1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

Foto - Presidência das Maldivas - Al WaleedComment is Free - [G Monbiot, Trad. de Livia L para o DL] Serviços públicos essenciais são cortados afim de que os mais abastados paguem menos impostos. Mas nem mesmo sua ostentação os faz felizes.


" Eu nunca fiz nada por dinheiro. O dinheiro nunca foi colocado como objetivo final. Foi um resultado". Assim afirmou Bob Diamond, antigo presidente executivo do Banco Barclays. Ao fazer essa afirmação, Diamond coloca em xeque a justificativa que o seu e outros bancos (e seus inúmeros apologistas no governo e na mídia) desenvolveram para praticar níveis surreais de remuneração – incentivar o talento e o trabalho duro. Prestigio, poder, senso de proposito: para eles, estes são incentivos suficientes.

Outros de sua classe – Bernie Ecclestone e Jeroen van der Veer (o antigo presidente executivo da Shell), por exemplo, trabalham com a mesma dialética. A concentração de tanta riqueza nas mãos de ocupantes de altos cargos executivos não possuem nenhuma função útil. O que os muito ricos aparentemente valorizam é a remuneração relativa. Se os executivos fossem todos remunerados em apenas 5% de seus níveis atuais, a competição entre eles (de todos os modos uma virtude questionável) não seria menos acirrada. Ou ainda, como comentou há algumas décadas atrás o imensamente rico HL Hunt: "Dinheiro é só uma maneira de controlar a pontuação".

O desejo de avançar nessa escala parece ser simplesmente insaciável. Em março de 2013, a revista Forbes publicou um artigo sobre o Principe Alwaleed, que, dentre outros príncipes sauditas, dificilmente devem sua fortuna ao trabalho duro e às suas capacidades empreendedoras. De acordo com um dos antigos funcionários do príncipe, a lista dos mais ricos do mundo, produzida pela revista Forbes, "é a maneira pela qual ele deseja que o mundo julgue seu sucesso ou sua alteza".

O resultado é "um quarto de século de lobby, bajulações e ameaças, quando se trata dessa lista de patrimônio liquido". Em 2006, o pesquisador responsável por calcular sua riqueza declara que "quando a Forbes estimou que a riqueza do príncipe era na realidade 7 bilhões a menos do que ele afirmou ser, recebi em casa uma ligação dele, praticamente em prantos, um dia depois que a lista foi publicada. 'O que você quer?', ele dizia, me oferecendo seu banqueiro pessoal na Suíça. 'Me diga o que você precisa'".

Nada importa que ele possua seu próprio 747, no qual ele se senta em um trono durante os voos. Nada importa que o seu "palácio principal" tenha 420 quartos. Nada importa que ele possua o seu próprio parque de diversões e zoológico – e, ele afirma, $700 milhões em joias. Não importa que ele seja o homem mais rico da Arábia Saudita, avaliado pela Forbes em $20 bilhões, e que ele tenha assistido sua riqueza aumentar em $2 bilhões no ano passado. Nada disso é suficiente. Não há nenhuma linha de chegada, nenhuma aterrisagem tranquila, mesmo em um jato particular. A politica da competição são mais acirradas entre os super ricos.

Essa disputa pode sugar a vida de seus aderentes. No maravilhoso documentário "The Queen of Versailles (A Rainha de Versailles), de Lauren Greenfields, David Siegel – "o Rei do "timeshare" dos Estados Unidos da América – parece abandonar todo seu interesse pela vida ao enfrentar a perda de sua coroa. Ele ainda vale milhões de dólares. Ele ainda tem uma esposa e crianças adoráveis. Ele ainda está construindo a maior habitação familiar dos Estados Unidos da América.

Porém, a medida que a venda do arranha céu que leva o seu nome e simboliza sua preeminência começa a se tornar inevitável, ele se afunda em uma impenetrável depressão. Cabisbaixo, ele se senta sozinho em seu cinema privado, vasculhando obsessivamente os mesmos papéis, como se entre eles pudesse ser encontrada a chave para a sua restauração, se recusando a passar tempo com sua família, aparentemente preparado para arruinar a si mesmo ao invés de simplesmente perder uma estúpida torre.

Afim de garantir aos ricos esses prazeres, o contrato social é reconfigurado. O sistema de bem estar social desmantelado. Serviços públicos essenciais são cortados para que os ricos possam pagar menos impostos. A esfera publica é privatizada, são abandonadas as regulações que restringem os ultra ricos e as empresas que eles controlam, e níveis Eduardianos de desigualdade são quase que fetichizados.

Os políticos justificam essas mudanças, quando não recitando argumentos de araque sobre o déficit, com os incentivos hipoteticamente criados por elas. Por trás disso se encontra a promessa ou a impressão de que todos seremos mais felizes e satisfeitos como resultado final. Mas essa acumulação insensível e sem sentido não pode satisfazer nem mesmo seus beneficiários, exceto talvez- e temporariamente- o homem oscilando bem no topo da pirâmide.

O mesmo se aplica ao crescimento coletivo. Os governos de hoje em dia não enxergam nada além do crescimento econômico. Eles não são julgados pelo número de pessoas empregadas – muito menos pelo número de pessoas em empregos prazerosos e satisfatórios – e pela felicidade da população ou pela proteção da natureza. Um mundo sem emprego e destrutivo é aceito, desde que haja crescimento. Os fins não existem mais, há somente meios.

Em seu livro interessante porém curiosamente incompleto, "How much is enough? (Quanto é suficiente?)", Robert e Edward Skidelsky notam que "o capitalismo se baseia justamente nessa infindável expansão de desejos. Essa é a razão pela qual, por todo seu sucesso, ele permanece tão estimado. O capitalismo nos deu riqueza além da medida, mas nos tirou o maior benefício da riqueza: a consciência de ter o bastante... o sumiço de todos os fins intrínsecos nos deixa com apenas duas opções: estar a frente ou atrás. A nossa sina é a luta por posições".

Eles demonstram que as nações com as mais longas horas de trabalho – os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Itália, no gráfico das nações pertencentes a OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que é publicado no livro- são as nações com maiores níveis de desigualdade. Eles poderiam ter também adicionado o fato de que essas nações são também as três com os menores níveis de mobilidade social.

Diante desse quadro, pode-se tirar quatro possíveis conclusões. A primeira é de que a desigualdade realmente encoraja as pessoas a trabalharem com mais afinco, como os Skidelskys (e muitos outros neoliberais) afirmam: quanto maior a lacuna, mais as pessoas irão se esforçar para fechá-la. Ou talvez, pode ser simplesmente que as pessoas estejam desesperadas uma vez pressionadas pela pobreza e pelo débito. Uma explicação alternativa é o fato de que as desigualdades políticas e econômicas andam lado a lado: nas nações mais igualitárias, os patrões são capazes de direcionar seus trabalhadores mais rigidamente. A quarta observação possível é de que a desigualdade no trabalho possa estimular as pessoas, não auxilia no preenchimento das lacunas e no crescimento da mobilidade social.

Parece também que não nos deixa coletivamente mais ricos. Os holandeses ganham uma média de $42,000 per capita sobre 1400 horas de trabalho por ano, ao passo que os britânicos ganham $36,000 por 1650 horas. Desigualdade, competição e a obsessão por riqueza e posicionamento social parecem ser elementos que se auto perpetuam e destinados a fomentar o desespero.

Será que seremos capazes de superar essa questão? Será que seremos capazes de buscar satisfações que não nos custem o planeta terra e pareçam alcançáveis? O principal objetivo de qualquer nação rica deveria ser: "já temos o suficiente".

 


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.