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socialismoDiário Liberdade - [Alejandro Acosta] Após a vitória da revolução Bolchevique, na Rússia, a nova República foi atacada por 18 exércitos estrangeiros. Rapidamente, foi organizado o Exército Vermelho, que chegou a ter cinco milhões de soldados. A mobilização dos camponeses, que compunham 80% da população, e que na extensa maioria eram analfabetos, aconteceu por causa da reforma agrária promovida pelo governo soviético.


Treptower Park, Berlim. Foto: Bierlos / Flickr (CC BY-NC-ND 2.0)

Socialismo em países atrasados (ou arrasados)?

Os 18 exércitos foram derrotados, em 1921, mas a economia ficou totalmente destroçada. O número de mortos da Primeira Guerra Mundial e da Guerra Civil superava os sete milhões. Ao mesmo tempo, a revolução nos países europeus foi derrotada, principalmente na Alemanha. Foi aberta uma enorme discussão no seio do PCUS (Partido Comunista da União Soviética).

A situação era dramática. Faltava tudo e a indústria tinha sido destroçada. Sob a liderança de Lenin foi adotada a NEP (a Nova Política Econômica), que permitia que alguns excedentes de produção fossem comercializados em mercados livres.

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A Oposição de Esquerda, que se formou em 1924, tentava impulsionar a chamada “acumulação originária socialista”, teorizada fundamentalmente por Trotsky e Preobrazensky.

O ponto central para o entendimento da burocratização e do colapso da União Soviética, assim como de todos os demais países ditos socialistas, reside na pobreza e no atraso. A escassez de produtos leva a uma disputa, onde setores privilegiados da sociedade buscam obter vantagens sobre os demais.

Na União Soviética, os comandantes desmobilizados, do Exército Vermelho, e os camponeses que tinham se enriquecido com a NEP passaram a buscar controles políticos para favorecer esses privilégios. Essa foi a base material, objetiva da burocratização do estado soviético.

A partir de 1927, o grupo liderado por Stalin passou a controlar o poder e impôs os planos quinquenais. O sucesso dos dois primeiros planos foi gigantesco, o que mostrou a superioridade da economia planejada. Ao mesmo tempo, a coletivização forçada da agricultura gerou gigantescos problemas que viriam a se repetir nos países do bloco soviético.

A lei do valor: o motor do capitalismo

O motor do capitalismo é a obtenção de lucros a qualquer custo, independentemente das considerações de tal ou qual indivíduo. Se essa lei não for superada, de maneira integral, o capitalismo não pode ser superado.

Karl Marx, na sua obra prima, O Capital, à qual dedicou três décadas, demonstrou que a lei principal que rege o capitalismo é a lei do valor-trabalho.

De acordo com os economistas burgueses “vulgares” (aqueles que não estão preocupados em analisar a sociedade, mas em justificar o capitalismo), o valor de uma mercadoria é determinado na esfera da circulação, pela interdependência entre a oferta e a demanda, ou por aquilo que pode ser chamado de interação do custo e da utilidade, o que quer dizer tanto as preferências subjetivas quanto as condições tecnológicas objetivas. Os mais ousados chegam a afirmar que o valor somente pode ser atribuído pelos desejos subjetivos de um indivíduo e por suas crenças quanto às propriedades causativas de uma determinada mercadoria. Somente então os economistas poderão classificar as mercadorias como tais.

Os “neoliberais” repetem os mesmos erros dos economistas vulgares dos últimos dois séculos. Em relação ao valor de uso, as partes envolvidas numa transação podem ser beneficiadas. Em relação ao valor de troca, os ganhos obtidos pelos preços superiores praticados por alguns dos participantes no mercado e as perdas dos outros, serão niveladas pela média social. Por esse motivo, os lucros especulativos não têm a possibilidade de criar novo valor, mas de apropriar-se de uma maior fatia do valor criado pela sociedade.

Os capitais têm a tendência a obterem uma taxa de lucro média conforme a lei estudada detalhadamente no Livro III de O Capital de Karl Marx.

A grande dificuldade dos economistas burgueses reside em não terem condições de entender, devido à classe social que representam, que o verdadeiro gerador de valor é a força de trabalho da classe operária. As categorias genéricas de “valor de trabalho” e “preço natural do trabalho”, entre outras, impediram à economia clássica avançar no entendimento das leis do capitalismo. Para os economistas vulgares serviram com “uma base segura de operações para a sua superficialidade, que somente venera as aparências”. A transformação do valor e preço da força de trabalho em salário “torna invisível a relação efetiva e precisamente mostra o oposto dessa relação, [nela] se fundamentam todas as noções jurídicas tanto do operário como do capitalista, todas as mistificações do modo capitalista de produção, todas as ilusões de liberdade, todos os absurdos apologéticos da economia vulgar”. (Karl Marx, O Capital, Livro 1, Cap. 17)

O fim do capitalismo significa a superação da lei do valor

A União Soviética nunca conseguiu superar o atraso nem a lei do valor, a lei principal do capitalismo. Ela continuou existindo tanto na época da NEP, como posteriormente. Entre outros fatores, houve o mercado negro, a pequena propriedade agrícola, as cooperativas, o comércio com os países capitalistas, a contração de dívidas com o imperialismo, a abertura para os monopólios. Tudo isso gera capitalismo.

Na década de 1960, Che Guevara ficou estarrecido com algumas coisas que ele viu na viagem aos países da Europa do Leste e com o tratamento dado ao Vietnã.

Quem teve a oportunidade de conhecer os países da Europa Oriental ou a União Soviética, na década de 1980, se defrontou com elementos capitalistas em larga escala. Na Hungria, era tão gritante que não havia nenhuma distinção aparente com um país capitalista.

A teoria do “socialismo num só país”, acunhada na União Soviética da década de 1920, tinha como objetivo fornecer algum abrigo teórico para o processo de burocratização. Hoje, a chamada “globalização”, se tornou um processo altamente crítico. Para o próximo período, está colocado um enorme colapso capitalista que deverá atingir em cheio o coração da economia mundial, que é composto, em primeiro lugar, pelos Estados Unidos, a Alemanha, a Inglaterra, a França e o Japão. Esta é a base material que colocará em movimento as massas trabalhadoras nos países centrais.

O socialismo não significa simplesmente a socialização dos meios de produção e a derrubada da burguesia. Isso aconteceu em vários países, mas todos eles eram extremamente atrasados e, portanto, os processos revolucionários, apesar da sua importância, não tinham como ir muito longe. A lei do valor nunca foi superada. A produtividade per capita nunca superou a do país capitalista mais desenvolvido.

O socialismo também não significa o socialismo do consumo, da pobreza ou socialismo cristão. Muito pelo contrário, trata-se de um processo histórico, da superação histórica do capitalismo, de liberação do desenvolvimento das forças produtivas, com a produção em larguíssima escala.

A vitória do socialismo somente pode acontecer com a vitória da revolução proletária nos países desenvolvidos, o que geraria a revolução mundial. É exatamente isso o que está colocado para o próximo período, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Ao mesmo tempo, a revolução social não acontece num único ato. Se trata de um processo, que não acontece linearmente e que se dá como o último ato da peça, não o primeiro. A caraterística do presente período é a podridão extrema do capitalismo, a economia que não funciona mais, a especulação financeira levada às alturas, assim como o aprofundamento das contradições sociais em direção aos centros. O conteúdo capitalista se apodrece enquanto o que, aparentemente, seria forte, os aparatos repressivos, não passa de uma casca que protege a podridão.

Alejandro Acosta está atualmente na Alemanha.


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