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kkeGrécia - Opera Mundi - [Roberto Almeida] Giorgos Marinos, dirigente do KKE, afirma que as medidas de austeridade estão "cada vez mais perigosas".


O Partido Comunista da Grécia (KKE, na sigla em grego) saiu da última turbulenta eleição parlamentar, em junho de 2012, com 12 cadeiras e o princípio de atacar o "imperialismo da União Europeia" e de rechaçar a coalizão de esquerda Syriza, que cresceu 300% e hoje tem a segunda maior bancada na Casa.

Por uma política antiausteridade, o partido mobiliza o seu braço sindical, o PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores), que leva às ruas de Atenas dezenas de milhares de pessoas. Os gritos pedem união do povo grego e desobediência à troika - composta por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI (Fundo Monetário Internacional).

Em entrevista a Opera Mundi, Giorgos Marinos, dirigente do KKE, afirma que as medidas de austeridade impostas pela troika estão "cada vez mais perigosas" e lamenta a ascensão do partido de extrema-direita Aurora Dourada, que hoje detém 18 cadeiras no Parlamento. "O populismo dessa gangue fascista, que alimenta o racismo e explora a miséria, está ganhando terreno de várias maneiras", disse.

Para Marinos, a Syriza, que pode se beneficiar de eventuais novas eleições e assumir o poder, não dará a resposta ideal para a crise. "Ele [o partido] zomba do povo, cultivando falsas expectativas para entrar no governo e fazer o que outros partidos social-democratas fizeram quando ganharam o voto popular: governaram e se provaram defensores fanáticos dos interesses do capital", afirmou.

OM: Como o senhor analisa a pesquisa recente, em que apenas 11% dos gregos acreditam na democracia praticada no país? De quem é a culpa?

Giorgos Marinos: Não podemos levar todas as pesquisas de opinião a sério. Muitas servem a determinados interesses políticos. Na prática, milhares de trabalhadores e trabalhadoras, forças populares e a juventude estão lutando diariamente por seus direitos, por direitos democráticos e liberdades sindicais, especialmente nos locais de trabalho, onde há intimidação dos empregadores.

Claro que há indignação. A responsabilidade dos partidos burgueses é grande, partidos estes que defendem a linha política da União Europeia. Essa linha política anti-povo causa indignação até mesmo entre as forças populares que votaram pelos partidos burgueses e agora estão arrependidas.

Nosso partido diz abertamente à população que a indignação não é suficiente, e que pode ser vulnerável ao populismo e a slogans perigosos das forças fascistas e de extrema-direita do Aurora Dourada, que a usa de forma demagógica e brinca com a ansiedade do povo.

OM: Qual avaliação o senhor faz do governo do premiê Antonis Samaras?

GM: O governo de três partidos [Nova Democracia, de centro-direita, PASOK e Esquerda Democrática, de centro-esquerda] e o primeiro-ministro Samaras [do Nova Democracia] são defensores dos interesses do capital, defensores da OTAN e da União Europeia. É um meio para a escalada de duras medidas anti-povo, que se tornarão cada vez mais perigosas.

OM: O KKE acredita que a coalizão governista vai conseguir implementar as leis e cortes propostos pela troika? Os gregos irão obedecer?

GM: O KKE luta para que as medidas anti-povo não sejam implementadas. Nosso partido luta para derrubar essa linha política e o poder burguês. Consequentemente, prevenir a aplicação dessas medidas criará o palco para um grande confronto. O resultado será avaliado pelo nível da luta de classes, se a luta dos trabalhadores estará alinhada com a ruptura do grande capital ou com a derrubada da linha política anti-povo.

OM: O senhor vê chances de novas eleições parlamentares no país em breve?

GM: A política anti-povo está provocando uma série de intensos protestos populares, as dificuldades para gerenciar a crise capitalista estão se multiplicando e as contradições imperialistas na eurozona e na União Europeia estão mais presentes. Nessas condições, novas eleições podem ser chamadas e nosso partido está pronto para essa eventualidade.

OM: Uma pesquisa mostra que, em caso de novas eleições, o partido Aurora Dourada [de extrema-direita] seria o terceiro maior do Parlamento [atrás do Nova Democracia, de centro-direita, e da Syriza, coalizão de esquerda]. Como o senhor vê esse crescimento?

GM: O KKE não subestima esse fenômeno. É óbvio que em condições de uma crise profunda e o aumento da pobreza, o populismo dessa gangue fascista, que alimenta o racismo e explora a miséria, está ganhando terreno de várias maneiras.

Temos clareza de que as formações fascistas são criações de um sistema de exploração, do capitalismo e de seus mecanismos, e recebem apoio de um Estado burguês, com ligações próximas com o Exército e as forças de segurança.

Nosso partido tem uma vasta experiência e luta contra essa gangue fascista, que louva Hitler e os ditadores gregos do período de 1967-1974. O KKE sistematicamente informa o povo sobre isso e tenta encorajar o isolamento do Aurora Dourada, para que o movimento trabalhador lide com eles de maneira massiva e bem determinada.

O movimento trabalhador organizado e a liderança dos comunistas podem arruinar os planos das forças do sistema, que alimentam e apoiam essa monstruosidade fascista para que ela ataque as forças populares.

OM: Há muitos imigrantes participando de demonstrações do PAME [Frente Militante de Todos os Trabalhadores, sindicato ligado ao KKE]. O KKE tem uma estratégia para atrair imigrantes para o partido?

GM: O KKE historicamente encara o problema dos imigrantes sob um único princípio, tratando-os como parte integrante da classe trabalhadora, luta para que eles tenham direitos plenos e insiste para quem organizem sindicatos, para que participem da luta ao lado dos trabalhadores gregos. Apesar de todas as dificuldades, já há um bom número de imigrantes próximos ao PAME a outros sindicatos de classe e alguns foram eleitos como lideranças.

Ao mesmo tempo, imigrantes militantes com experiência em luta de classe estão se aproximando do KKE, ligados ao partido, lutando conosco para estreitar esses laços, para que se tornem mais sólidos.

OM: O partido reconhece a dívida financeira do país?

GM: A dívida não foi criada pelo povo, que não tem responsabilidade sobre ela. A plutocracia criou a dívida, assim como a linha política dos partidos burgueses, que serviram aos seus próprios interesses. A dívida foi criada por uma política de financiar o grande capital, de isenção fiscal para grandes negócios, de grandes volumes de dinheiro para as necessidades da OTAN. Foi também como consequência da entrada da Grécia na União Europeia à custa de setores básicos da indústria e da redução da produção agrícola.

Nosso partido convoca a população a não aceitar qualquer sacrifício pela crise, pela dívida ou pela plutocracia e desempenha um papel de liderança no desenvolvimento da luta de classes com demandas, com objetivos que respondam às necessidades da classe trabalhadora e das famílias, sublinhando que o objetivo principal é o contra-ataque da população para a derrubada do poder dos monopólios.

É óbvio que não há um gerenciamento pró-povo da crise capitalista e do sistema de exploração que a sustenta. A crise é uma crise do modo de produção capitalista, a crise de um capital acumulado em excesso que não está sendo utilizado porque não resulta no lucro desejado pelos capitalistas. Isso significa que as posições da burguesia e dos defensores oportunistas do sistema, que alegam que a crise é culpa do neoliberalismo e que é uma crise da dívida, não têm qualquer relação com a realidade. Essas posições tentam eximir o capitalismo e prender a população em uma fórmula de gerenciamento anti-povo da crise, que não fira o sistema.

É precisamente o que a Syriza está fazendo na Grécia. Ela se apresenta com um discurso de esquerda, mas na prática é uma força que opera dentro do padrão do sistema. Como o partido apoia o imperialismo da União Europeia e está comprometido com sua estratégia anti-povo, ele apoia o poder dos monopólios e a propriedade capitalista dos meios de produção.

Consequentemente, em essência, ele zomba do povo, cultivando falsas expectativas para entrar no governo e fazer o que outros partidos social-democratas fizeram quando ganharam o voto popular: governaram e se provaram defensores fanáticos dos interesses do capital e do sistema explorador.

Sublinhamos isso porque temos certeza que a Syriza esconde e distorce a verdade especialmente quando fala com trabalhadores no exterior. Ela esconde que é apoiada pelos grandes grupos de monopólio da Grécia, que defende a linha política de Barack Obama em sua competição com a Alemanha, que secretamente tem reuniões com o presidente de Israel, Shimon Peres, e que como esquerda no governo irá de maneira consistente se transformar em um defensor do capitalismo sem pretextos.

OM: O que o KKE propõe para resolver a crise?

GM: A proposta política do KKE é baseada na organização sólida da classe trabalhadora e em sua aliança com os estratos mais oprimidos da população, e prevê a derrubada do poder do capital, a derrubada do capitalismo. Isso quer dizer que o partido prevê a classe trabalhadora no poder, a socialização dos meios de produção - riquezas minerais, energia, telecomunicações, transporte, etc - a criação de cooperativas de produtores para pequenos agricultores, um planejamento central para o desenvolvimento da economia e o controle social dos trabalhadores, para que eles tenham voz ativa.

Essa proposta política prevê um confronto e uma ruptura com a OTAN e a União Europeia, o cancelamento unilateral da dívida e o desenvolvimento de relações entre Estados que produzam benefícios mútuos.

A proposta requer conflito com os grandes interesses, demanda sacrifícios, mas é uma resposta que tem como ponto de partida os interesses da classe trabalhadora, dos agricultores empobrecidos, das camadas populares mais pobres e da juventude popular. É a resposta do KKE do ponto de vista dos interesses das forças populares, que enfrentam um surto de desemprego - há mais de 1,5 milhão de desempregados na Grécia - pobreza e inabilidade para resolver seus problemas básicos.

OM: Qual a prioridade para 2013?

GM: É a organização da luta do povo contra medidas anti-povo, contra a linha política do governo ND-PASOK-Esquerda Democrática, da União Europeia e das forças do capital. Vamos impulsionar um movimento de massa com forte assertividade pelo direito de trabalhar, pela proteção dos desempregados, por salários, aposentadorias, saúde pública e educação.


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