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081013 vietnameVietname - Diário Liberdade - Neste dia 9 de outubro, comemora-se o Dia do Guerrilheiro Heroico, em lembrança da execuçom extra-judicial de Ernesto Che Guevara por ordem da CIA.


Tendo em conta que há só quatro dias morreu um outro lendário luitador revolucionário, o general vietnamita Vo Nguyen Giap, achamos interessante juntar ambos génios da luita armada revolucionária, reproduzindo o prólogo que o guerrilheiro heroico dedicou ao comunista vietnamita, na introduçom da obra deste 'Guerra do Povo, Exército do Povo'.

O texto foi publicado na nossa língua na Biblioteca Marxista em Galego, há 11 anos, no ano 2002, disponível desde aquela altura no site de Primeira Linha. É daí que o trazemos para as nossas leitoras e leitores como dupla homenagem a Che e a Giap.

Prólogo a Guerra do Povo, Exército do Povo, de Vo Nguyen Giap

Ernesto Che Guevara

Prólogo ao livro de Vo Nguyen Giap, Guerra do povo, exército do povo, Editora Política, Habana 1964. Traduzido a partir de Escritos y discursos, tomo 1, Editorial de Ciencias Sociales, Havana 1972, páginas 225-232

Ediçom digital de 18 de Setembro de 2002

Consideramos umha alta honra prologar este livro baseado nos escritos do vicegeneral Vo Nguyen Giap, actualmente Primeiro Ministro da Defesa Nacional e Comandante em Chefe do Exército Popular da República Democrática do Viet Nam. O general Gial fala com a autoridad que lhe confere a sua longa experiência pessoal e a do partido na luita de libertaçom. A obra, que tem de por si umha actualidade permanente, reveste mais interesse, se couber, devido à tumultuosa série de acontecimentos acontecidos nos últimos tempos nesta regiom da Ásia, e às controvérsias surgidas sobre o uso adequado da luita armada como meio de resolver as contradiçons insalváveis entre exploradores e explorados, em determinadas condiçons históricas.

Os combates que, exitosamente, levaram durante longos anos os heróicos exércitos e o povo inteiro do Viet Nam, repetem-se agora; o Viet Nam do Sul está em pé de guerra; a parte do país arrebatada ao seu legítimo dono, o povo vietnamita, está cada vez mais perto da vitória. Ainda quando os inimigos imperialistas ameacem com enviar milhares de homens, os desaforados falem do uso da bomba atómica táctica e o general Taylor seja nomeado embaixador da chamada “República do Viet Nam do Sul” e, tacitamente, comandante em chefe dos exércitos que tratarám de liquidar a guerra do povo, nada impedirá a sua derrota. Muito perto, no Laos, a guerra civil acendeu, provocada também polas manobras dos norte-americanos, apoiados de umha maneira ou outra polos seus aliados de sempre, e o reino neutral da Camboja, parte, como os seus irmaos Laos e Viet Nam, da antiguamente chamada Indochina francesa, está sujeita a violaçons das suas fronteiras e a ataques permanentes, pola sua posiçom erguida em defesa da neutralidade e do direito a viver como naçom soberana.

Por isto todo, a obra que prologamos sobarda os limites de um episódio histórico determinado e adquere vigência para toda a zona; mas, além disso, os problemas que coloca tenhem particular importáncia para a maior parte dos povos da América Latina submetidos ao domínio do imperialismo norte-americano, sem contarmos com que seria de extraordinário interesse o conhecimento dela para todos os povos de África que dia a dia sustenhem luitas cada vez mais duras, mas também repetidamente vitoriosas, contra os colonialistas de diversa índole.

vietO Viet Nam tem características especiais; umha civilizaçom muito velha e umha longa tradiçom como reino independente com particularidades próprias e cultura autóctone. Dentro da sua milenária história, o episódio do colonialismo francês é pouco mais do que umha pinga de água. No entanto, as suas qualidades fundamentais e opostas do agressor igualam, em termos gerais, as contradiçons insalváveis que se apresentam em todo o mundo dependente, bem como a forma de resolvê-las: Cuba, sem conhecer estes escritos, bem como também nom outros que sobre o tema se tinham feito narrando as experiências da Revoluçom chinesa, iniciou o caminho da sua libertaçom por métodos semelhantes, com o sucesso que está hoje à vista de todos.

Portanto, esta obra coloca questons de interesse geral para o mundo em luita pola sua libertaçom. Podem resumir-se assim: a factabilidade da luita armada, em condiçons especiais em que tenham fracassado os métodos pacíficos de luita de libertaçom; o tipo que deve ter esta, em lugares com grandes extensons de terreno favorável para a guerra de guerrilhas e com populaçom camponesa maioritária ou importante.

Apesar de que o livro se baseia numha compilaçom de artigos, tem boa ilaçom, e certas repetiçons nom fam mais do que dar-lhe maior vigor ao conjunto.

Trata-se nele da guerra de libertaçom do povo vietnamita; da definiçom desta luita como guerra do povo e do seu braço executor como exército do povo; da exposiçom das grandes experiências do partido na direcçom da luita armada e a organizaçom das forças armadas revolucionárias. O capítulo final trata sobre o episódio definitiov da contenda, Dien Vien Fu, em que já as forças de libertaçom ganham em qualidade e passam à guerra de posiçons, derrotando também neste terreno o inimigo imperialista.

Começa-se narrando como, depois de acabada a guerra mundial com o triunfo da Uniom Soviética e das potências aliadas do Ocidente, França burlou todos os acordos e levou o país a umha situaçom de extrema tensom. Os métodos pacíficos e racionais de resolver as controvérsias fôrom demonstrando a sua inutilidade, até que o povo tomou a via da luitar armada; nesta, polas características do país, o peso fundamentalmente recaia no campesinato. Era umha guerra de características camponesas, polos lugares fundamentais de acçom e pola composiçom fundamental do exército, mas estava dirigida pola ideologia do proletariado, fazendo válida mais umha vez a aliança operário-camponesa como factor fundamental da vitória. Embora nos primeiros momentos, polas características da luita anticolonialista e antiimperialista, era umha guerra de todo o povo, e umha grande quantidade de gente cuja extracçom nom respondia exactamente às definiçons clássicas de camponês pobre ou de operário, incorporava-se também à luita de libertaçom; a pouco e pouco, definiam-se os campos e começava a luita antifeudal, atingindo entom o seu verdadeiro carácter de antiimperialista, anticolonialista, antifeudal, dando como resultado o estabelecimento de umha revoluçom socialista.

A luita de massas foi utilizada durante todo o transcorrer da guerra polo partido vietnamita. Foi utilizada, em primeiro lugar, porque a guerra da guerrilha nom é mais do que umha expressom da luita de massas e nom se pode pensar nela quando esta está isolada do seu meio natural, que é o povo; a guerrilha significa, neste caso, a avançada numericamente inferior da grande maioria do povo que nom tem armas mas que exprime na sua vanguarda a vontade de triunfo. Aliás, a luita de massas foi utilizada nas cidades em todo o momento como arma imprescindível para o desenvolvimento da luita; é muito importante salientar que a luita de massas, no decurso da acçom pola libertaçom do povo vietnamita, nunca cedeu os seus direitos para acolher-se a determinadas concessons ao regime; nom parlamentou sobre concessons mútuas, colocou a necessidade de obter determinadas liberdades e garantias sem qualquer contrapartida, evitando assim que, em muitos sectores, a guerra se figesse mais cruel ainda do que a faziam os colonialistas franceses. Este significado da luita de massas no seu carácter dinámico, sem compromissos, dá-lhe umha importáncia fundamental à compreensom do problema da luita pola libertaçom na Latino-América.

O marxismo foi aplicado conseqüentemente à situaçom histórica concreta do Viet Nam, e por isso, guiados por um partido de vanguarda, fiel ao seu povo e conseqüente na sua doutrina, atingírom tam sonada vitória sobre os imperialistas.

As características da luita, em que houvo que ceder terreno e esperar muitos anos para ver o resultado final da vitória, com vaivéns, fluxos e refluxos, dam-lhe o carácter de guerra prolongada.

081013 chegDurante todo o tempo da luita pudo-se dizer que a frente estava onde estava o inimigo; num momento dado, este ocupava quase todo o país e a frente estava espalhada por onde o inimigo estivesse; logo a seguir houvo umha delimitaçom de linhas de combate e ali havia umha frente principal, mas a retaguarda inimiga constituia constantemente um outro cenário para os bandos em luita, de maneira que a guerra foi totoal e que nunca os colonialistas pudérom mobilizar à vontade, num terreno de base sólida, as suas tropas de agressom contras zonas libertadas.

A palavra de ordem “dinamismo, iniciativa, mobilidade, decisom rápida ante situaçons novas”, é síntese soma da táctica guerrilheira, e nessas poucas palavras está exprimido todo a dificílima arte da guerra popular.

Em certos momentos, as novas guerrilhas, alçadas sob a direcçom do partido, estavam ainda em lugares nos quais a penetraçom francesa era muito forte e a populaçom estava aterrorizada; nesses casos, praticavam constantemente o que os vietnamitas chamam a “propaganda armada”. A propaganda armada é simplesmente a presença de forças de libertaçom em determinados lugares, que vam mostrando o seu poderio e a sua embatibilidade, submidos no grande mar do povo como peixe na água. A propaganda armada, ao perpetuar-se na zona, catalisava as massas com a sua presença e revolucionava imediatamente a regiom, acrescentando novos territórios aos já conseguidos polo exército do povo. É assim que proliferam as bases e as zonas guerrilheiras em todo o território vietnamita; a táctica, neste caso, estava resumida numha palavra de ordem que se expressa assim: se o inimigo se concentrar, perde terreno, se se diluir, perde força, no momento em que o inimigo se concentrar para atacar duramente, cumpre contraatacar em todos os lugares onde reunciou ao emprego disperso das suas forças; se o inimigo volta a ocupar determinados lugares com pequenos grupos, o contraataque fará-se consoante a correlaçom existente em cada lugar, mas a força fundamental de choque do inimigo terá-se diluido mais umha vez. Eis um outro dos ensinamentos fundamentais da guerra de libertaçom do povo vietnamita.

Na luita, tem-se passado por três etapas que caracterizam, em geral, o desenvolvimento da guerra do povo; inicia-se com guerrilhas de pequeño tamanho, de extraordinária mobilidade, diluíveis completamente na geografia física e humana da regiom: com o decorrer do tempo, produzem-se acontecimentos quantitativos que, num dado momento, dam passagem ao grande salto qualitativo que é a guerra de movimentos. Aqui som grupos mais compactos os que agem, dominando zonas inteiras; embora os seus meios sejam maiores e a sua capacidade de castigar o inimigo muito mais forte, a mobilidade é a sua característica fundamental. Depois de um outro período, quando maduram as condiçons, chega-se à etapa final da luita em que o exército se consolida e, inclusive, à guerra de posiçons, como aconteceu em Dien Bien Fu, pontilha à ditadura colonial.

No transcorrer da contenda que, dialecticamente, vai desenvolvenod-se até culminar, no ataque de Dien Bien Fu, em guerra de posiçons, criam-se zonas libertadas, ou semi-libertadas do inimigo, que constituem territórios de autodefesa. A autodefesa é concebida polos vietnamitas também num sentido activo como parte de umha luita única contra o inimigo; as zonas de autodefensa podem defender-se elas próprias de ataques limitados, subministram homens ao exército do povo, mantenhem a segurança interna da regiom, mantenhem a produçom e asseguram o abastecimento da frente. A autodefesa nom é nada mais do que umha parte mínima de um todo, com características especiais; nunca pode conceber-se umha zona de autodefesa como um todo em si, quer dizer, umha regiom onde as forças populares tentem defender-se do ataque do inimigo enquanto todo o território exterior à dita zona fica sem convulsons. Se assim acontecesse, o foco seria localizado, atenazado e abatido, a nom ser que passasse imediatamente à fase primeira da guerra do povo, quer dizer, à luita de guerrilhas. Como já temos dito, todo o processo da luita vietnamita deveu basear-se no campesinato.

Num primeiro momento, sem umha definiçom clara dos marcos da luita, esta fazia-se somente polo interesse da libertaçom nacional, mas aos poucos delimitavam-se os campos, transformavam-se numha típica guerra camponesa e a reforma agrária estabelecia-se no curso da luita, quando as contradiçons aprofundavam e, a um tempo, a força do exército do povo; é a manifestaçom da luita de classes dentro da sociedade em guerra. Esta era dirigida polo partido com o fim de anular a maior quantidade possível de inimigos e de utilizar ao máximo as contradiçons com o colonialismo dos amigos pouco firmes. Assim, conjugando acertadamente as contradiçons, é que o partido pudo aproveitar todas as forças emanadas destes choques e atingir o triunfo no menor tempo possível.

081013 giapvietNarra-nos também o companheiro Vo Nguyen Giap a estreita ligaçom que existe entre o partido e o exército, como, nesta luita, o exército nom é senom umha parte do partido dirigente da luita. Da estreita ligaçom que existe por seu turno entre o exército e o povo; como o exército e o povo nom som senom a mesma cousa, o que mais umha vez se vê corroborado na síntese magnífica que figera Camilo: “o exército é o povo uniformado”. O corpo armado, durante a luita e depois dela, deveu adquirir umha técnica nova, técnica que lhe permitirá ultrapassar as novas armas do inimigo e rejeitar qualquer tipo de ofensiva.

O soldado revolucionário tem umha disciplina consciente. Durante todo o processo, caracteriza-se fundamentalmente pola sua autodisciplina. Por sua vez, no exército do povo, respeitando todas as regras dos códigos militares, deve haver umha grande democracia interna e umha grande igualdade na obtençom dos bens necessários aos homens em luita.

Em todas estas manifestaçons, o general Nguyen Giap assinala o que nós conhecemos pola nossa própria experiência, experiência que se realiza alguns anos depois de conseguido o triunfo polas forças populares vietnamitas, mas que reforça a ideia da necessidade da análise profunda dos processos históricos do momento actual. Esta deve ser feita à luz do marxismo, utilizando toda a sua capacidade criadora, para poder adaptá-lo às circunstáncias diversas de países, dissímeis em todo o que di respeito ao aspecto exterior da sua conformaçom, mas iguais na estrutura colonizada, na existência de um poder imperialista opressor e de umha classe associada a ele por ligaçons muito estreitas. Após umha análise certeira, chega o general Giap à seguinte conclusom: “Na conjuntura actual do mundo, umha naçom, embora seja pequena e fraca, que se alce num só homem sob a direcçom da classe operária para luitar resoltamente pola sua independência e a democracia, tem a possibilidade moral e material de vencer todos os agressores, nom importa quais forem. Em condiçons históricas determinadas, esta luita pola libertaçom nacional pode passar por umha luita armada de longa duraçom -a resistência prolongadal- para atingir o triunfo”. Estas palavras sintetizam as características gerais que deve assumir a guerra de libertaçom nos territórios dependentes.

Achamos que a melhor declaraçom para acabar o prólogo é a mesma que utilizam os editores deste livro e com a qual estamos identificados: “Oxalá que todos os nossos amigos que, como nós, sofrem ainda os ataques e as ameaças do imperialismo, podam encontrar em Guerra do povo, exército do povo, o que achamos nós próprios: novos motivos de fé e esperanças”.

Fonte: Primeira Linha.

 


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