1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (2 Votos)

As guerras coloniais do século XXI

101010_afeganistam[Francisco Martins Rodrigues] - Guerra no Iraque. Guerra no Afega­nistão. Prepara­tivos de guerra civil na Pa­lestina. Ameaças de ataque nu­clear ao Irão. Ameaças de ataque à Síria. Guerra ci­vil larvar no Líbano. Desmembramen­to final da Sér­via pela separação do Ko­sovo. Força internacional no Darfur...


A simples enumeração dos conflitos na região do Pró­ximo e Médio Oriente mos­tra o progresso feito pelo imperialis­mo desde que foi declarada a "guerra mun­­dial ao terrorismo". Instaurado um estado de emer­gência mundial, foi abo­lida qualquer aparência de lei internacio­nal. As intervenções militares imperialis­tas passaram a ser a lei, a resistência dos agredidos passa a ser "terrorismo dos fora-da-lei". É fácil lançar guerras puni­tivas ou preventivas, com pretextos encenados ou inventados: ataque ou amea­ça de ataque, regime "pá­ria", viola­ção dos direitos humanos, da democra­cia... O verdadeiro objectivo, que nem sequer se disfarça, é mu­dar o regime político de um país recalcitrante, obri­gá-lo a abrir-se ao mercado mundial e a permitir a exploração das suas matérias-primas.

Estamos em pleno retorno às expedições coloniais do século XIX: defender a civilização contra os povos bárbaros, exterminar "grupos de bandoleiros", usar uma superioridade militar esmagadora, lançar ataques relâmpago "preventivos", assumir o direito de infligir "danos colaterais", não se deixar amarrar por leis da guer­ra declaradas "obsoletas", estigmatizar como "traidores" os que se opõem à agressão...

Os valores de autodeterminação e soberania nacio­nal que as potências imperialistas tinham sido obriga­das a reconhecer quando da derrota do nazi-fascismo dei­xaram de vigorar. E é um grave erro supor que se pode voltar a essa época.

Europa quer a sua parte

Atribuir esta reviravolta apenas à agressividade bes­tial dos Estados Unidos e do seu cão de fila, Israel, é en­ganador. Todas as potências, e nomeadamente a Eu­ropa, aderem à nova lei da selva internacional. É uma evo­lução de todo o sistema capitalista, resultante de uma nova correlação de forças.

Assim, os países europeus associados na NATO, Ale­manha e França, já sem falar na Inglaterra, modera­ram as condenações veementes da invasão do Iraque e da administração Bush. Apercebendo-se de que cor­riam o risco de perder posições se deixassem os EUA avan­çar sozinhos, optaram por acompanhar em segun­do plano as suas expedições coloniais. Mesmo não en­trando a fundo no plano de criação de um novo "Gran­de Médio Oriente", marcam as suas posições próprias, para poderem ter o direito a reclamar a sua parte dos despojos.

A Europa acorre a apoiar os EUA quando estes de­sestabilizam o Líbano ou a Síria, serve de medianeira polícia na crise do Irão, está presente no Darfur, co­ope­ra na "solução" para o Kosovo... e aceita um papel de primeiro plano na "pacificação" do Afeganistão.

Esta reactivação imperial europeia torna-se possível por­que a indignação que ergueu milhões em 2003 con­tra a invasão do Iraque esfumou-se. Com toda a sua im­ponência, o movimento pacifista era vulnerável ao es­pírito chauvinista e este fez o seu caminho na propa­ganda diária. O colonialismo profundo das massas eu­ropeias acabou por levar a melhor.

Nova onda anticolonial?

Vista do lado dos povos agredidos, esta agressão e pi­lhagem do campo imperialista surge em toda a sua bes­tialidade, como uma ameaça à sua própria sobrevi­vência. Para eles, as novas guerras coloniais do século XXI são uma nova fase, ampliada, das velhas invasões co­loniais. Ampliada por um potencial destrutivo e por uma capacidade de estrangulamento económico cem vezes maior que no passado.

A guerrilha, o chamado "terrorismo", reacção ao ter­ror quotidiano sofrido pelas populações agredidas, é a resposta que está ao alcance das vítimas: fustigar o ocu­pante, mesmo à custa de terríveis sacrifícios huma­nos, até acabar por tornar a ocupação insustentável ou demasiado cara e forçá-lo à retirada. É o que se de­senha já no Iraque, é o que virá a seguir no Afega­nistão.

Mas isto não significa que vamos assistir a uma re­petição dos tempos heróicos da luta anticolonialista. As guerras de libertação do século passado culminaram na criação de novos Estados nas antigas regiões coloni­ais, porque contavam com a ajuda económica, política e militar do "campo socialista", União Soviética, China, Cuba, etc. Agora esse campo desapareceu. Na nova economia imperialista mundializada, já não existe um espaço exterior à chamada "comunidade internacio­nal". Por isso, os tremendos sacrifícios da resistência desembocam em miseráveis compromissos e, a prazo, o imperialismo acaba por conseguir os seus objectivos.

O que significa que os esforços do proletariado não podem limitar-se a condenar as aventuras imperia­listas. Prestando indefectível solidariedade aos povos agredidos, têm que olhar mais longe, para a tarefa prin­cipal: a preparação, lenta, difícil, das condições da revo­lução anticapitalista, porque fora dela não há esperan­ças de vitória.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.