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280410_climaVenezuela - Caros Amigos - [Diego Griffon Briceño] - Dada a lógica do sistema, que defende o crescimento e a acumulação de capital como condição sine qua non para sua existência, é impossível neste marco abordar e solucionar as reais causas da Mudança Climática.


As alternativas propostas sob a lógica neoclássica são somente paliativas, focadas em algumas das consequências. É impossível que esse sistema ofereça soluções reais, pois as causas do problema se encontram em seus fundamentos básicos. Não é possível consertar o sistema, a única opção é mudar o sistema. O primeiro passo na luta contra a mudança climática é a formação de um movimento de base. Esta é a importância de Cochabamba, o lugar adequado para começar a articulação do movimento.

“Ou estabelecemos uma sociedade ecológica, ou a sociedade desaparecerá para todos, independentemente do status de cada um” (Murray Bookchin, 1992).

Quando vemos na televisão documentários ou notícias relacionadas com a mudança climática nos invade um sentimento geral de inquietação. Parece que estamos enfrentando o fim do mundo, ou pelo menos o fim do mundo que conhecemos. As reações são muito diferentes, alguns assumem posições apocalípticas, condizentes a fanatismos religiosos. Outros, cada vez menos, mantêm uma posição cética, de desconfiança. Uma pequena, porém poderosa minoria vê grandes oportunidades de negócio. Contudo, a grande maioria não sabe o que fazer, e esse sentimento cria frustração e desconsolo.

Existe a possibilidade real de que as condições climáticas do planeta tragam a impossibilidade da sobrevivência de muitas espécies, entre elas a nossa. Enfrentamos um grande perigo, inédito na história da humanidade. Contudo, é precisamente na novidade desta ameaça onde se encontra seu potencial. Nunca em nossa história tivemos evidências tão avassaladoras de como um modo de vida pode colocar em perigo nossa subsistência. Talvez frente a evidências desta natureza sejamos capazes de realizar mudanças profundas. É possível que agora se encontre o que não foi alcançado por meio dos confrontos de classes, e o movimento global por justiça climática também notou essa oportunidade. Lamentavelmente, outros, com diferentes intenções, também se deram conta.

Ilusões perigosas, não se pode comprar a saída

Os grandes grupos de poder estão perfeitamente a par das possíveis consequências sociais da mudança climática. O sistema se encontra em um de seus ciclos de crises, recordemos: 2008 crise do preço dos alimentos, 2009 crise dos mercados, 2010 crise ambiental.

Os grupos hegemônicos não vão renunciar a seus privilégios para solucionar o problema. Estes, em uma atitude kamikaze, correm apressados para o fatal destino, e sua atitude míope sentencia a todos.

O dogma neoclássico está tão profundamente arraigado em suas mentes que verdadeiramente pensam que esta situação pode ser solucionada sem mudanças radicais. Não deve ser menosprezada a fé que a “sociedade ocidental” tem em seus deuses: A toda poderosa ciência e o eficiente mercado. O dogma diz que eles nos fornecerão a solução. Esta é uma perigosa ilusão.

O resultado inevitável é pensar que se cada um comprar “invenções verdes” podemos nos livrar do problema. Desta maneira a ciência nos dá as soluções e o mercado as põe ao nosso alcance, criando desta forma a ilusão de que podemos COMPRAR a saída da crise climática.

A origem do problema

Para encontrar a solução de qualquer problema é indispensável encontrar suas causas. Se não fizermos isso corremos o risco de lutar eternamente contra as consequências, sem nunca solucionar o problema. No que diz respeito à mudança climática existem dois níveis que devemos discutir e enfrentar.

Em um primeiro nível devemos estabelecer claramente quem é o responsável direto do problema. Neste caso, o responsável não é outro senão o sistema econômico. Este sistema visa reduzir todas as pessoas a simples consumidores, ignorando as complexidades inerentes a qualquer ser humano.

O segundo nível (mais importante que o primeiro) não é tão óbvio. O segundo nível que devemos enfrentar são as hierarquias. Este é nosso dilema central, criamos relações sociais que se fundamentam na dominação de um grupo pelo outro: os ricos dominam os pobres, os maiores aos menores, um grupo religioso ao outro, uma etnia a outra, um gênero ao outro, uma espécie ao resto.

Esta circunstância está profundamente relacionada com a mudança climática. O problema das hierarquias é anterior ao sistema capitalista, por tanto mais profundo. É certo que somente no sistema capitalista esta circunstância alcança as conotações que discutimos aqui. Mas se não for solucionado, a espiral da dominação sempre terminará por agredir a natureza.

As relações de dominação que mantemos em nossas sociedades mudam a nossa relação com o resto da natureza. Desenvolvemos um modo de vida fundamentado na agressão. A ideia de “dominação da natureza” está profundamente arraigada em nossa psique. Encontramos exemplos disto em todos os aspectos de nossa vida: no nosso modelo de agricultura, urbanismo, produção industrial, entretenimento, educação. A crença de que podemos dominar o resto da natureza é a raiz da mudança climática.

Soluções: Políticas pré-figurativas

A magnitude da mudança necessária para solucionar o problema pode chegar a ser intimidatória. Entretanto, existem alternativas, muitas delas estão sendo atualmente executadas, são as políticas pré-figurativas. Antes de falar disso, deve-se esclarecer que as mudanças necessárias só podem ser levadas a cabo pela população organizada. Esse é um caminho que só pode ser percorrido de cima para baixo, e não no sentido contrário.

O fracasso da COP 15 comprova isso eloquentemente. Temos observado por décadas os fiascos das negociações climáticas. É evidente que os governos do mundo e as multinacionais não são capazes de levar a cabo as mudanças necessárias para solucionar o problema. Chegou a hora de assumirmos nosso poder através da participação direta.

O primeiro passo na luta conta a mudança climática é a formação de um movimento de base. Esta é a importância de Cochabamba. Somos muitos e muito diferentes, nosso lema deve ser: unidade pela diversidade.

Nossos princípios em comum devem guiar nossas decisões. As formas de organização que assumimos e as alternativas tecnológicas que adotamos devem prefigurar o mundo que queremos. A reunião na Bolívia é importante por ser um encontro de povos, não de governos. Criemos um movimento de movimentos capaz de transformar o mundo. Aproveitemos o potencial revolucionário existente na crise climática. Vamos solucionar algo mais que o aquecimento global: Mudemos o sistema, não o clima!

Diego Griffon Briceño é engenheiro agrônomo e professor de Agroecologia na Universidade Bolivariana da Venezuela

(publicado originalmente no sítio Rebelión www.rebelion.org , com tradução Bárbara Mengardo)

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