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270713 esfingeBlog Convergência - [Jean Menezes] A convergência para esta interrogação parece não estar livre de problematizações maiores.


Como a pergunta não é nova podemos contar com uma grande bibliografia que nos auxilia diante dos novos problemas. Perguntas que não se silenciam com o processo histórico, que não se obsoletam com o passar do tempo se colocam como importantes por dois motivos centrais: o primeiro é de obviedade, pois ainda não se colocaram diante de respostas efetivas; o segundo motivo é o fator provocador de inquietude lançado pela pergunta em sua capacidade de reativar a constante tentativa de respondê-la e não ser devorado pela esfinge. É verdade que outros motivos poderiam ser elencados, todavia, ficamos apenas com estes. Desta forma, propomos a devida atenção ao segundo motivo: os enigmas da esfinge.

Sófocles já por volta de 427 a.C. apresentara esta figura da esfinge como parte central da história grega que movida pelas problematizações se constituía em glórias, sobretudo em tragédias ou as duas coisas combinadas. A esfinge de Tebas devorava aqueles que não fossem capazes de decifrar o seu enigma também atormentando e apavorando a população desta cidade grega.

Algo semelhante continua a estrangular os historiadores: o tempo presente.

Concordar com a possibilidade de escrever sobre o tempo presente não é equivalente a afirmar que se consegue entender o tempo escrito. A escrita da história está repleta de posicionamentos sobre os procedimentos do ofício do historiador e um deles é que é necessário se distanciar do objeto para poder apreendê-lo da melhor maneira possível. Longe de qualquer anacronismo este posicionamento parece-nos ainda o de maior destaque na historiografia.

Muitas vezes sacramentado pelo que se convencionou chamar de escola dos annales (anais), sobretudo a partir das importantes contribuições de Fernand Braudel, muitos historiadores buscam na long durée (longa duração) a compreensão dos enigmas da História. Entretanto, muitos destes alegam que o tempo presente é algo muito perigoso, algo por demais pantanoso, sendo praticamente inviável se arriscar com pesquisas ligadas ao presente como história. Seria necessário a maturação do processo histórico para que a sua escrita fosse algo digno de atenção dos historiadores. Felizmente, nos referimos aqui a apenas parte da historiografia.

A preocupação em buscar entender as perguntas da história presente, embora marginalizada por grande parte dos historiadores, também não é nova. Vários pensadores, em seu tempo presente, encararam a esfinge com suas respostas: Comte, Hegel, Marx (uns foram devorados, outros não), etc. A busca do entendimento do presente histórico se manifesta de forma visível de tempos em tempos e a negativa desta possibilidade também se coloca periodicamente entre os homens.

Marx, muito antes dos historiadores annalistes (analistas) se preocupara com a longa duração, sobretudo a partir do presente caótico, confuso e alimentado por questionamentos. O presente histórico em suas convulsões nos coloca realmente uma série de armadilhas e pântanos, entretanto, é esse mesmo presente que nos coloca as problematizações sobre a totalidade histórica. É a partir dos fenômenos sociais que partimos em busca de respostas para o tempo presente e a sua escrita possível.

O tempo presente não só é o ponto de partida como também é o pedestal dos questionamentos da esfinge. A partir do conhecimento historicamente acumulado é que nos lançamos aos desafios do presente histórico na busca de entendermos os fenômenos em suas sínteses de múltiplas determinações no tecido social fenomênico que nos encontramos.

Diante de tanto otimismo sobre a escrita da história no presente imediato é necessário uma grande dose de honestidade intelectual e afirmarmos que as problematizações da esfinge no tempo presente não se colocam com trivialidade. O motivo: Édipo já provou ser possível vencê-la, mesmo que tragicamente, no caso de Sófocles!

A questão que perturba grande parte dos historiadores conservadores e reacionários é que a própria modernidade burguesa deu vida a outro personagem, desta vez fora da mitologia, que se colocou diante da esfinge capitalista para encara-la, seu nome: Karl Marx.

A partir das formulações de Marx (não sozinho) diante da Economia Política se fortalece na História uma antítese da modernidade que até então não se calou diante do capitalismo, afirmando e reafirmando a resposta diante da esfinge que não se devorara desta vez (como no caso de Édipo).

A esfinge não surgira do nada. Ela também é fruto da criação social. Ela não brota do nada. E, diante do desvelamento, seus artífices se recontorcem para poder mantê-la ereta, mesmo estando com suas estruturas visivelmente abaladas. Tratamos aqui da construção de ideologias para apresentarem a partir da realidade uma inversão da mesma. Falamos de uma sociedade de classes avançada em seus antagonismos e da mesma forma avançada nas manifestações de suas lutas. Não basta decifrar a esfinge, é necessário destruí-la para ter a certeza do seu fim.

Para evitar a inversão da tragédia é necessário que os defensores da esfinge atuem para ideologizar os seus remendos, as suas trincas. È necessário possuir historiadores, assistentes sociais, advogados, médicos, professores, pedagogos institucionalizados e trabalhando a todo vapor para defenderem o poder da esfinge. É necessário negar a possibilidade de entendimento do presente histórico para manter-se no domínio, para continuar a distribuir o medo e a exploração de classe.

Negar a possibilidade de entendimento do presente a partir de uma longa tradição marxiana é ao mesmo tempo postular a manutenção da classe dominante. É colocar-se ao lado da esfinge. É vociferar por ela quando sua garganta não funciona mais. É ameaçar com a ilusão aquilo que não se sustenta mais.

Continuar a responder cara a cara com a esfinge é uma tarefa histórica não apenas de historiadores, mas de toda a classe trabalhadora que se depara com seus vultos ameaçadores aqui mesmo: no presente!

A questão central aqui é que quando se postula a espera da maturação do processo histórico, os historiadores conservadores (sobretudo os reacionários) ignoram que a vida dos sujeitos históricos (detidamente os trabalhadores) não é compatível com um pé de rabanetes, uma penca de bananas ou qualquer outra coisa que dependa naturalmente de maturação.

Destruir a esfinge é uma necessidade imperiosa no presente. Não é possível esperar anos, séculos, uma vez que as contradições desta sociabilidade impossibilitam a maioria da população mundial de se realizarem, até mesmo minimamente. A vida é uma só e todos os segundos são valiosos!

A espera da maturação custa vidas (realização social) e é justamente um tipo de espera que parte da tradição historiográfica não está disposta. Os historiadores trotskystas possuem uma dimensão realista das fragilidades da escrita da história recente, assim como possuem a dimensão da sua necessidade para a revolução social. Dedicar-se a escrita da história recente, na perspectiva que apresentamos, não é ocupar-se de diletantismos românticos na preocupação de garantir o registro dos fatos, mas sim de uma imprescindível tarefa na busca de caracterizar o tempo presente no sentido de compreendê-lo em seus movimentos diante da totalidade histórica e transforma-lo tomando-o pela raiz.


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