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obamaEstados Unidos - Oriente Mídia - [Thierry Meyssan, Rede Voltaire - 21/04/14] A propaganda do Império anglo-saxão nos fez acreditar que EUA é o "país da liberdade" e suas guerras não têm outro propósito senão o de defender seus ideais. Mas a crise ucraniana acabou de mudar as regras do jogo: Washington e seus aliados perderam o monopólio da palavra. O governo e a imprensa de outro grande Estado, Rússia, estão refutando abertamente as mentiras que durante um século tem servido de justificativa ao Império anglo-saxão. Nestes tempos de satélites e Internet, a propaganda anglo-saxônica não funciona mais.


Os governantes sempre tentar convencer de que eles estão fazendo a coisa certa, porque as multidões não seguem alguém sabendo que não está com a razão. O século XX foi marcado pelo surgimento de novos métodos de propagação de ideias que nada têm a ver com a verdade. Os ocidentais afirmam que a propaganda moderna começou com o ministro nazista Joseph Goebbels. Assim querem nos fazer esquecer que a arte de distorcer a percepção das coisas foi desenvolvida muito antes pelos anglo-saxões.

Em 1916, o Reino Unido criou em Londres a Wellington House em e mais tarde a Crewe House. Ao mesmo tempo, os EUA criaram o Comittee on Public Information (CPI). Partindo do princípio de que a Primeira Guerra Mundial foi um confronto de massas e não exércitos, aquelas agências tentaram intoxicar seus próprios povos, assim como os de seus aliados e seus inimigos.

A propaganda moderna começa com a publicação, em Londres, do relatório Bryce sobre crimes de guerra na Alemanha, documento que foi traduzido para 30 idiomas. De acordo com o relatório de Bryce, o exército alemão havia estuprado milhares de mulheres na Bélgica, assim que britânicos estavam lutando contra a barbárie. Após a Primeira Guerra Mundial, foi descoberto que todo o relatório era uma mentira inteiramente fabricada com falsos testemunhos e com a ajuda de vários jornalistas.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, George Creel inventou uma história que apresentava a Primeira Guerra Mundial como uma cruzada das democracias pela paz que materializaria os direitos da humanidade.

Os historiadores têm mostrado que a Primeira Guerra Mundial teve causas tão imediatas como profundas, sendo a mais importante entre elas, a rivalidade entre as grandes potências que competiam entre si para estender os seus impérios coloniais.

As agências de propaganda dos EUA e Reino Unido eram organizações secretas que trabalham para o Estado. Elas se diferenciavam da propaganda leninista, que ambicionava "revelar a verdade" para as massas ignorantes, em que os anglo-saxões estavam tentando enganar e manipular. Para conseguir isso, as organizações estaduais anglo-saxônicas tinham que agir de forma solapada e usurpando falsas identidades.

Após o fim da União Soviética, os EUA deram menos importância à propaganda e optaram pelas Relações Públicas. O objetivo já não era mentir, mas levar os jornalistas pelas mãos para que vissem unicamente o que fosse mostrado. Durante a guerra do Kosovo, a OTAN recorreu ao Alastair Campbell, um assessor do primeiro-ministro para contar para a imprensa uma história diferente cada dia. Enquanto os jornalistas se entretinham relatando as histórias de Campbell, a aliança atlântica podia bombardear "em paz". O objetivo não era tanto mentir, mas sim desviar a atenção.

Mas o que tem sido chamado de story telling [em português, "contar estórias"] conquistou grande força com o 11 de setembro de 2001. O objetivo era concentrar a atenção do público sobre os atentados em Nova Iorque e Washington para que não vissem o golpe de estado militar que ocorreu naquele dia: transferência dos poderes executivos do presidente George W. Bush a uma entidade militar secreta e detenção camuflada de todos os membros do Congresso dos EUA. Essa operação de intoxicação foi a obra de Benjamin Rhodes, atual conselheiro do presidente Barack Obama (foto).

Durante os anos seguintes a Casa Branca criou um sistema de intoxicação com os seus principais aliados (Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e, claro, Israel). Esses quatro governos recebiam instruções diárias, até mesmo discursos prontos, enviados pelo Global Media Bureau para justificar a guerra contra o Iraque e caluniar o Irã [1].

Desde 1989, Washington se apoiava na CNN para disseminar rapidamente as suas mentiras. Com o tempo, os EUA foi criando um cartel de redes informativas de televisão via satélite (Al-Arabiya, Al-Jazeera, BBC, CNN, France24, Sky). Em 2011, durante os bombardeios da OTAN em Tripoli, a OTAN conseguiu convencer bruscamente os líbios de que tinham perdido a guerra e que qualquer resistência era inútil.

No entanto, em 2012, a OTAN não conseguiu reeditar a manobra para convencer os sírios que a derrubada de seu governo era inevitável. A repetição daquela manobra falhou porque os sírios tinham conhecimento do que aconteceu na Líbia, onde os canais de televisão internacionais tinham manipulado a situação. Sabendo disso, o Estado sírio teve tempo para se preparar para combater a manipulação que havia sido preparada [2]. Esta falha marcou o fim da hegemonia do cartel da"informação".

A atual crise entre Washington e Moscou sobre a situação na Ucrânia obrigou à administração Obama a rever o seu sistema. Washington já não é o único que consegue ser ouvido, senão que tem que refutar os argumentos do governo e dos meios de comunicação russos, acessíveis em qualquer lugar do mundo através de transmissões via satélite e internet. O secretário de Estado John Kerry teve de nomear um novo secretário-assistente encarregado da propaganda: o ex-editor chefe da revista Time Magazine, Richard Stengel [3]. Na verdade, Stengel já estava no cargo desde antes do 15 de abril de 2014, data na qual prestou juramento para o cargo. Mas em 15 de março, ele já havia enviado para os principais meios da impressa atlantista uma "Folha Informativa" sobre as "10 falsidade" de Vladimir Putin sobre Ucrânia [4]. O mesmo foi feito em 13 de abril, entregando um segundo documento com "outras 10 falsidades" [5].

A primeira coisa que chama a atenção ao ler o texto é a necedade que o caracteriza. O texto tem como objetivo validar a versão oficial sobre uma revolução em Kiev e desacreditar o discurso russo sobre a presença de nazistas no novo governo ucraniano, quando sabemos que em Kiev não houve uma revolução, mas um golpe de Estado fomentado pela OTAN e executado pela Polônia e Israel com uma mistura de receitas para "revoluções coloridas" e "primaveras árabes" [6].

Os jornalistas que receberam a "folhas informativas" do governo dos EUA e ecoaram o seu conteúdo também conhecem perfeitamente o conteúdo da conversa telefônica da Secretária de Estado, Victoria Nuland, sobre como Washington iria mudar o regime na Ucrânia – em detrimento da União Européia, e a do ministro estonianos dos Negócios Exteriores, Urmas Paets, sobre a verdadeira identidade dos atiradores na Praça Maidan. Eles também já tinham tido conhecimento das revelações semanário polonês Nie sobre o treinamento dos líderes nazistas na Academia de Polícia da Polônia, dois meses antes dos acontecimentos da Praça Maidan. Em relação a negar a presença de nazistas no novo governo ucraniano é como dizer que o sol nasce durante a noite. Não há necessidade de ir a Kiev para verificá-lo, basta ler os escritos dos atuais ministros e ouvir suas declarações [7].

No final das contas, apesar de todos os argumentos que Washington se toma o trabalho de enviar por escrito às redações e que permitem criar a ilusão de que existe um consenso na grande imprensa atlantista, o fato é que eles não têm nenhuma chance de convencer os cidadãos minimamente curiosos. Pelo contrário, é tão fácil descobrir o engano navegando um pouco na internet que esse tipo de manipulação não vai conseguir nada além de reduzir ainda mais a credibilidade de Washington.

O 11 de Setembro de 2001, a unanimidade da imprensa atlantista permitiu convencer a opinião pública internacional. Mas o trabalho que muitos jornalistas e cidadãos -entre os quais tenho a honra de me incluir- têm vindo realizando desde então tem mostrado a impossibilidade material do que é afirmado na versão oficial. Treze anos após o fato, centenas de milhões de pessoas ficaram cientes das mentiras. E serão cada vez mais numerosos... graças ao novo dispositivo estadunidense de propaganda. O resultado final é que aqueles que ecoam a propaganda da Casa Branca, principalmente os governos e os meios de comunicação da OTAN estão destruindo sua própria credibilidade.

Barack Obama e Benjamin Rhodes, John Kerry e Richard Stengel trabalham apenas para o curto prazo. Sua propaganda só convence as pessoas por cerca de algumas semanas. Mas ios deixam indignados quando descobrem a manipulação. Esses personagens estão involuntariamente minando a credibilidade das instituições dos Estados da OTAN que ecoam sua propaganda conscientemente. Eles se esqueceram de que a propaganda do século XX funcionava apenas porque o mundo estava dividido em dois blocos que não se comunicam entre si e que o controle monolítico ao que aspiram é incompatível com as novas mídias.

Embora ainda não concluída, a crise na Ucrânia já mudou profundamente o mundo. Por contradizer publicamente o presidente dos EUA, Vladimir Putin deu um passo à frente para impedir o sucesso da propaganda norte-americana.

Notas:

[1] «Un réseau militaire d'intoxication» (Fr-«Uma rede militar de intoxicação»-ndT), Réseau Voltaire, 8 décembre 2003.

[2] "A NATO prepara uma vasta operação de intoxicação", por Thierry Meyssan, Komsomolskaïa Pravda/Rede Voltaire, 13 de Junho de 2012.

[3] «Redactor-chefe da Time Magazine nomeado chefe da propaganda norte- americana», Rede Voltaire,18 de Abril de 2014.

[4] "Informativo do Departamento de Estado: dez alegações falsas sobre a Ucrânia", Rede Voltaire, 5 de Março de 2014.

[5] "Informativo do Departamento de Estado sobre alegações falsas sobre a Ucrânia", Rede Voltaire, 13 de Abril de 2014.

[6] "Ucrânia: a Polónia tinha formado os golpistas com dois meses de antecedência", por Thierry Meyssan, Traduction Alva, Rede Voltaire, 19 de Abril de 2014.

[7] "Quem são os nazis no governo ucraniano?", por Thierry Meyssan, Traduction Alva, Rede Voltaire, 5 de Março de 2014.

Thierry Meyssan é  Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.

Tradução: Natalia Forcat.


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