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AblaSaadat PatriciaBenvenutiPalestina - Brasil de Fato - [Patrícia Benvenuti] Esposa do militante Ahmad Sa'adat, Abla Sa'adat relata dificuldades dos presos políticos palestinos e sua luta por liberdade.


Há mais de dez anos, a palestina Abla Sa'adat (foto) divide seu tempo entre a chefia da família e de uma campanha em favor da libertação dos presos políticos palestinos. Ambas as funções foram impulsionadas pela prisão do marido, Ahmad Sa'adat, um dos 4,8 mil palestinos atualmente detidos em prisões israelenses. Ahmad Sa'adat, 59 anos, é secretário- geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP) e está encarcerado desde 2002, acusado de planejar o assassinato do então ministro do Turismo israelense Rehavam Ze'evi em 2001.

Sa'adat foi condenado a 30 anos de prisão por Israel sem sequer ser julgado. "Estamos falando de uma detenção que não foi julgada frente a um tribunal formal", ressalta Abla Sa'adat. Presidenta da Campanha de Libertação dos Cárceres Israelenses e membro da União dos Comitês de Mulheres Palestinas (UPWC), Abla Sa'adat esteve no Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), realizado entre 28 de novembro e 1º de dezembro em Porto Alegre (RS), onde participou de diversas atividades. Em todas, destacou a dificuldade de conduzir a família sem o pai há mais de uma década – drama vivido por muitas esposas de presos políticos e viúvas. "Quando o pai da família é preso ou morto, é a mulher que tem que continuar. E o meu é só um entre tantos casos palestinos".

Abla reiterou ainda que, apesar de todas as torturas já sofridas, seu marido nunca apresentou informações contra seus companheiros. "Ele é um grande ser humano, e o que queremos é viver com liberdade, com nossas crianças que foram criadas sem o pai", diz. O casal possui quatro filhos, dois homens e duas mulheres. Sa'adat, porém, não vê os filhos há sete anos. Eles não podem visitá-lo pois não possuem cidadania de Jerusalém.

Dos 4,8 mil presos políticos palestinos, segundo Abla, 13 são mulheres e 250 crianças, que recebem o mesmo tratamento concedido aos adultos. De acordo com a Associação de Direitos Humanos e Apoio aos Presos (Addameer), desde 2000, mais de oito mil crianças palestinas foram detidas em cárceres de Israel.

Além das detenções ilegais, Abla destaca os maus-tratos a que os presos são submetidos. Em geral, são obrigados a ocupar celas pequenas, sujas e mal ventiladas; não recebem cuidado médico adequado; são vítimas de agressões, humilhações e torturas em interrogatórios. Um dos aspectos mais graves, para ela, é o isolamento imposto aos presos e a dificuldade para que recebam visitas de suas famílias. Houve casos, relata, de prisioneiros que ficaram duas décadas sem se encontrar com seus parentes. Leia, a seguir, trechos da entrevista de Abla Sa'adat ao Brasil de Fato:

Brasil de Fato – Qual a relação de Sa'adat com a família hoje, vocês conseguem visitá-lo?

Abla Sa'adat – Atualmente ele [Ahmad] está preso em uma das cadeias de Israel chamada Hadarim. Nós, como familiares, estamos proibidos de visitá-lo. Só eu posso visitá-lo pois tenho a cidadania e a identidade de Jerusalém. Nossos filhos, por terem a identidade da Palestina, não podem visita-lo. Faz sete anos que ele não vê nenhum dos filhos.

Quais as condições das prisões para onde são levados os presos políticos palestinos?

Os presos políticos palestinos estão em prisões divididas, ou seja, a própria cadeia possui divisões. Para castigar o preso e seus familiares, para que sofram, eles [israelenses] colocam os presos palestinos no extremo sul quando a família é do extremo norte. Quando sai a permissão para visitar o preso, é um enorme sofrimento para os familiares conseguirem fazer isso. Há cinco cadeias centrais, e nessas cadeias ficam os presos que já estão condenados. Todas as cadeias centrais estão concentradas no sul de Israel, no deserto de Naqab, onde o calor é enorme e as condições são precárias.

Os mesmos métodos são usados nas cadeias onde estão os presos detidos para interrogatórios. Eles colocam os presos do sul no norte só para castigar os familiares.

Quantos são os presos políticos hoje?

Hoje há 4,8 mil presos, mas esse número aumenta todo o dia porque eles estão prendendo diariamente. Desses, 13 são mulheres. Também há 250 menores de idade. Tem crianças de apenas dez anos presas. Anualmente, eles prendem cerca de 600 crianças, que entram e saem das prisões. Elas são tratadas como adultos, eles os colocam em celas individuais, castigam, fazem interrogatório, batem, humilham. Isso influencia muito em seu comportamento no futuro, porque são crianças ainda.

Como é o tratamento concedido às mulheres?

Quando fui presa em 1987, o interrogatório das mulheres acontecia da mesma forma como o interrogatório dos homens. Fui colocada em uma cela solitária, de um metro quadrado, nas piores condições, sem janelinha ou qualquer tipo de ventilação, sempre suja e escura. Às vezes o vaso sanitário fica do lado do colchão, e às vezes algumas celas individuais nem têm banheiro, é um só para todas as celas. Para usar o banheiro tem que pedir licença, e depende de a pessoa responsável querer ou não liberar o banheiro. Às vezes você fica dois dias sem usar o banheiro. Eles colocavam um saco preto sujo até minha cintura, e amarravam meus braços em uma cadeira ou em um poste. Sofro dores em minha coluna até hoje por causa desse tratamento. Eles não fazem diferença entre mulheres, crianças e homens. Todos são tratados da mesma forma e todos são levados para o interrogatório da mesma maneira.

Com essa humilhação, o objetivo é quebrar a resistência do cidadão palestino. Quando ele entra na cadeia, a primeira coisa que tem que fazer é enfrentar isso, e é um impacto. É uma tentativa de que ele desabe já na entrada ou confesse alguma coisa.

Qual o significado da decisão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em 29 de novembro, que reconheceu o Estado palestino?

Qualquer decisão em favor da causa palestina é um ganho político internacional. Consideramos isso uma realização, fruto da luta do povo palestino, inclusive a ida de Mahmoud Abbas [presidente da Autoridade Nacional Palestina] para a ONU ocorreu depois da vitória palestina na Faixa de Gaza. Esse é um dos passos iniciais e a essa aprovação fortalece outras resoluções. Isso serve para deixar a ONU consciente de que existe, de fato, o direito do povo palestino. Entendemos que não há solução da causa palestina sem ser por meio da luta ou das resoluções da ONU.

O que você espera do Brasil? Como o povo e o governo brasileiros podem ajudar a causa palestina?

Quero falar primeiro do povo brasileiro. Eu respeito muito esse povo. O seu apoio para a causa palestina não significa menos do que a luta do povo palestino. A gente leva muito em consideração esse apoio, que para nós é sagrado. Consideramos o governo brasileiro amigo do governo palestino e desejamos que o apoio do governo em relação à causa palestina seja exatamente na mesma medida do apoio que vem do povo. Mas achamos que o governo brasileiro tem que determinar qual é sua relação com o governo de Israel, inclusive porque há comércio entre os dois países.


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