53% da do gás, mas atualmente, os campos do Mar do Norte se encontram entre os menos rentáveis do mundo e as reservas a serem descobertas exigirão um investimento gigantesco.

Os estudos técnicos a respeito dão resultado segundo a nuance com a qual se olha. Em Londres, estima-se que no final da década os ganhos tributários do Mar do Norte vai cair pela metade, enquanto um estudo financiado pela campanha do "Sim" mostra que esses ganhos poderiam ser seis vezes mais altos.

O impacto político de um "Sim" é imprevisível. O primeiro-ministro David Cameron disse que não renunciará, mas que sua posição política ficará muito enfraquecida.

O nome completo de seu partido é "Conservative and Unionist Party": a "unionist"do título deverá ser ratificada por um referendo que ele mesmo convocou.

As coisas não são mais promissoras para os trabalhistas. A Escócia esteve sempre muito à esquerda da Inglaterra e votou pelo trabalhismo até o embate Blair-Brown e guerra no Iraque, quando se inclinou para os nacionalistas. Dadas as peculiaridades do sistema eleitoral britânico, as possibilidades de ganhar dos trabalhistas nas eleições de maio seriam muito afetadas. Por fim, a negociação de uma separação levará tempo. "Não se conseguirá da noite para o dia e vai exigir uma negociação árdua. Sequer pode se descartar que o resultado desta negociação deva ser submetido a outro referendo. Enquanto isso, muitas regiões da Inglaterra, de Manchester a Londres, estão se perguntando por que não podem ter a autonomia que o governo está oferecendo aos escoceses para que não rompam a união com a Inglaterra e País de Gales", afirmou o colunista do jornal vespertino "Evening Standard" Anthony Hilton.

Tradução: Daniella Cambaúva


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