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310116 zykaEsquerda Diário - [Pedro Rebucci de Melo] Enchentes, secas e doenças epidêmicas como a Dengue e o Zika reaparecem de ano em ano e tudo que escutamos dos governos e da mídia tradicional é que são "desastres naturais". Mas muito poderia ser feito se o interesse dos governos não fosse apenas o lucro rápido dos empresários.


Não bastando todos os problemas econômicos e políticos que o Brasil atravessa, o ano de 2016 iniciou-se com uma série de desastres naturais, afetando todas as regiões brasileiras, com enchentes no sul, seca no nordeste e epidemias em várias regiões. Para se ter uma noção, um em cada cinco municípios brasileiros estão em estado de emergência ou em estado de calamidade pública, seja devido a seca ou a enchentes, alagamentos e até tornados. Outro dado alarmante é o aumento no número dos casos relatados de dengue, que chegaram no ano passado a 1,6 milhões de pessoas e que dá sinais de continuar crescendo.

A resposta que escutamos sempre é a mesma ladainha dos governos da vez, seja do PSDB, PT ou qualquer outro partido dos ricos, afirmando que são problemas de difícil solução, que são desastres naturais e que a população deve resignar-se, chegando ao absurdo de o Ministro da Saúde dizer que "vamos torcer para que as mulheres peguem o Zika antes entrar no período fértil", uma vez que não seria possível distribuir vacinas para toda população.

Mas quando olhamos essas calamidades mais de perto é fácil perceber que todas elas, apesar de sus origens naturais, são potencializadas e aprofundadas pela ganancia capitalista, pela busca por lucros fáceis e imediatos dos empresários e por uma série de governos que se curvam a esses interesses, deixando de lado tudo aquilo que poderia minorar o drama das centenas de milhares de pessoas, mas que não iria gerar lucro para os patrões.

O caso do Zika é um bom exemplo de uma tragédia anunciada que não foi evitada por que não interessava aos donos da grana. O vírus da Zika é um vírus que existia na África e no sudoeste asiático, mas com raros casos confirmados de contágio humano. Em 2007, houve a primeira epidemia do vírus fora do seus territórios habituais, na ilha Yap, na micronésia, um pequeno país da Oceania. Desde então, foram relatadas epidemias em diversos outros países do Pacífico sul, como Polinésia e Nova Caledônia, em uma clara rota de aproximação das Américas. Especialistas deram declarações sobre o risco envolvido e sobre medidas que poderiam ser tomadas para evitar o contágio, mas nada foi feito. Caso similar é a do vírus Chikunguya, que, após três décadas sem causar epidemias, veio lentamente se expandindo desde 2005 sem que nenhum governo tenha tomado qualquer medida para impedir, chegando agora em 2015 como um dos vírus mais presentes nos chamados "países em desenvolvimento".

Tempo não faltou para que vacinas tivessem sido criadas, meios de controle do mosquito vetor das doenças serem implementados e, principalmente, que as próprias doenças fossem estudadas em profundidade, evitando dramas como o da microcefalia, drama que milhares de mães tem sofrido no Brasil e cuja ligação com vírus Zika era inteiramente desconhecido pela medicina até os recentes casos. Mas como o recente escândalo da "Pílula da USP" contra o câncer demonstra bem, a medicina como é hoje tem como único objetivo o lucro, pouco se importando com doenças que afetam majoritariamente países pobres, assim como não vai ter interesse em encontrar a cura de doenças que rendem bilhões em tratamentos e remédios paliativos.

Secas e enchentes chocam a sociedade a séculos, mas permanecem existindo.

Foi no distante ano de 1877, ainda no império de D. Pedro II, quando a burguesia do sudeste chocou-se com as terríveis fotos trazidas da grande seca que assolavam a região do nordeste. No Ceará, estado mais atingido, metade da população da capital Fortaleza pereceu e cerca de 20 % da população do estado foi obrigada a migrar para outras regiões. Na época, o imperador afirmou em sessão do congresso "que venderia até o último brilhante de sua coroa antes que algum cearense morra de fome".

A bravata do imperador diante dos milhões de nordestinos que continuaram e continuam morrendo de fome em decorrência da seca mostra claramente qual foi a atenção dada pelos governantes e pelos ricos a esse drama: Muita demagogia e nada de ação prática. Desde a época do império são criados diversos projetos para lutar contra a seca, desde a construção de açudes e poços artesianos até a faraônica obra de transposição do rio São Francisco que começou no governo Lula e nunca foi concluída. Em comum, todas elas apresentam a corrupção e a subserviência aos lucros dos empresários. A transposição do São Francisco encontra-se parada por divergências no valor dos contratos com as corruptas empreiteiras, que buscam aumentar seus já vultuosos lucros, assim como o projeto de poços artesianos desenvolvido após a ditadura militar logo foi abandonado por falta de interesse da iniciativa privada, que não via possibilidade de lucro com obras pequenas, e pela imensa corrupção, que fazia que esse poços fossem instalados nas terras dos "coronéis".

O mesmo poderia ser dito sobre as enchentes que assolam o sul do país, enchentes que acontecem em décadas e tem como sua principal causa a expansão desenfreada da fronteira agrícola no sul, ocupando as margens dos rios e causando o empobrecimento do solo, acelerando a erosão do solo. Nesse começo de ano, vimos vários países da América do sul sofrerem com as cheias dos rios Paraguai e Uruguai, que deixaram desabrigados no Brasil pelo menos mil e quinhentas pessoas. Mesmo com a ocupação desenfreada, mediadas paliativas com diques de proteção e a construção de reservatórios pra suportar períodos de cheias poderiam diminuir a intensidade dessas catástrofes periódicas mas novamente vemos o interesse da maioria chocando-se com o lucro dos capitalistas.

Os trabalhadores precisam tomar a consciência de que essas tragédias poderiam ser evitadas se houvesse real interesse dos governos, mas estes estão apenas interessados em garantir a rentabilidade de seus patrões, os empresários nacionais e internacionais que financiam suas campanhas e permitem a farra da roubalheira e da corrupção que expande-se por todo o sistema capitalista, sem exceção. Desastres naturais como esses só serão evitados quando os trabalhadores e o povo pobre puder ele mesmo decidir quais são as prioridades do Estado, direcionado e distribuindo o dinheiro conforme a necessidade da maioria e isso será possível somente se colocarmos abaixo por inteiro essa democracia dos ricos.


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