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020812 juanitoEstado espanhol - Cronopiando - [Koldo Campos Sagaseta, tradução do Diário Liberdade] Alguns meios de comunicação, a falta de melhores surpresas ante os que mostrar seu estupor, se fizeram eco em relação à equipe de basquetebol da Nigéria do que consideram algo inaudito: "A Nigéria jogará com 9 estadunidenses".


Foto: Ho Zhi Wen, 'Juanito', jogador chinês de tênis de mesa, faz parte da maioria de jogadores não espanhóis que integram a equipe olímpica do Estado espanhol.

Só três jogadores, sublinhavam em seus títulos de imprensa, nasceram no país africano. E isso não obstante as declarações de Ike Diogu, o considerado melhor jogador nigeriano, que assinalava: "Estou farto de ouvir sempre o mesmo. Todos temos pais nigerianos, pensamos como nigerianos, comemos alimentos nigerianos e nos sentimos nigerianos."

Se quiserem procurar motivos para seu assombro, bem poderiam ficar surpreendidos de um dado bem mais chamativo e dramático, como a existência, por exemplo, a mais médicos nigerianos trabalhando nos Estados Unidos que na própria Nigéria.

Porém, se os Jogos Olímpicos e o desporto servem de desculpa para não entrar em detalhes doutra natureza, e dado que esses meios que apelavam à troça para destacar a citada notícia, eram espanhóis, bem poderiam se ter entretido em ressaltar um outro fato ainda mais chamativo: Mais da metade dos integrantes da delegação esportiva espanhola, não são espanhóis. Basta para comprová-lo restar-lhes aos 282 desportistas totais os 82 catalães, 31 bascos e 10 galegos, além dos quase 30 cubanos, romenos, marroquinos, congoleses, mexicanos, suíços, chineses, franceses, equatorianos, brasileiros, ucranianos, sérvios e dominicanos que concorrem como espanhóis.

Em alguma disciplina esportiva é tão notoria esta presença que nem sequer fica espaço para os "nativos" espanhóis. Os dois únicos desportistas espanhóis que concorrem em boxe são dominicanos; em judô, metade dos atletas são bascos; em natação, sobre 14 atletas, só 3 são espanhóis, por 8 catalães, 2 galegos e um brasileiro; em águas bravas os dois únicos atletas são bascos; em polo aquático, sobre 26 jogadores, só 6 são espanhóis, por 16 catalães, um cubano, um romeno, um brasileiro e um mexicano; em andebol, de 28 jogadores, 9 são espanhóis, por 13 catalães, 4 bascos, um congolês e um romeno; em natação sincronizada são mais os catalães (5) que os espanhóis (4); em canoagem são mais os vascos (1) e galegos (2) que os espanhóis (2); em futebol, só 6 são espanhóis por 5 catalães, 5 bascos, um galego e um brasileiro; em hoquei na grama, dos 16 integrantes da equipe 14 são catalães; em tênis de mesa, além de um espanhol, também figuram um ucraniano e dois chineses; em atletismo figuram 7 catalães, 2 galegos, 1 basco, 3 cubanos, 2 marroquinos, 1 equatoriano, 1 suíço e 1 ucraniano.

Não deixa de ser engraçado que a Zhi Wen, representante espanhol em tênis de mesa, o apelidem "Juanito", o mesmo carinhoso apelido que ganhou aquele inesquecível esquiador alemão chamado Johan Muehlegg, que faz uns quantos anos, zangado com sua federação, mudou sua cidadania para debutar como olímpico espanhol portando, inclusive, a "rojigualda" nas Olimpiadas de Inverno daquela.

Depois de conseguir a primeira medalha, quem já era conhecido como Juanito, mais espanhol que o "botijo" ou o presunto ibérico, aparecia em qualquer capa de revista ou canal de televisão cantando "bulerías" flamencas  de capote toureiro na mão. Depois da segunda medalha, a Juanito não podia ser mais louvado: "Juanito o Grande", "Juanito o Magnífico". Cidades e autonomias espanholas disputavam-se a glória de o nomear "filho adotivo", "cidadão meritório", "pai exemplar". Foi eleito "paellero" valenciano do ano, rei da "Fava" (asturiana) até que no quinto dia de competição Juanito foi desqualificado por dopagem e foram lhe retiraradas as medalhas. Nunca se voltou a saber de Johan Muehlegg.

Quem no Estado espanhol se empenha em ver na figura do imigrante a causa e razão de todas as calamidades, bem faria em refletir, caso que ainda disponha de cérebro, sobre as variáveis de algumas percentagens relacionadas com os imigrantes, porque enquanto no Estado espanhol mal ultrapassam os 5%, triplica a percentagem de estrangeiros que vestem a t-shirt espanhola para ganhar medalhas olímpicas e ainda é maior a percentagem de estrangeiros que vestem o uniforme espanhol para ganhar medalhas militares. Quem sabe se não serão as mesmas medalhas que os latino-americanos obtêm representando a Espanha correndo ou saltando mais que ninguém, as mesmas que lhes são devolvidas a seus familiares, depois de darem sua vida nas guerras humanitárias da "mãe pátria" (como é conhecida, ironicamente, Espanha nas ex-colônias americanas).


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