Foi, sobretudo, na Juventude Operária Católica que Manuel Serra tomou consciência da grave situação económica e social das classes trabalhadoras e dos pobres, assim como da total ausência de liberdades, no Portugal de Salazar.
Em 1958, participou na campanha de Delgado à Presidência da República e verificou, na prática, como a ditadura não iria cair através de “eleições”. A repressão era forte e as vigarices do regime eram tantas que eles não sairiam de lá por via pacífica. A Manuel Serra afigurava-se-lhe, então, necessária a intervenção armada como forma de derrubar a ditadura salazarista.
Em 1959, entrou no fracassado golpe da Sé, ficou preso durante seis meses, e fugiu, passando pelas Embaixadas de Cuba e do Brasil, de onde partiria, para juntar-se a Humberto Delgado neste último país. Aí foi iniciada a preparação do golpe de Beja (Janeiro de 1962), onde Manuel Serra foi o chefe civil e Varela Gomes o chefe militar. Golpe que também fracassou. Apesar da fuga levada a cabo, Manuel Serra acabaria preso no Algarve, sendo então submetido à tortura do sono e condenado a 10 anos de prisão, passando bastante tempo encarcerado em Peniche e Caxias.
Depois do 25 de Abril de 1974, Manuel Serra fundou o Movimento Socialista Popular e, em Maio do mesmo ano, integrou-o, como movimento autónomo, no PS. No primeiro Congresso deste partido, contra Soares e Alegre, que se situavam em posições bem mais à direita, Manuel Serra consegue 44% dos votos. Mas, rapidamente, compreendeu (a luta de classes ensina-nos muito) que já nada ali podia fazer face ao aparelho do partido, abandonando então o PS e criando a Frente Socialista Popular.
Seguidamente, e em oposição às políticas dos partidos do capital, envolveu-se com diversas organizações da esquerda revolucionária na construção da resistência ao golpe de direita do 25 de Novembro de 1975, que então estava na forja. Derrotados os trabalhadores e a esquerda pelo golpe reaccionário, Manuel Serra persistiu na luta, apoiando as candidaturas de Otelo à Presidência, em 1976 e 1980. Foi, ainda, em 1980, um dos fundadores da Força de Unidade Popular (FUP) e, posteriormente, seu dirigente.
Apesar das diferenças políticas e de concepção organizativa entre nós, do meu trabalho conjunto com ele ficou-me a ideia positiva de um homem combativo, generoso e solidário.