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midia1 bebe uniformacomDioivo - [Filipa Fava] Somos carne para canhão. Saímos padronizados da escola, entramos encarreirados nas universidades, deslizamos massificados para o desemprego, trabalhamos normalizados para o patrão, comemos plástico e químico, somos um estorvo nas camas dos hospitais, somos um número na Segurança Social, enchemo-nos de analgésicos, anti-depressivos e calmantes, somos um desconhecido para o vizinho, não abraçamos os amigos, beijamos por rotina, morremos anónimos.


Até no nascimento, acto primordial da vida, nos deixámos transformar em produtos enlatados, expedidos em série, com número de fabrico e procedimentos uniformizados. Hoje em dia, é prática corrente as grávidas e seus médicos marcarem o dia do parto – programado, agendado, não vá calhar no fim-de-semana da Páscoa, que não dá jeito nenhum!

E, assim, é sonegada a possibilidade biológica de que sejam os corpos de mãe e bebé, por evolução da espécie, natural e sábia, a decidir quando este está preparado para vir ao mundo. Os partos são convenientemente induzidos, através de medicação para estimular as contracções e, dessa forma, tudo encaixa nas nossas vidas estandardizadas, nos calendários previstos e nas mentalidades pré-fabricadas.

Outra prática corrente, por esmagadora maioria, é o recurso a um processo analgésico da cintura para baixo – a abençoada epidural. As mamãs limitam- se a escorregar, dormentes, para as luvas e bisturis dos obstetras, nada mais fazendo do que curvar-se perante a ansiada injecção, dada na zona lombar, que retira as dores das contracções uterinas. Puxam para o filho nascer quando lhes dizem os profissionais, porque essa capacidade fica limitada pelo uso do anestesiante. Isto quando não se decide directamente por uma cesariana, sem que muitas vezes haja para isso motivos reais.

Todos estes procedimentos pressupõem riscos, alguns graves. Não me parecem descabidos e pelo contrário muito úteis, sempre e quando haja razões médicas verdadeiras e fundamentadas para os usar e se as mães puderem tomar decisões informadas.

Porém, chegámos ao ponto absurdo em que há mesmo pessoas que desconhecem a possibilidade de esperar pelo seu filho sem um dia marcado para o nascimento...! Um amigo relatava-me, noutro dia, um caso destes, com as seguintes palavras: “Então ele perguntou quando vinha o bebé e eu disse que deveria ser lá para o fim de Maio, início de Junho e ele ficou muito admirado por não haver dia certo. Aí eu expliquei-lhe o conceito, essa coisa esquisita de milhares de anos, da criança vir ao mundo quando estiver no momento. Depois expliquei-lhe que será um parto sem epidural e ele nem acreditou e nem sabia que se podia parir fora de um bloco de aço inox!”

Por estes dias, li também uma interessante e alarmante notícia sobre os frangos de aviário, alimentados com cafeína, antibióticos e prozac. Soa-vos familiar? Enfim, pelo menos, temos a coragem de aplicar os mesmos tratamentos a todos, nós incluídos. Carne para canhão: do nascimento à morte.


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