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books-008Reino Unido - Comment is Free - [Owen Hatherley - tradução de Livia Lima para o Diário Liberdade] O sistemacapitalista alterou a língua inglesa- e Raymond Williams previu esse fato há mais de 50 anos atrás.


De acordo com um relatório elaborado pelos pesquisadores da Universidade de Los Angeles, o inglês se tornou uma língua de cunho capitalista peculiar – muito embora eles não tenham afirmado exatamente isso. Ele usaram um instrumento, que de alguma maneira atenua os resultados, no qual são inseridos 1,5 milhões de livros em inglês no "Ngram Viewer", uma ferramenta que cataloga o uso das palavras com o intuito de contar a frequência com a qual elas foram utilizadas. Os resultaram demonstraram que nos últimos 200 anos houve um aumento significativo no uso de palavras de cunho particularmente aquisitivo: "conseguir", "único", "individual", "escolher", "próprio"; enquanto durante o mesmo período palavras como "doar" e "obrigar" tiveram seus usos diminuídos. O padrão só foi rompido brevemente nos 40 e 70, anos considerados relativamente igualitários. Para os pesquisadores, isso mostra o resultado dos países de língua inglesa mudando de um cenário de baixa tecnologia e predominantemente rural a uma sociedade de alta tecnologia e predominantemente urbana.

Alguns acadêmicos preferem não usar aquela palavra iniciada com a letra "C", o que aconteceu nos últimos 200 anos foi o aumento da predominância do capitalismo, que obviamente mudou, e continua mudando, as nossas linguagem e raciocínio. Os pesquisadores descobriram uma versão mais algorítmica e superficial daquilo que o escritor socialista galês Raymond Williams já havia tentado decifrar – a maneira pela qual o inglês se tornou uma linguagem de classe, onde palavras de efeito (e pronúncias, como frequentemente salientado por ele) foram aceitas como "padrão".

Em "Culture and Society ("Cultura e Sociedade- 1958), Williams fez seu leitor pensar sobre certas palavras-chave cujos signifi: "classe", "democracia", "arte" e "indústria" eram termos antigos que praticamente adquiriam novos significados. Durante o mesmo período de 200 anos, estudado pelos pesquisadores de Los Angeles, a palavra "artista, por exemplo, que antes significava "uma pessoa habilidosa" passou a se referir a "um tipo especial de pessoa" que trabalha com sua imaginação ou no campo das artes "criativas".

No livro "The Long Revolution" (Uma longa Revolução – 1961), Williams deixou de lado a literatura para encontrar as raízes do discurso de classe dentro da língua inglesa, onde algumas palavras francesas e anglo saxônicas sempre carregaram consigo uma série de significados.: "nós podemos encontrar os menores vestígios do preconceito de classe na persistente equação que se faz entre qualidades morais e denominações classistas: base, servo, camponês e rústico para os pobres" – geralmente termos que sugerem exatamente o oposto da expressão "nascer em berço de ouro" – enquanto "gentil", "orgulhoso" e "rico" foram termos aristocráticos de origem francesa (dos verbetes franceses gentil, prud e rich).

Na sua obra "Communications" (Comunicações – 1962), Williams deu especial atenção ao uso de metáforas bélicas nos textos jornalísticos – "bomba", "hit", "batalha", "ataque" – termos masculinos que tentam determinar, de maneira sutil, a opinião do leitor sobre um assunto especifico. Em "In the Long Revolution, Williams também olhou mais de perto para a palavra "consumidor", palavra que atualmente usamos quase que sem perceber para descrever o "consumo" de tudo, desde comida, a sapatos e até a planos de saúde. "O porquê do "consumidor" ser um termo tão popular está bem claro... uma parte considerável e crescente de nossa atividade econômica é direcionada em assegurar que nós consumamos o que a indústria acha conveniente que seja produzido. Ao passo que essa tendência aumenta, se torna cada vez mais óbvio que a sociedade não está controlando a vida econômica, mas está, em parte, sendo controlada por ela."

Outros termos, aparentemente equivalentes, na verdade não teriam o mesmo significado – se fôssemos "usuários" ao invés de "consumidores", Williams argumenta, "nós poderíamos olhar a sociedade de maneira muito diferente, pois o conceito de uso envolve capacidades gerais de julgamento humano – nós precisamos saber como usar as coisas e para que elas estão sendo utilizadas... ao passo que consumo, em seu padrão básico, tende a anular essas questões, as substituindo por uma absorção controlada e estimulada dos produtos de um sistema autônomo e externo."

Williams expandiu seu estudo no livro "Keywords" (Palavras-Chave, 1976), que se trata de um vocabulário inteiro de inglês político. Como seria uma versão contemporânea dessa obra de Williams? Eu suspeito que encontraria o verbete "consumidor" sendo usado de maneira ainda mais frequente, e ainda uma miríade de estranhos termos motivacionais que apareceriam inquestionavelmente na linguagem sem que suas consequências soassem no mínimo óbvias. Hoje em dia frequente e automaticamente usamos termos como "regeneração", "rede social" e "empreendimento" – todos estes termos carregam consigo uma série de qualidades morais no momento em que são proferidos.

Até mesmo uma palavra tão central para a discussão política atual como "austeridade" é acompanhada de um viés bem próprio: a palavra tem sua origem do francês antigo, onde o termo francês austerite significava "dureza e crueldade", na Inglaterra possuía um sentido positivo, sendo associada à auto-restrição em benefício do bem estar social que foi se tornou necessário na economia dos tempos de guerra, quando hoje é utilizado para justificar políticas cujos efeitos são diretamente opostos à proteção do sistema de bem estar. Mas, para revelar as conclusões perniciosas por detrás dessas palavras tidas como inofensivas, mais do que um simples sistema de busca de palavras será necessário.

 

 

 


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