Calvin e Haroldo (“Calvin and Hobbes” no original) é uma série de histórias em quadrinhos criada, escrita e ilustrada pelo autor norte-americano Bill Watterson, publicada pela primeira vez em 18 de novembro de 1985 e reeditada em mais de dois mil jornais do mundo inteiro até 31 de dezembro de 1995. Ganhou, em 1986 e 1988, o Reuben Award, da Associação Nacional de Cartunistas dos Estados Unidos, sendo que o primeiro marcou Watterson como o cartunista mais jovem a ganhar este prêmio.
Calvin é uma criança de seis anos que possui uma forma sincera e criativa de ver o mundo. É dotado de imaginação muito fértil e tem um amigo que, na visão de todos menos da sua, é apenas um tigre de pelúcia. Seu nome foi baseado no teólogo John Calvin (1509-1564), que acreditava na predestinação, tema visto em várias das tirinhas publicadas. Muitas vezes Calvin mostra pensamentos e linguagens que não condizem com uma criança de seis anos, mas são apresentadas de forma tão genial que faz o leitor ficar chocado ao imaginar algo tão profundo partido de uma mente infantil.
Nas palavras do próprio criador: "Suspeito que grande parte de nós envelhece sem crescer, e dentro (às vezes não tão dentro) de cada adulto existe uma criança que quer que tudo aconteça de acordo com a sua vontade. Eu uso o Calvin (...) como uma maneira de comentar sobre a natureza humana".
Haroldo, por sua vez, é o amigo tigre de Calvin, dotado de humor seco e sagaz, e sempre companheiro. Foi baseado no filósofo Thomas Hobbes (1588 – 1679) cuja visão da natureza humana era um tanto obscura e pessimista. Suas feições e personalidade foram inspiradas na gata Sprite do próprio Bill Watterson.
Sua existência é algo que sempre causa discussões entre os leitores, e já foi comentado pelo autor: "A ideia das duas versões do Haroldo é geralmente mal compreendida. Eu não penso no Haroldo como um boneco que milagrosamente ganha vida quando Calvin está por perto. Também não penso nele como um produto da imaginação de Calvin... Calvin vê Haroldo de uma maneira, e os outros personagens de outra. Eu mostro duas versões da realidade, e cada uma delas faz total sentido para o personagem que participa da cena em questão. Eu acho que é assim que a vida é ... Nenhum de nós enxerga o mundo exatamente da mesma maneira, e eu apenas passei este sentimento para a tirinha".
O autor também é sempre lembrado pela sua briga contra a comercialização e banalização de seus personagens. Watterson nunca permitiu o lançamento de qualquer merchandising, exceto alguns artigos únicos de edição limitada, como postais e pôsteres originais que se tornaram item de colecionador. Este é um dos motivos para não existirem desenhos animados, mochilas, lancheiras ou produtos originais com essa temática.
"Os melhores quadrinhos expõem a natureza humana e nos ajudam a rir da nossa própria estupidez e hipocrisia. Eles se permitem exagero e absurdos, ajudando-nos a ver com outros olhos o mundo e recordando-nos de como é importante brincar e ser ridículo. Quadrinhos retratam os eventos comuns e mundanos da nossa vida e nos ajudam a lembrar da importância de pequenos momentos.”
"Calvin e Haroldo" se diferencia de qualquer outra tirinha já criada. Enquanto tirinhas geralmente trazem três ou quatro quadros com personagens contando piadas e então chegam a um fim, Watterson transmitia toda uma idéia e contava histórias em poucos quadros, e o leitor sabia que havia algo a mais ali, diante de seus olhos. Ele foi capaz de provar que os quadrinhos são uma forma de arte capaz de qualquer nível de beleza, inteligência e sofisticação.
Pode-se considerar as histórias como uma obra-prima pela sua visão única do mundo, pela imaginação do protagonista e pelas situações que se estabelecem em casos comuns do dia-a-dia. É uma maneira de trazer aquela criança que está dentro de nós e fazer pensar sobre coisas simples que, na verdade, constituem fortes críticas à sociedade e ao modo de vida das pessoas no mundo atual.