Em junho, o Tribunal Constitucional chegou a declarar inconstitucionais algumas das medidas apresentadas pelo governo de Emil Boc, do Partido Liberal Democrático, que visam limitar o défice público a 6,8% do Produto Interno Bruto (PIB), entre as quais a diminuição das pensões em 15%.
As restantes medidas previstas no pacote submetido ao parlamento romeno em Maio, como a demissão de cerca de 70 mil funcionários públicos até ao fim do ano, os cortes salariais de 25% na função pública, e o aumento do IVA de 19% para 24% mantiveram-se na proposta final, sendo que os cortes salariais já se têm vindo a sentir desde Junho.
O jornal romeno Gândul, citado por Diana Toma e Markus Salzmann do wsws.org, descreve o estado de espírito dos romenos: "Enormes mudanças efectivaram-se durante os últimos quatro meses. Os empregados do governo (...) tiveram tempo suficiente para sentir os cortes salariais de 25%".
As consequências das medidas aplicadas – degradação da qualidade de vida dos romenos, deterioração dos serviços públicos, diminuição de rendimentos – suscitaram o enorme protesto dos romenos: 80.000 pessoas nas ruas de Bucareste, de acordo com dados divulgados pelos organizadores da manifestação e publicados pela APF.
Os manifestantes concentraram-se à porta do parlamento, de forma a aguardar pelo resultado da moção de censura apresentada pela oposição, que acabou por ser chumbada.
Emil Bloc, primeiro-ministro romeno, afirmou "compreender os manifestantes", mas justifica os cortes com a necessidade de cumprir o compromisso assumido perante o FMI - como contrapartida pelo empréstimo concedido - no sentido de reduzir o défice, em 2010, de 7,9% para 5,9%.
Efeitos da recessão
Em 2009, a Roménia entrou em recessão devido ao aumento do desemprego, diminuição do consumo interno e colapso da indústria exportadora, decorrentes das medidas de contenção aplicadas pelo governo romeno. De acordo com a Agência Nacional para o Emprego, em junho, mais de 48% dos cidadãos com idade até 25 anos estavam desempregados há mais de 6 meses. A taxa de inflação da Roménia é a maior de todos os estados-membros - 7,6%.
Os efeitos da recessão na Roménia são avassaladores. A crise está a atingir com mais severidade os mais frágeis, como é o caso das crianças e idosos, e a pôr em causa o acesso aos serviços públicos essenciais, como a saúde e a educação.
A Roménia é, juntamente com a Bulgária, um dos países mais pobres da União Europeia. O salário mínimo ronda 140 euros, o mais baixo da União Europeia.