Foto: Charge de Vini Oliveira.
Engels escreveu uma obra feminista em "A origem da família..". Todas as revoluções socialistas defenderam os direitos das mulheres e combateram o racismo (a luta contra a homofobia é mais recente). E no Brasil, quem sempre defendeu os índios, condenou com veemência a escravidão e o racismo e defendeu os direitos das mulheres? As esquerdas socialistas, sempre!
As lutas contra as opressões eram incorporadas às lutas consideradas principais, ou seja, as lutas de classes. Isto porque estas lutas eram anti-sistêmicas e estavam dentro da totalidade social. No período pós-ditadura no Brasil, o PT ter incorporado estas lutas na totalidade social foi muito importante.
Bem, vieram os anos 1990. Crise do socialismo. As pedras do muro caíram para um lado só e acertaram até quem o condenava à esquerda.
Ascenção fulminante do capitalismo, chamado nesta nova forma de reprodução de "neoliberalismo". No campo da cultura, dos costumes, das identidades e das lutas específicas, o neoliberalismo veio acompanhado da pós-modernidade. Estavam no mesmo pacote. "Lutas isoladas" com "finalidade própria" deixaram de questionar o sistema, já que "sistemas" não mais existiam.
Leia também:
“Pós modernidade”, moda cultural do neoliberalismo
Autonomia e perda de autonomia na luta pela terra: vitória da pós-modernidade?
Ainda nos anos 1990 usei em sala um texto de uma eminente professora e militante negra para debater a questão negra e das cotas. Vi que o artigo questionava as "classes sociais" e propunha substituí-lo por etnia ou raça. Discordei, lógico! Mas vi que já era fruto dos novos tempos e não era caso isolado. Era uma tendência que ampliava.
Hoje, vejo uma vitória da pós-modernidade e do neoliberalismo. Que se complementam na cultura e na economia.
E como não se questiona mais o sistema, estas lutas culturais viraram momentâneas, efêmeras, na base do escracho e assim, passam a condenar a razão, a ciência e o conhecimento acumulado.
Meu otimismo é que, como vieram, passarão.
Antonio Julio de Menezes Neto é professor na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Educação.
Texto postado oficialmente no perfil do autor no facebook.