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Brasil desenvolve medicamento contra mal de Chagas

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Brasil - Envolverde - A nova apresentação pediátrica do benznidazol, que acaba de ser registrada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi desenvolvida pelo Laboratório Farmacêutico Público de Pernambuco (Lafepe), com apoio da Iniciativa de Medicamentos para Enfermidades Esquecidas (DNDi, do inglês Drugs for Neglected Diseases initiative).


"Até há pouco tempo as crianças eram tradadas de maneira improvisada, com adaptações da versão adulta do medicamento", até agora disponível em tabletes de 100 miligramas, explicou à IPS a médica Isabela Ribeiro, responsável pelo Programa Clínico de Chagas da DNDi. "Este novo medicamento tem um potencial de grande impacto positivo no tratamento de recém-nascidos e crianças até dois anos de idade ou pesando até 20 quilos", acrescentou.

"Adaptações artesanais", como precisar quebrar o comprimido de benznidazol para adultos em até oito pedacinhos, pulverizá-los e diluir em água. Um processo inseguro que as mães, muitas vezes sem condições de higiene nem água limpa e sem acesso a educação, tinha que realizar duas vezes por dia durante dois meses para tratar seus filhos, acrescentou a médica.

"Além de aumentar a complexidade de um tratamento por si só longo, a possibilidade de ministrar doses inadequadas era uma realidade" com a qual cresciam os riscos de efeitos colaterais ou de tornar ineficaz o tratamento, explicou Isabela. Já o medicamento Lafepe Benznidazol é fácil e seguro de usar, pois vem em tabletes de 12,5 miligramas que se dissolvem facilmente em água, suco de laranja ou no leite, acrescentou.

A dose recomendada varia de um a três comprimidos, dependendo do peso da criança. Com uma dose exata pode-se minimizar os riscos de baixa ou alta dosagem, evitando interrupções no tratamento. "Também esperamos que haja um aumento gradual do número de meninas e meninos tratados, com mães e médicos se sentindo mais seguros para iniciar uma terapêutica com recém-nascido ou com bebê", afirmou Isabela.

Segundo a médica, embora países como Brasil e Argentina tenham êxito em políticas de prevenção, o mal de Chagas ainda afeta no mundo de oito a dez milhões de pessoas, principalmente na América Latina, e mata cerca de 12 mil por ano, a maioria por problemas do coração, o que faz dela a principal causa de mortalidade parasitária na América.

O vetor que propaga o mal é um tipo de inseto que ao picar transmite aos humanos o parasita Trypanosoma cruzi, que entra na corrente sanguínea e desencadeia uma progressiva e silenciosa deterioração dos tecidos do coração, deixando-o incapacitado e podendo levar à morte nos casos mais severos.

O principal responsável pelo contágio é o Triatoma infestans, inseto hematófago conhecido no Brasil como barbeiro, que habita rachaduras e buracos em construções de barro, bambus, palha e troncos, materiais das humildes casas rurais e dos assentamentos irregulares das cidades. Também é transmitido por transfusão de sangue, transplante de órgãos e através da placenta.

As crianças são particularmente vulneráveis ao risco de infecção. A maioria das 14 mil que anualmente nascem com o mal de Chagas é contagiada por transmissão materna. "A doença é considerada uma enfermidade de crianças, porque geralmente se adquire com pouca idade, mas se desenvolve quando a pessoa chega à idade adulta. Mesmo nas transmissões pelo barbeiro, as crianças são as principais vítimas", acrescentou Isabela.

Com o tratamento pelo benznidazol no primeiro ano de vida, pode-se curar – eliminar o parasita – de mais de 90% dos recém-nascidos infectados. O presidente da Federação Internacional de Pessoas Afetadas pelo Mal de Chagas, Manuel Gutiérrez, afirmou que "para milhares de mães com bebês infectados este novo tratamento representa mais do que um comprimido".

"Suas vozes foram finalmente ouvidas", disse Gutiérrez à imprensa durante o encontro internacional sobre doenças esquecidas, realizado no começo deste mês na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. "A partir deste momento, a esperança por uma pronta cura para a infecção do parasita que causa o mal de Chagas é uma maravilhosa realidade", acrescentou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde, a médica argentina Mirta Roses Periago.

Ao longo dos anos, o mal de Chagas foi se modificando devido aos processos migratórios. Foi se convertendo em uma doença facilmente encontrada nos subúrbios das grandes cidades, onde a forma mais comum é a transmissão de mãe para filho. Muitas mulheres descobrem que estão infectadas somente durante a gestação.

O novo medicamento pediátrico será produzido pelo Lafepe, o segundo maior laboratório público do Brasil e único produtor de benznidazol no mundo, após ter recebido a transferência de tecnologia do laboratório multinacional Roche.

"Um laboratório público tem o dever de servir ao interesse público. Por isso, o Lafepe colocará à disposição o produto a preço de custo para todos os governos e organizações não governamentais", assegurou à IPS o presidente da entidade, Luciano Vazquez. Além disso, no contexto da DNDi, se trabalha para registrar o medicamento na Argentina, Bolívia, Colômbia e Paraguai, "países onde a prevalência da enfermidade é alta e o tratamento uma necessidade urgente", afirma um comunicado da entidade.

A DNDi surgiu em 2003 como uma aliança entre a organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), com sede em Paris, e entidades públicas de Brasil, Índia, França, Quênia e Malásia para tratar, em países em desenvolvimento, doenças esquecidas pelos grandes laboratórios internacionais por não representarem um grande lucro. Precisamente, Vazquez explicou que o Lafepe assumiu o compromisso de produzir o benznidazol depois que o Roche anunciou o cancelamento de sua produção.

Atualmente, o mal de Chagas é uma enfermidade global. Estima-se em 300 mil casos nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, com especial atenção para a Espanha, e também Japão e Austrália, segundo o MSF.


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