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Luta do negro no Brasil: 175 anos da Revolta dos Malês

090810_malesBrasil - PCO - Este ano completou-se 175 anos da Revolta dos Malês (que também conhecida como revolta dos escravos de Alá), que foi realizada no final do mês de Janeiro de 1835 na cidade de Salvador.


As limitações dos escravos eram enormes, e à época, os africanos eram proibidos inclusive de circular à noite pelas ruas da capital e de praticar as suas cerimônias religiosas típicas.

A Revolta dos Malês foi um levante de escravos africanos das etnias hauçá e nagô, de religião islâmica, organizados em torno de uma proposta principal: a libertação imediata dos demais escravos africanos.

As autoridades policiais vinham proibindo qualquer tipo de manifestação religiosa em Salvador. Concomitantemente, a mesquita da "Vitória" – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades. Dessa maneira, os malês começaram a arquitetar um motim programado para o dia 25 de janeiro de 1835. Nesta data, era programada uma festa religiosa na cidade Bonfim que esvaziaria as ruas de Salvador dando melhores condições para a deflagração do movimento. Naquela mesma data, conforme a tradição local, os escravos ficariam livres da vigilância de seus senhores.

Os principais personagens desta revolta, além de Luísa Mahin, mãe d o poeta negro abolicionista Luiz Gama, eram negros islâmicos que exerciam atividades livres, conhecidos como negros de ganho (alfaiates, pequenos comerciantes, artesãos e carpinteiros). O termo "malê" derivado iorubá "imale", designando o muçulmano.

Os revoltosos, aproximadamente 1500, estavam insatisfeitos com a escravidão africana e com a imposição do catolicismo religião obrigatória, além do preconceito que sofriam enquanto negros. Objetivamente, tinham como objetivo principal à libertação dos escravos. Queriam também acabar com o catolicismo como religião obrigatória (religião imposta aos africanos desde o momento em que chegavam ao Brasil); também queriam o confisco dos bens dos brancos e mulatos e a implantação de uma república islâmica.

O plano era simples: os revoltados sairiam do bairro de Vitória (Salvador) e se reuniriam com outros malês vindos de outras regiões da cidade. Invadiriam os engenhos de açúcar e libertariam os escravos. Arrecadariam dinheiro e comprariam armas para os combates. Ao que consta nos registros históricos, o plano do movimento foi todo escrito em árabe.

Dura repressão policial

As autoridades da época se organizaram com rapidez, com base na denúncia de negros delatores, e reprimiram com dureza os ataques aos quartéis de Salvador, colocando em fuga os revoltosos. Ao procurar difundir pela cidade o levante, um grupo de mais de quinhentos revoltosos, entre escravos e libertos, foi barrado na vizinhança do Quartel de Cavalaria em Água de Meninos, onde se deram os combates decisivos. Porém, os revoltosos foram vencidos pelas forças oficiais, mais numerosas e bem armados.

Os dados e informações não são coesos, como tudo que se refere à história do povo negro, mas conta-se que no confronto morreram cerca de dez integrantes das tropas oficiais e setenta negros. Duzentos e oitenta e um, entre escravos e libertos, foram detidos no Forte do Mar e levados aos tribunais escravocratas. Suas condenações variaram entre a pena de morte para os principais líderes, trabalhos forçados, o degredo e os açoites para os demais.

Apesar de rapidamente controlada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites escravocratas o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II. Devido a este levante, o medo de outras rebeliões de escravos se espalhou pelo Império do Brasil, principalmente na capital do país, à época, o Rio de Janeiro, onde os jornais publicaram notícias sobre o acontecido na Bahia e as autoridades submeteram a população africana local a uma vigilância cuidadosa e muitas vezes com dura repressão.

O governo baiano, para evitar outras revoltas do tipo, decretou leis proibindo formalmente a circulação de muçulmanos no período da noite bem como a prática de suas cerimônias religiosas.

Luísa Mahin, uma das lideranças da Revolta e mãe de Luiz Gama

Umas das lideranças da Revolta dos Malês foi Luísa Mahin, que posteriormente se tornou mãe de um dos precursores do abolicionismo, além de uma grande personalidade artística e jurídica dos negros, Luiz Gama.

Luísa Mahin esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que abraçaram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX. Quituteira de profissão, de seu tabuleiro eram distribuídas as mensagens em árabe, através dos meninos que pretensamente com ela adquiriam quitutes. Desse modo, esteve envolvida na Revolta dos Malês (1835), além da Sabinada (1837-1838), dentre outras. Mesmo que o levante dos malês não tenha sido vitorioso, Luísa pode ser reconhecida como Rainha da Bahia, Rainha dos Negros e da luta dos negros.

Em suas notas biográficas, o poeta e precursor abolicionista Luiz Gama, registrou acerca de sua mãe: "sou filho natural de negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luísa Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa."

Uma entre tantas

A Revolta dos Malês é um dentre tantas outras revoltas da população negra brasileira, como a Revolta da Chibata, e que demonstram que tudo que os negros detém foi conquistado por meio de luta encarniçada. Essa revolta também é um exemplo para a classe operária e todos os explorados, em geral, e para os trabalhadores e a juventude negra, em particular.

Estes são os métodos e o caminho para se conseguir a emancipação diante da opressão capitalista: a organização independente dos explorados, a luta com seus próprios métodos e instrumentos de luta por suas reivindicações e, mesmo a sua derrota, ilustram a necessidade de liquidar com o governo e o regime político da burguesia para ver essas reivindicações fundamentais atendidas.


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