De caminho para a segunda autonomia curda? O Curdistão ocidental (isto é, o território curdo de Síria) começou a cair nas mãos da guerrilha curda das Unidades de Defesa Popular (YPG, pelas suas siglas em curdo), que desde o final da semana passada está a tomar o controle total de várias localidades. Até agora, o regime de Bashar Al-Assad mantinha algum tipo de presença. Agora, as YPG estão a tomar o controle dos edifícios governamentais e do oficialista partido Baas. As forças armadas sírias desapareceram da zona e os rebeldes opositores do Exército Sírio Livre não ousam penetrar.
Conforme com as informações que publicou a agência curda Firat News, as principais localidades que tinham caído em mãos da milícia curda durante o fim de semana eram três: Kobanê (Ayn al-Arab em árabe), Efrîn (Afrin) e Dêrik (Al-Malikiyah), todas três ao norte de Síria, ao longo da fronteira entre este estado e Turquia (um lado e o outro da raia está habitado pelo povo curdo). O controle destas localidades é para as YPG, vinculadas ao Partido da União Democrática (Partiya Yekîtiya Demokrat, PYD), uma organização que mantém vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Nationalia soube de fontes curdas que as YPG querem conseguir ampliar as áreas sob o seu controle ao norte de Síria. O objectivo é delimitar um território preciso que esteja controlado pela milícia curda por, desde esta posição de força, poder defender os interesses curdos ante qualquer evolução do conflito sírio. O movimento curdo procura manter-se à margem de disputa entre o regime e a oposição, sem apostar por um bando ou o outro e tentando organizar uma autonomia de facto no norte.
Qamislo e Alep
Até onde teria de chegar o território controlado pela milícia curda? Firat News explicava há poucos dias que se estavam a registar confrontos entre as YPG e a reduzida presença que o exército sírio ainda mantinha em Qamislo (Qamishli em árabe), uma das principais cidades do nordeste de Síria e do Curdistão ocidental. O controle desta localidade é importante para os curdos, que a consideram uma das suas capitais.
Mas onde se joga uma partida de consequências imprevisíveis é em Alep, a cidade mais povoada de Síria (mais que a capital, Damasco), e onde ao menos o 25% da população é curda. Há milícias curdas que tentam controlar os bairros de maioria curda da cidade, mas a metrópole também é um dos principais objectivos do Exército Sírio Livre, que combateu as forças de Al-Assad in situ este mesmo fim de semana. Para os curdos, dominar Alep nem que fosse parcialmente suporia uma vitória sem precedentes.