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syrizasGrécia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O Syriza, partido que se encontra no governo da Grécia, foi jogado contra as cordas pela União Europeia e passou a assumir a linha de frente na implementação das chamadas políticas de austeridade.


Pablo Iglesias, do Syriza, Declan Kearney, do Sinn Féin e Dimitris Papadimoulis, do Syriza, representantes de seus partidos no Parlamento Europeu. Foto: Sinn Féin (CC BY 2.0)

A crise do Syriza atingiu em cheio os demais “syrizas” europeus, principalmente no Estado espanhol, Portugal e Irlanda. Essa crise expressa o grau de decomposição geral em que se encontra o regime político burguês.

Os países da periferia passarão por eleições nacionais, no próximo período, que deverão levar a coalisões fracas, principalmente no Estado espanhol. Essas eleições deverão provocar o adiamento do apoio ao “resgate” da Grécia, por esses países, pelo menos até o início do próximo ano. Neste momento, esses governos se opõem ao “resgate” da Grécia por causa da crise interna.

Em Portugal, as eleições acontecerão em outubro. Na Espanha, em dezembro. Na Irlanda, em abril.

A partir de 2008, tanto a Grécia como Portugal e o Estado espanhol eram governados por partidos social-democratas, que foram empurrados pelo imperialismo a aplicar duros planos de austeridade e, por causa disso, acabaram implodindo. Na Irlanda, aconteceu a mesma coisa com a coalisão de centro esquerda que, na época, governava o país.

Em 2011 e 2012, a direita voltou ao poder, reciclada. Os planos de austeridade foram intensificados e os quatro países receberam novos pacotes de “ajuda” da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.

A rejeição popular aos planos de austeridade acabou impulsionando uma nova esquerda, reciclada, social-democrata, a partir da rejeição aos planos de austeridade e com a promessa de aplicar políticas a favor das massas.

O impacto do colapso político do Syriza

Syriza na Grécia, Podemos na Espanha, o Partido Socialista em Portugal e o Sinn Fein na Irlanda passaram a encabeçar as expectativas de vencer as eleições nos respectivos países, principalmente no ano passado, quando a crise capitalista avançou para um beco sem saída.

O triunfo do Syriza grego, no início deste ano, foi propagandeado como a abertura de grandes perspectivas eleitorais para esses partidos e para uma boa parte da esquerda pequeno burguesa mundial, como o Psol brasileiro.

A rápida capitulação do Syriza às imposições do imperialismo europeu, que culminou com o “terceiro pacote de resgate” de julho deste ano, enfraqueceu a perspectiva eleitoral desses partidos.

Esse pacote teve como objetivo salvar os grandes bancos europeus, em primeiro lugar os alemães e os franceses. Somente os bancos alemães privados estão contaminados por quase 50 bilhões de euros à divida pública grega. Além disso, o grosso dos fundos de resgate e os empréstimos do Banco Central Europeu têm como origem a Alemanha.

O recente referendo convocado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, na realidade, foi impulsionado pela chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês François Hollande.

A direita da União Europeia se opôs ao “resgate”, por causa da fragilidade interna. Em Portugal, no Estado espanhol e na Irlanda, empreenderam uma campanha feroz sobre a abertura de uma brutal crise caso os “próprios syrizas” vencessem as eleições. Estes, acuados pela direita, e altamente integrados ao regime, passaram a suavizar o apoio inclusive da restruturação da dívida grega. O caso mais gritante foi o do Podemos espanhol. Mas também o PSP (Partido Socialista de Portugal) e o Sinn Fein irlandês emitiram várias declarações dizendo que eram diferentes do Syriza e que a situação nestes países seria, supostamente, diferente.

O PSP caiu 11% nas pesquisas em relação às intenções de voto nos últimos quatro meses. O Podemos caiu do primeiro lugar para o terceiro. O Sinn Fein caiu 8%.

A economia nesses países, supostamente, estaria melhorando, com os índices do desemprego caindo. Na realidade, a economia só tem piorado. Mas a queda do desemprego é sazonal, por causa das vagas abertas no setor do turismo, no verão europeu, e não considera a precarização crescente do mercado de trabalho nem a migração de milhões de trabalhadores para os centros.

A crise do regime político na Europa

A crise aberta pela capitulação do Syriza colocou, à frente do cenário político, a crise do regime, com uma enorme fragmentação política nos países mais afetados pela crise, que deixou para atrás o bipartidarismo.

No Estado espanhol, os principais partidos políticos burgueses deverão incluir no governo Podemos e Ciudadanos, o que dificultará o controle do regime pela burguesia. A mesma “grande coalisão” deverá ser formada em Portugal, mas, devido às contradições entre a direita e a esquerda, o país poderá ficar sem governo central, ou entravado, durante meses a fio. Da mesma maneira, na Irlanda, partidos novos e menores estão sendo colocados na primeira linha do regime político.

Essas coalisões deverão ser fracas e encontrarão grandes dificuldades para impor os “planos de austeridade”, os ataques em larga escala contra os trabalhadores, principalmente, na perspectiva de um novo e mais profundo colapso capitalista mundial que, agora, deverá ter como epicentro os países desenvolvidos, mas deverá arrastrar os países atrasados.

A Irlanda foi o país que quebrou em 2008, após o governo ter tentado gerenciá-lo de maneira “moderna”, como se fosse um fundo especulativo de derivativos financeiros. A crise foi relativamente controlada por meio de “empréstimos” da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.

A Grécia detém a maior dívida pública, em relação à economia, e Portugal a terceira maior, 130% do PIB. O problema fica mais crítico em relação à Itália que detém a segunda maior dívida da Europa.

A Itália e a Espanha não são a Grécia, que representa apenas 0,4% da economia da zona do euro. Esses dois países representam a terceira e a quarta economia da zona do euro respectivamente.

No Estado espanhol, há uma importante bomba relógio concentrada nos governos locais, fortemente endividados e pressionados pelo governo central a atacar ainda mais a população. Em vários deles, há coalisões “anti-austeridade” o que deverá provocar um maior aprofundamento da crise política.

Syriza: a frente da nova “grande coalisão burguesa”

Na Grécia, o governo do Syriza passou a encabeçar a aplicação da política do imperialismo europeu, o que acabou provocando o racha do partido e a aproximação com os partidos políticos burgueses tradicionais. Na tentativa de superar a crise, a ala direita do partido, encabeçada pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, que atua como um menino de recados de Angela Merkel, busca a restruturação da dívida pública, com o objetivo de continuar pagando-a, sem questioná-la, e a criação de um novo bloco de governo. Por esse motivo, buscará chamar eleições adiantadas, formar um “governo de coalisão” e se livrar dos setores dissidentes. Mas essa política é frágil, além de tratar-se de uma política de crise.

A crise política nos demais países da periferia impede que o Syriza convoque eleições até o próximo ano, por causa da oposição desses países ao resgate, pelo menos até terem acontecido as próprias eleições e terem sido formados os novos governos. A direita do parlamento alemão (Bundestag) busca impor medidas mais duras antes de renegociar a dívida grega. Até lá, o aprofundamento da crise e o impacto do aumento dos impostos, da queda do emprego e a piora, ainda maior, das condições de vida dos trabalhadores poderá implodir o governo Syriza e as manobras para direitizá-lo, provavelmente, em cima da conhecida política direitista da suposta luta contra a corrupção e outras.

Cada vez mais se coloca a falência da frente popular. A burguesia fica contra as cordas com uma única carta na manga, a “saída” de força, fascistoide. A questão colocada é como essa “saída” poderá ser viabilizada e qual será o impacto sobre o resto da União Europeia.


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