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natal-1Diário Liberdade - [Antonio Carlos Mazzeo] Gostemos ou não, a festividade do Natal traz em seu núcleo o aspecto positivo da redenção humana.


Na mitologia cristã, Jeová quando manda seu filho à terra, o faz com o sentido magnânimo do perdão. Até então, na visão ideo-religiosa hebráica, os homens iam aos templos imolar cordeiros para livrarem-se de seus pecados. O sentido cristão recompõe a lógica Mosaica. Agora, é o próprio deus que imola seu filho para a redenção da humanidade! Esse é um grande passo para a construção de uma identidade igualitária de caráter universal, ainda que mística. O revisionismo cristão do judaísmo coloca como filho de deus todo aquele que aceita sua palavra, quer dizer, a nova cosmologia ideo-religiosa que se desprende do mundo romano em decadência. Agora, todos são eleitos de deus, não há mais um "povo ungido". Cristo aparece como o cordeiro de deus que livra os pecados do mundo. Como afirma o apostolo Paulo, ou melhor, Shaul de tarso - o judeu revisionista e helenizado, o cidadão romano que difunde a nova religião no Ocidente - , "já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem, nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Bíblia, Gálatas,II, 28).

Paulo e mais tarde os filósofos cristãos Clemente de Alexandria e seu discípulo Orígenes lançam as bases de uma concepção igualitária que mesmo sendo mística abre as possibilidades de se pensar o outro como portador dos mesmos direitos e deveres. Podemos dizer, no entanto, que essa foi a saída possível para os oprimidos, após a derrota das revoluções dos escravos, principalmente da emblemática rebelião liderada por Spartacus, em 73 a.C. A igualdade já não seria desse mundo, mas sim encontrada no reino deus - como afirma Shaul/Paulo de Tarso:" Nós, porém, somos cidadãos dos céus [...]" – idem, Filipenses, III, 20. De qualquer modo estava lançada uma noção que sem dúvida, pode ser considerada revolucionária. Não esqueçamos que no mito, Cristo nasce numa manjedoura (lugar onde comem os animais) de um estábulo e que os apóstolos viviam coletivamente dividindo o pouco que possuiam!

O legado igualitário, mais tarde será reprocessado ideologicamente pela burguesia revolucionária e depois, superado pelo projeto comunista. Para os burgueses a igualdade continua mística mas, agora, não está no céu e sim no Estado, uma estrutura burocrático-ideológica que administra as relações sociais do capitalismo através do mito da democracia burguesa e da igualdade formal garantida por um "Estado democrático de direito" que defende o direito hegemônico da burguesia.

Para os comunistas, a igualdade radicalizada aprofunda a democracia a limites nunca vistos, possibilitando a construção de uma sociedade mais que igualitária, a sociedade dos produtores associados, a sociedade comunista, sem opressores e oprimidos, sem exército, sem o Estado e de plena liberdade.

Muitos cristãos (assim como judeus e islâmicos, etc) adotam o projeto revolucionário do comunismo, não como uma perspectiva mísitca de realização no "outro mundo", mas como uma possibilidade racional de civilidade humana. Esses religiosos devem ser respeitados e tratados como membros do projeto de emancipação humana que nós comunistas defendemos.

E se tornaram revolucionários porque foram radicais, no sentido marxiano de se ir à raiz das coisas. Na raiz do cristianismo, todos somos iguais e todos merecemos um mundo sem exploração do homem pelo homem. No cristianismo original não havia a pompa do poder, mas culto da solidariedade e o da divisão do pão e do vinho!

No espírito do igualitarismo profundo dos primeiros cristãos, desejo a todos um Feliz Natal!

Foto: a nova "manjedoura" da miséria capitalista.

Antonio Carlos Mazzeo é cientista social e professor da UNESP, campus Marília.

Fonte: facebook do autor.


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