A ocasiom merece umha conversa com o companheiro Joaquim Bouça Leirachá, recente incorporaçom à Junta Directiva da Fundaçom Artábria e um dos responsáveis pola organizaçom deste evento de referência do Verao festivo galego.
Com efeito, a Fundaçom Artábria é o Centro Social decano do reintegracionismo galego, aberto em 1998 com o objectivo de socializar a consciência lingüística e a defesa da unidade do ámbito lingüístico galego-luso-brasileiro. O Festival converteu-se, dous anos mais tarde, no evento mais importante da entidade ao longo do ano, servindo para levar fora do Centro Social todo o que a Artábria defende.
Dez anos depois, o Festival continua em pé e, como cada Verao, traz à Terra de Trasancos música, jogos e outras actividades culturais e desportivas, sempre com o compromisso social e lingüístico como pano de fundo.
Eis a conversa que mantivemos com o companheiro Joaquim Bouça.
DL - Como avaliades estes 10 anos de Festival da Terra e da Língua?
Talvez nom seja eu a pessoa mais adequada para responder a isso, pois se bem tenho desfrutado assistindo outros anos, este é o meu primeiro festival como organizador. Em todo o caso, com a perspectiva que dá vê-lo primeiro de fora e agora de dentro, diria que este é um espaço onde confluem os diferentes ámbitos de actuaçom da Fundaçom Artábria ao longo do ano.
No Centro Social organizamos concertos, palestras, teatro... aderimos a dinámicas reivindicativas e mobilizadoras da nossa comarca. Agora, no Festival, todo isso fica concentrado num fim de semana, devidamente enchoupado de festa e lazer. Isso tem sido este Festival nestes dez anos e isso vai ser também desta vez, com mais motivo.
DL. Qual é o atractivo da oferta deste ano?
Bom, para além do décimo aniversário, gostava de destacar que nom vai chover, o que é importante para garantir a diversom. Por outra parte, o programa é muito variado e cada qual vai encontrar um ou mais conteúdos de interesse: desde os jogos tradicionais até o festivalzinho, pensado para as crianças. Também espectáculo de clown, para crianças e pessoas adultas.
Como cada ano, temos um debate central, nesta ocasiom protagonizado pola situaçom do nosso idioma. Aí contaremos com a participaçom de várias pessoas que fam trabalho nesse ámbito e, como sempre, a reflexom e o debate incluirám a intervençom do público.
Com motivo dos dez anos de Festival, nom podia faltar a exposiçom fotográfica desta década de Festival da Terra e da Língua, montada a partir de contributos de sócios e sócias assistentes durante estes anos, sobretodo do companheiro Ernesto, 'fotógrafo oficial' da Artábria e do Festival.
Também na música temos umha boa oferta: folc, blus, grindcore, hip-hpo e ska riggy. Nada mal, nom é? Os grupos som Boj, Maghúa, Estimava que vinheras, Wisdom, Kave GZ e Lamatumbá.
Enfim, já vedes que temos para todos os gostos.
DL. Como financiades a iniciativa?
Pois, sobretodo, com muitas dificuldades (risos). Nom temos fins lucrativos e conformamo-nos com nom perder muito dinheiro, mas cada ano é um desafio consegui-lo, porque se movimenta bastante dinheiro e as ajudas com que contamos som pequenas. Sim há que dizer que a Cámara de Narom nos tem apoiado durante todos estes anos, ao que se acrescenta o trabalho da nossa base social, que vende rifas, contrata publicidades e paga quotas de maneira muito militante.
A isso soma-se o trabalho físico que supom montar e desmontar todo o Festival, assim como preparar e vender comida e bebida durante os dias que dura. É umha pequena heroicidade colectiva.
DL. Porque o dedicades mais um ano à língua?
Nom podia ser doutra forma, dadas as circunstáncias. Os últimos meses estám cheios de exemplos de agessons institucionais ao nosso idioma, tais com a supressom da obrigatoriedade do seu conhecimento das provas de acesso à funçom pública, o novo decreto de ensino, a reduçom do investimento em matéria de política lingüística e a espanholizaçom da sanidade, dos meios de comunicaçom, da justiça, da administraçom, etc.
O actual governo está indo mais longe que ninguém no incumprimento da obrigaçom que tem de assumir políticas em favor do galego, como língua secularmente submetida. O nosso povo tem muitos séculos de língua às costas e nom podemos admitir que no-la queiram exterminar.
Em definitivo, é imprescindível tornarmos explícito, mais umha vez, o nosso compromisso total com o galego.
DL. Pertences a umha nova geraçom de sócios e sócias da Artábria, que abriu o seu centro social há mais de umha década. Qual é o presente e, sobretodo, qual crês que será o futuro da Fundaçom Artábria?
O presente é o de um grupo de pessoas com uns valores, umhas inquietaçons comuns, que trabalhamos dia a dia com o único reconhecimento de sentirmos que com a nossa dedicaçom contribuímos para manter e reivindicar umha história, umha língua, um estilo de vida saudável para a cultura do nosso povo.
Estou convencido de que, se este jeito de trabalharmos for mantido, a Fundaçom Artábria tem o futuro assegurado, independentemente de que poda haver recámbios de pessoas concretas, o que é normal num projecto colectivo com tantos anos já de trabalho.
O próprio Festival é umha boa síntese desse trabalho colectivo, que apresentamos cada Verao a quem nos visita no Moinho de Pedroso.
Já dixem muita cousa! Só quero encorajar as pessoas a virem e desfrutarem, sobretodo quem ainda nom conhece o Festival. Para elém do que já dixem, o aspecto gastronómico tem a sua importáncia e também é umha escusa para celebrar connosco estes 10 anos de Terra e de Língua.
Só nos resta agradecer ao companheiro Joaquim a sua amabilidade ao receber-nos e convidar as nossas leitoras e leitores a visitar a zona natural do Moinho de Pedroso, onde nos dias 25 e 26 de Junho decorre esta X ediçom do Festival da Terra e da Língua.
- Toda a informaçom sobre este evento do noroeste galego está disponível no blog da Fundaçom Artábria.