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Chapeuzinho Vermelho Jessie Willcox SmithGrécia - Manifesto 74 - [André Albuquerque] É como no basebol, à terceira falha o lançador é eliminado.


Neste caso foi o governo grego de coligação - Nova Democracia, PASOK - que saiu de cena. As eleições estão marcadas já para o próximo dia 25 de Janeiro e desta vez quem parte na frente é o SYRIZA, partido que promete o fim da austeridade e que recusa cumprir o pagamento da dívida tal como ele foi imposto pela Troika e aceite pelo actual governo grego.

Ainda o defunto tem o corpo quente e já a comunidade financeira internacional estrebucha por todos os lados. Os mercados suam, as mais importantes Bolsas entraram em queda, os juros da dívida sobem e o FMI, depois de consultar o BCE e a Comissão Europeia, já sentenciou que está suspensa a ajuda monetária até novo governo formado. Mais uma vez, e de uma só vez, o lobo mau, desta vez vestido de SYRIZA, consegue assustar todos os capuchinhos vermelhos só ao dizer "presente". Imaginem se este lobo mau mostrar mesmo os dentes e desatar à dentada...

Sempre que uma sondagem dá vantagem ou subidas a um partido fora das famílias europeias liberais, democratas-cristãs e sociais-democratas - partidos socialistas incluídos - os actuais partidos de governo, começa o berreiro e a chantagem do FMI e seus pares.

Será curioso lembrarmos que por mais do que uma vez foi o próprio FMI que admitiu ter abusado nas imposições austeras. Mas negócios são negócios, e mesmo que seja impossível aos países intervencionados pagarem o que devem e respectivos juros, ou pagando ser-lhes impossível reerguer a sua economia, a Troika mantém o caminho traçado e quer, gulosamente, inchar até ao último tostão.

Estas constantes atitudes demonstram pelo menos duas coisas: que para além de não ter pátria o capital é burro, não percebendo que com estas atitudes, o monstro que criou se virará contra ele ainda mais cedo; que os partidos europeus actualmente no poder e as instituições financeiras mundiais chegam a ser ternurentos quando demagogicamente enchem os seus discursos com a palavra "democracia".

Os tais mercados são uma espécie de pitonisas da modernidade, com capacidades mediúnicas extraordinárias nas previsões que fazem do futuro da economia mundial. Mas como as pitonisas tinham apenas a capacidade de influenciar reis, imperadores e generais com as suas previsões e nem sempre eram ouvidas, os mercados decidiram parir do seu ventre os liberais. E são filhos bem mandados estes, obedecem impecavelmente aos progenitores, sem olhar a meios.  

Defendem os liberais e a grande maioria dos democratas-cristãos e dos sociais-democratas europeus, que esta economia ainda não está suficientemente liberta do Estado, que é preciso tirar ainda mais o Estado da economia. Certo é que quando um grupo estratégico, principalmente bancos, se aproximam da falência, tratam de recorrer ao dinheiros dos seus cidadãos, ao dinheiro do Estado, para os salvar. Certo é que o seu sistema apologista da liberdade económica se baseia na total falta de liberdade política e social. Basta olhar para as normas do Tratado Orçamental europeu. 

A União Europeia e a sua organização política estão a rebentar por todos os lados. É indubitavelmente necessário reflectir sobre qual o modelo de futuro que queremos para os 28 países.

Estou do lado dos que querem mais democracia e mais intervenção das populações nas decisões. Por seu lado, os partidos no poder tentam aproveitar esta onda popular que exige ser escutada e colocam nos seus programas a necessidade de reforma do sistema político, mas assim que os mercados batem levemente na mesa, atiram a democracia ao caixote do lixo e limitam-se a cumprir as ordens dos que os sustentam.

Não vão ser os que nos colocaram nesta situação, que dela se serviram e que a ela se continuam a agarrar como resolução do problema, que vão realmente resolver o problema. Este problema é o alimento do sistema que criaram.

Espero sinceramente que o SYRIZA vença as eleições de dia 25 de Janeiro, mas tenho as minhas dúvidas que essa vitória altere dramaticamente o panorama europeu. Em primeiro lugar porque a ditatorial chantagem económica da UE será tão forte que dificilmente o SYRIZA conseguirá por a máquina em movimento pleno e depois porque vejo no próprio SYRIZA algumas indefinições e debilidades que poderão ser fatais na implementação do seu projecto, acabando por ter de ceder a essa chantagem.

Para que o SYRIZA seja a primeira voz do futuro socialista que queremos construir, é indispensável que em todos os outros países, as forças políticas progressistas e humanas ganhem terreno e conquistem o seu espaço de poder real. Só o aparecimento deste contra-peso - ainda que em muitos casos representado por partidos/movimentos ainda distantes de um compromisso total com o socialismo - poderá criar solidariedades e alternativas que estilhacem a chantagem da finança.  

Uma coisa é certa, com este rasgar unilateral do acordo, não pode o FMI escandalizar-se se algum dos países decidir fazer exactamente o mesmo pelo seu lado. Vai-se a ver e isto foi só para poupar trabalho ao próximo governo grego.
Bom, mas se isto não for lá com o guito, há sempre a hipótese de alegar risco de imposição de uma ditadura e uns tanques da NATO prontos para estacionar em Syntagma. 

Para terminar: porque é que quando são os partidos colocados no extremo direito do espectro político - simplesmente eurocépticos ou nacionalistas - a subir nas sondagens e/ou a ganhar eleições os mercados não tremem e o FMI não abre a boca? Pois é..."consolida, filho, consolida"...


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