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senhoramarxO Diário - [Chris Hedges (1)/ Tradução: Jorge Vasconcelos] A fase final do capitalismo, escreveu Marx, seria marcada por desenvolvimentos que, para a maior parte de nós, são hoje familiares. Incapaz de se expandir e gerar lucros ao nível do passado, o sistema capitalista começaria a consumir as estruturas que o têm sustentado.


Foto de Pete Birkinshaw (CC /by/2.0/) - "Se Karl Marx vivesse diria: 'Eu já disse!' ", diz o cartaz de uma manifestante.

Marx pôs em foco estas contradições internas do capitalismo. Percebeu que a ideia do capitalismo – comércio livre, mercado livre, individualismo, inovação, autodesenvolvimento – apenas funciona na mente utopista de um verdadeiro crente, como Alan Greenspan, e nunca na realidade. Marx previu que a acumulação de riqueza por uma pequena elite capitalista, junto com a exploração dos trabalhadores, significaria que as massas já não conseguiriam comprar os produtos que impulsionavam o capitalismo para a frente. A riqueza vai-se concentrando nas mãos de uma pequena elite - os 1% mais ricos do mundo irão ficar a deter mais de metade da riqueza mundial no próximo ano.

O assalto à classe trabalhadora tem prosseguido agora ao longo de várias décadas. Os salários estagnaram ou diminuíram desde os anos 70. A produção foi situada longe, onde os trabalhadores de países como a China e o Bangladesh são pagos por tão pouco como 22 cêntimos a hora. Os trabalhadores pobres, forçados a competir no mercado global com o trabalho daqueles que pouco mais do que servos são, proliferam na paisagem americana, lutando por viver ao nível da subsistência. As indústrias como as da construção, que antigamente proporcionavam emprego bem pago sob contrato sindical, são agora ocupadas por trabalhadores não-sindicalizados e muitas vezes sem papéis. As grandes empresas importam engenheiros estrangeiros e especialistas de software que fazem trabalho profissional a um terço do salário normal com vistos temporários H_1B, L-1 e outros. Todos estes trabalhadores são privados de direitos de cidadania.

Os capitalistas respondem ao colapso das suas economias nacionais, por eles engendrado, tornando-se predadores do crédito e especuladores globais. Emprestam dinheiro a taxas de juro exorbitantes à classe trabalhadora e aos pobres, mesmo sabendo que o dinheiro nunca poderá ser pago, e vendem depois esses pacotes de dívida, de “swaps”, de obrigações e de acções aos fundos de pensões, a cidades, a firmas de investimento e a instituições. Esta última forma de capitalismo é erguida sobre aquilo que Marx denominou “capital fictício.” E conduz, como Marx sabia, à volatilização do dinheiro.

Uma vez que os tomadores de crédito hipotecário “subprime” começaram a não cumprir, conforme os grandes bancos e firmas de investimento sabiam ser inevitável, teve lugar a crise global de 2008. O governo resgatou os bancos, em grande parte emitindo dinheiro, mas deixou os pobres e a classe trabalhadora (não falando nos estudantes recentemente largando o ensino) com dívidas pessoais devastadoras. A austeridade tornou-se a política. As vítimas da fraude financeira iriam ser obrigadas a pagar a fraude. E o que nos salvou de uma depressão explosiva foi, de acordo com uma táctica que Marx teria achado irónica, a intervenção maciça do Estado na economia, incluindo a nacionalização de grandes empresas como as AIG e as General Motors.
O que vimos em 2008 foi o desempenho de um Estado-providência para os ricos, uma espécie de socialismo de estado para as elites financeiras previsto por Marx. Porém, atrás disto vem um crescente e volátil ciclo de fartura e escassez, levando o sistema para mais próximo da desintegração e do colapso. Sofremos duas grandes crises bolsistas e a implosão dos preços da propriedade numa única primeira década do séc. XXI.

As grandes empresas que detêm os media trabalharam horas extra para venderem a um público desnorteado a ficção de que estamos a ter uma recuperação. Os números do emprego, através de uma diversidade de truques que incluem fazer desaparecer das listas de desemprego os desempregados há mais de um ano, são uma mentira, tal como o é praticamente qualquer outro indicador financeiro anunciado para consumo público. Vivemos, na verdade, na fase crepuscular do capitalismo global, que pode ser surpreendentemente mais resiliente do que esperamos, mas que não deixará de ser definitivamente terminal. Marx sabia que, uma vez que o mecanismo do mercado se tornasse o único factor determinante para o destino do Estado-nação, do mesmo modo que para o mundo natural, ambos seriam demolidos. Ninguém sabe quando tal irá acontecer, mas que há-de acontecer, talvez mesmo dentro do nosso tempo de vida, isso parece seguro.

“O que é velho está a morrer, o que é novo luta por nascer e no interregno há muitos sintomas mórbidos”, escreveu Antonio Gramsci.

O que vem depende de nós.

(1) Chris Hedges, esteve cerca de duas décadas como correspondente estrangeiro na América Central, no Médio-Oriente, em África e nos Balcãs. Enviou trabalhos para mais de 50 países e colaborou para o The Christian Science Monitor, a National Public Radio, o The Dallas Morning News e o The New York Times, no qual foi corresponde estrangeiro durante 15 anos.

Information Clearing House” (1-06-2015), publicado em “TruthDig”


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