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011214 leninePaísos Cataláns - Nuvol - [Carles Camps Mundó, traduzido por Diário Liberdade] Eis um episódio que me passou no dia da manifestação posterior ao 15-M, uma vez desalojada pela força a praça de Catalunha, seguindo as ordens de aquele guarda da porra denominado Felip Puig.


Para mim é bastante ilustrativo de para onde vão politicamente as cousas hoje em dia no seio do espaço da esquerda na Catalunha, depois da grande mobilização cidadã do 9-N, e sobretudo com a agoirada irrupção de Podemos na Catalunha empurrando como cavalo siciliano.

A curiosidade da que falava é esta: Naquele dia de manifestação "indignada", eu e a minha mulher estávamos na praça da Catalunha, e perto tínhamos um rapazolo que fazia de homem protesta, ao jeitinho de aqueles homens orquestra que atuavam nas festas das aldeias e vilas. Numa carreta, levava uns altifalantes e todo tipo de propaganda revolucionária enquanto ia gritando por um microfone as consignas da "indignação" e repartia aos congregados seus panfletos a favor da revolta: Tudo em castelhano, isso sim, com a entusiasta bonomia da jornada de protesto, comentei-lhe que também podia ir metendo o catalão nas suas diatribas contra o poder. O moço, bastante respeitoso, deu-me a razão e disse-me que iria tentar, talvez o dissesse para tirar-me de cima e se seguir o seu caminho. O certo e que até cheguei a escutar que começava a dizer algumas das suas consignas em catalão.

A cousa teria ficado assim, festiva e educada, se não fosse ter dado com uma mulher de media idade, com aspeito de servidora pública, muito maçada, pela perda de condições de trabalho; a qual foi-me machucar com seus olhos de ódio para todo aquilo que fosse catalão: Aqui somos internacionalistas!

A verdade é que fiquei parado de tanta raiva, mas ainda fui capaz de reagir para perguntar-lhe se é que em catalão não se podia ser internacionalista?, E se a língua castelhana era a língua de todo o movimento operário no âmbito mundia?.

À vista que algumas pessoas das que nos arrodeavam sorriam com a minha saída, aquela mulher mal-encarada com respeito ao catalão, vai abater as suas asas e meio vai-se desculpar, isso entanto se perdia na massa que formávamos os miles de manifestantes.

Como vêem, o episódio não tem muita importância. Todos os falantes de catalão tivemos que ter passado, situações bem piores Se não for como ela é, uma curiosidade ilustrativa. Digo isto a respeito do aparecimento da força de PODEMOS nos inquéritos de umas possíveis eleições parlamentares na Catalunha. Esta formação surgida do nada como um cogumelo de espécie pouco conhecida, da que ainda não sabemos se é comível, reuniria entre nós esse tipo de pessoas que se pensa que as aspirações da Catalunha como povo são um obstáculo ao seu internacionalismo de raiz castelhana, e que aspira a fazer que nos seus domínios não se ponha nunca o sol. Até agora, a direita espanholista, como Cidadans, tinha apanhado alguns votos (inter)nacionalistas deste tipo, ainda que a maioria das pessoas que pensavam assim, apreciavam mais o absterem-se ou dedicavam-se a proporem batalhinhas contra a imersão linguística ou do catalão no âmbito da administração. (Não há muito uns quantos espécimenes de esta corda apresentaram um manifesto onde nos diziam aquilo de na Catalunha é a burguesia, etc., etc. Mais ou menos o que fora a sopa de alho salpimentada pelo Solé Tura.)

Chegados neste ponto não me posso poupar de citar Lenine, indiscutivelmente o “primus inter pares” do internacionalismo revolucionário:

(...)" É indispensável distinguirmos entre o nacionalismo da nação opressora e o da nação oprimida, entre o nacionalismo de uma grande nação e o de uma pequena.(...)

Em relação com o segundo nacionalismo, nós, os nacionais de uma grande nação fazemos-nos quase sempre culpáveis, através da história, de uma infinidade de coerções, e inclusive chegamos a cometermos uma infinita violências e sacanagens, sem nem percebermos. Só tenho que evocar as minhas lembranças do Volga, sobre a forma como se maltrata entre nós a gente de outras nacionalidades: ao polonês, ao tártaro, ao ucraíno, ao georgiano e aos outros alógenos do Cáucaso, sempre a chama-los com nomes desqualificadores.(...)

Portanto, o internacionalismo por parte da nação opressora, ou da denominada "grande" (ainda que o for só pela sua violência ), tem de consistir, não tão só no respeito da igualdade formal das nações, senão também numa desigualdade que compense, por parte da nação opressora, da grande nação, a desigualdade que se manifesta praticamente na vida. Quem não tenha entendido isto, não entendeu tão pouco, qual é a atitude verdadeiramente proletária em relação com o problema nacional:Pois ele ficou só com o entendimento do pequeno-burguês. (…)

Concretamente isto é de "O problema das nacionalidades ou da autonomia" (continuo com a nota enterior sobre este mesmo problema), diz isto outro:

"É bem natural que a liberdade de saírem da união, que nos serve de justificativa, apareça como uma fórmula burocrática, mas ela por sim, é incapaz de defender os membros de outras nações e nacionalidades da Rússia, contra a invasão do homem autenticamente russo, do grande russo chauvinista, é dizer do canalha opressor que é no fundo o burocrata russo. Não é dubitável que os operários soviéticos e sovietizados, que se acham em proporção ínfima, chegaram a se afogar neste oceano da borralha grande russa chauvinista.].(,,,)

Custa-me entender, pois, como gente da esquerda catalã pode cair em operações tão pouco claras como a de este movimento que quiçá sim que pode ser necessário na Espanha para se liberarem da "casta". Porém não esquecemos que durando muito tempo esse termo foi um eufemismo de classe, precisamente para substituírem a luta de classes pelo eufemismo de simples problema de "privilégios de castas".

Na Catalunha a luita é mais complexa e passa para sabermos elaborar um discurso que sintetize, como faz Lenine no seu Testamento, Luta de classes e luta anticolonial. Não esquecemos que um alto militar espanhol nos definiu há pouco como colônia. Mas por agora só a "crida constituent", o propõe nesses termos.

Sim, custa-me de entender, à vista do falhanço da Espanha da Transição, infetada de franquismo político e, ainda pior, sociológico, que pessoal que se considera de esquerdos agora pegue num internacionalismo rançoso que, se triunfasse na Catalunha, só servirá porque os nossos direitos (inter)nacionais continuem a estarem oprimidos. Olho alguns, com o Lenine sob o braço, mas sem o lerem, continuam tendo vocação de converter o cavalo siciliano num autêntico cavalo de Troia, do ventre do qual irão saindo (inter)nacionalistas espanhóis. “Os chauvinistas grande russos”.

Esta gente que se diz de esquerdos, mas que está disposta a emular o Imperador do Paralelo, que não se aclara de que vai isso, e que não percebe que eles fossem de esquerdas, pois se não, saberiam que um tumor como é Espanha, com a sua história secular de opressão, de abuso e de privilégios, só se acabará, atacando de uma vez e para sempre os mitos unitaristas, que são o discurso ideológico superestrutural com que se encobre a rapinha da alta burguesia depredadora espanhola, a que explora inclusive as burguesias locais. Uma vez mais, se não fosse pelo aparecimento da CUP, a esquerda catalã teria deixado exclusivamente em mãos da direita e do centro-direita o estandarte do nacionalismo e da independência.


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