Quanto tempo deverão esperar essas pessoas para sair da pobreza?
Ao se alcançar a data simbólica do ano 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou solenemente a chamada Declaração do Milênio, que continha os denominados Objetivos (8) de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O primeiro deles estabelecia o compromisso dos 189 chefes de estado e de governo assinantes da Declaração de reduzir pela metade em 2015 o número de pessoas que em 1990 viviam na pobreza extrema e na fome. Ou seja, no próximo ano, 2015, quando se concluir o período acordado para a realização do objetivo de reduzir pela metade a cifra de pessoas que em 1990 viviam na pobreza extrema, ainda haverá cerca de 1 bilhão vivendo nessa situação e 3 bilhões na pobreza.
Como todas essas pessoas irão sair da pobreza?
O desenvolvimento econômico, medido em termos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), é a fórmula consagrada pelo sistema capitalista que impera em quase todo o planeta. O crescimento econômico, veja-se o exemplo da China, nos dizem, é a melhor fórmula para reduzir a pobreza. Esse é o caminho.
Pois bem, o crescimento econômico ilimitado não só tem o inconveniente insuperável de ter se convertido em insustentável para a própria natureza, mas que, tomado em seu conjunto, à escala mundial, é e será de tão somente um dígito anual por muito tempo e com o agravante, além disso, de que a riqueza que gera se reparte de uma forma absolutamente desigual, já que uma minoria social cada vez mais exígua concentra uma parte desproporcional dessa riqueza e o resto deve se conformar com uma parte decrescente dela.
Confiar, portanto, em que o crescimento econômico ilimitado, fechando os olhos a sua inviabilidade ecológica, é a via para tirar da pobreza bilhões de pessoas, mais que um erro, é uma falsidade indecente.
O que fazer, então?
Converter a luta pela erradicação da pobreza na prioridade absoluta da ONU e, por consequência, dos Estados e governos que a integram.
Se não se quer que o século XXI siga suportando o flagelo da pobreza de um número intoleravelmente alto de seres humanos, mulheres e crianças em sua maioria, o primeiro passo que deve dar a ONU é declarar a ilegalidade da pobreza. Essa decisão, que em conjunto com os movimentos sociais, que a cidadania mundial e os povos da Terra deveriam reclamar, poria em primeiro plano a obrigação prioritária dos organismos e instituições internacionais, dos Estados e dos governos de acabar com a pobreza, descartando o inútil e inviável método do crescimento econômico ilimitado e apostando pela partilha da riqueza por meio da fórmula da justiça fiscal global e do estabelecimento da renda básica universal.
O problema não é seguir criando uma riqueza que uma minoria siga acumulando cada vez mais, mas repartir a riqueza já criada e a criar assegurando uma vida digna a todos os seres humanos pelo simples fato de sê-lo.
O sistema não pode dar emprego e um trabalho decente às bilhões de pessoas que vivem na pobreza ou correm o perigo de cair nela. Nem sequer é seu objetivo, e de fato são cada vez mais os trabalhadores que padecem a chamada pobreza laboral. Além disso, sobre o trabalho remunerado pende a ameaça da automatização e do desemprego massivo crônico. E, no entanto, o progesso material é extraordinário e a questão, a título de exemplo, é se a humanidade seguirá aceitando passivamente o fato de que umas tantas dezenas de pessoas, menos de cem, acumulem tanta riqueza como os 3,5 bilhões de pessoas mais pobres do planeta.
Se é assim, a pobreza não se erradicará tampouco neste século, mas sim como fruto da pressão dos movimentos sociais, da cidadania e dos povos, a ONU e os governos do mundo ilegalizando a pobreza e assumindo as políticas consequentes com essa medida, a pobreza se converterá em um fenômeno social residual, como a são atualmente as brasas quentes da escravidão humana.