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obamarosaparksEstados Unidos - ITT - [Keeanga-Yamahtta Taylor] A classe molda de maneira básica a nossa trajetória social e económica. Mas por si só não explica como a pobreza, o desemprego e a desigualdade de salários afetam as comunidades Latina e Afro-Americana, nem o papel da discriminação racial na persistência da pobreza.


No seu discurso de 4 de dezembro de 2013 sobre o crescente fosso entre ricos e pobres nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama foi ao ponto de descrever a desigualdade como "o desafio que define o nosso tempo". E tem razões para isso: desde que Obama tomou posse, as classes dos pobres aumentaram quase seis milhões, levando a um total de 49.7 milhões de Americanos com um rendimento estacionado abaixo da linha de pobreza federal, à volta duns 23,500 dólares por ano para uma família de quatro.

Mas nos meios de comunicação muitos focaram em cheio um ponto mais restrito que o presidente colocou quando retratou a pobreza como fenómeno que transcende raça e lugar, dizendo, "a disparidade de oportunidades na América tem agora tanto a ver com classe como com raça, e está a aumentar".

Jamelle Bouie, do The Daily Beast, argumentou que ao lidar com a crença, entre alguns eleitores brancos, de que a política anti-pobreza ajuda "os pobres que não merecem" - isto é os que não são brancos - Obama tentou marcar pontos politicamente. Muitos outros repetiram acriticamente a visão de Obama de que a classe é um determinante da pobreza tão importante como a raça.

A verdade, contudo, é mais complicada. Naturalmente, a classe molda de maneira básica a nossa trajetória social e económica. Mas por si só não explica como a pobreza, o desemprego e a desigualdade de salários afetam as comunidades Latina e Afro-Americana, nem o papel da discriminação racial na persistência da pobreza.

Num aspeto, o reconhecimento da pobreza entre os brancos realça a forma como a pobreza está a consumir porções cada vez maiores da América. Há 19 milhões de pessoas brancas pobres nos Estados Unidos — e o número está a crescer. Uns alarmantes 76% de brancos vão passar por períodos de desemprego, prestações sociais ou pobreza nas suas vidas.

Contudo, mesmo que as fileiras de pobres brancos se tenham avolumado, a América Negra tem estado em queda livre económica. Desde 2000, enquanto que a proporção de Americanos brancos abaixo da linha de pobreza cresceu em cerca de 3%, até aos 12,7%, a percentagem de Americanos Negros que são pobres deu um salto de quase 5%, até aos 27,2%. Entretanto, Latinos e Negros foram atingidos mais duramente pelo declínio na habitação do que os brancos, perdendo muito mais do seu património líquido (44% e 31%, respetivamente, contra 11%). E através de toda a recessão e recuperação, o desemprego Negro manteve-se duas vezes mais alto do que o desemprego branco.

A questão não está apenas em mostrar quem está pior, mas em destacar como a discriminação racial exacerba a pobreza entre Americanos Africanos no emprego, habitação, educação e mais além. Desde Kennedy a Obama, os políticos dos Estados Unidos têm insistido em que "quando a maré sobe levanta todos os barcos". Contudo os Afro-Americanos têm-se mantido desproporcionalmente pobres e desempregados durante os últimos 50 anos – incluindo nos pontos altos económicos da expansão do pós-guerra e nos anos 90.

A discriminação racial não transparece apenas na pobreza, no emprego e no património líquido. Afeta também a mobilidade ascendente, determinando o acesso à educação pública de alta qualidade, à universidade e ao tipo de relações sociais que conduzem a empregos bem-pagos, a melhor habitação e a mais alta qualidade de vida. É precisamente por isto que ainda precisamos de ação afirmativa e outros programas dirigidos a remediar sistematicamente a discriminação histórica e atual anti-Negros.

Qualquer movimento pela justiça racial terá de bater-se com a interrogação de porque tantos trabalhadores Negros e de pele escura acabam num beco sem saída, no trabalho mal pago em primeiro lugar. Aqui basicamente é que o discurso de Obama se espalhou ao comprido. Em vez "de virar a página" da raça para nos concentrarmos na classe, devemos compreender como a raça agrava a desigualdade de classe — o que por sua vez requer o reconhecimento de que o racismo está ainda vivo e de boa saúde nos Estados Unidos.

Não podemos conter a respiração e esperar que Obama ataque esses problemas. Ele mostrou pouca vontade de encarar o racismo de frente e, apesar do seu discurso, não ofereceu qualquer programa novo ou mais dinheiro para enfrentar a crise da desigualdade.

Em vez disso, a nossa maior esperança reside nos trabalhadores mal pagos e outros ativistas de anti-pobreza que saíram à rua durante o ano que passou. A gente de cor está sobre-representada nas suas fileiras: 20% de empregados da Walmart são Afro-Americanos, tornando-a a maior empregadora de Afro-Americanos. Os Negros e os Latinos totalizam 40% de todos os trabalhadores mal pagos. O movimento emergente dos trabalhadores mal pagos está a dar um exemplo de como enfrentar a disparidade crescente entre ricos e pobres e tem potencial para tornar-se também um movimento pela justiça racial.

Tradução Paula Sequeira.


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