Ao contrário, ratificou os aumentos de preços em bens e serviços fundamentais, provocando novas revoltas nas ruas da capital e de Matola, cidade próxima.
O porta-voz do Conselho de Ministros, Alberto Nikutumula, limitou-se a pedir ao povo moçambicano "que trabalhe arduamente" como única possibilidade de reduzir o custo da vida no país. Confirmou também que subirá o pão, a água, o arroz e a electricidade, como tinha sido anunciado.
A nova provocaçom oficial dirige-se a uma população castigada pela miséria, cujo nível de pobreza extrema atinge quase metade do total de habitantes do país, 46,8% segundo dados do Índice de Pobreza Humana da ONU. Moçambique ocupa o lugar 127 entre os 135 países analisados, ficando só acima de países como o Afeganistão, Serra Leoa ou Guiné.
Agora, nos últimos dois meses, produziram-se subidas no custo da vida tais como a do saco de arroz, que passou de 500 meticais (10,66€) para 650 (13,85€). Uns aumentos insuportáveis para a empobrecida maioria da população moçambicana.
Brutal repressão contra a ira dos pobres
Os militares tomaram as ruas de Maputo no segundo dia de luta popular, greves, motins e protestos generalizados. Novos confrontos entre populares e polícias reproduziram-se em bairros da capital ao longo do dia, se bem do lado popular eram lançadas pedras e do lado das forças repressivas se disparava com fogo real. Calcula-se que pelo menos duas crianças morreram sob o fogo policial ou militar. As pessoas detidas contam-se por centenas.
Os protestos partiram da periferia da capital, mas chegaram a tomar conta das principais artérias de Maputo. A polícia respondeu com fogo real, sem que se conheça o número exacto de mortes produzidas pela violência institucional.
O comércio de Maputo está totalmente paralisado e alguns bairros carecem de energia, começando a falhar as ligações telefónicas. Existe uma primeira estimativa das perdas derivadas da agressom governamental e da resposta do povo: 122 milhões de meticais, quer dizer, 2,5 milhões de euros.
Motim na prisão de Machava
Para além da luta nas ruas, os 2.500 presos e presas da prisão de Machava, nas redondezas de Maputo, iniciaram um motim para exigir a sua libertação, coincidindo com as revoltas populares.
O porta-voz do governo só deitou água na fervedura definindo os protestos do povo empobrecido como "actos de vandalismo" e mantendo a ameaça da linha dura contra quem não se resignar à injustiça do capitalismo em estado puro que impera no país.
Fotos: Reuters.