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Cecília Amado fala sobre a produção do filme “Capitães de Areia”

111111_mulheres-de-areiasBrasil - Caros Amigos - [Gabriela Moncau] Desde o início de outubro, está em cartaz nos cinemas do Brasil o longa Capitães da Areia, adaptação de uma das mais importantes obras da literatura mundial, escrita por Jorge Amado nos anos de 1930.


Na direção e produção, está Cecília Amado, neta do escritor, que optou por manter no filme a "vertente humana" e o caráter social do livro.

Ambientada na cidade de Salvador da década de 30, Capitães da Areia conta a história dos personagens Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora, crianças que ao serem abandonadas por suas famílias, se veem obrigadas a travar uma luta nas ruas para sobreviver. Em sua versão cinematográfica, a obra se passa nos anos de 1950, porém, traz uma discussão atual. Em entrevista, a diretora Cecília Amado fala sobre o seu convívio com o avô e nos conta como foi o processo de produção do filme.

Caros Amigos - Como era sua relação com Jorge Amado? Ele sonhava em ser também cineasta?

Era uma relação muito próxima de avô e neta, principalmente na adolescência quando moramos juntos em Paris. O convívio com ele, seu olhar humanista, seu amor pelas pessoas mais simples e suas histórias fez parte da minha formação. Quando comecei a trabalhar com cinema, aos 18 anos, ele me confidenciou que seu sonho de juventude era ter sido cineasta.

Caros Amigos - Por que a escolha de que o filme se passasse na década de 1950 ao invés de 1930 como no livro?

O livro foi escrito em 1937, por um Jorge Amado de 24 anos no auge do seu engajamento político. Eu preferi ser fiel ao Jorge que eu conheci, 50 anos depois. Seu olhar era muito mais social do que político. Escolhi a vertente humana do livro, um drama que continua atual. Por isso optei pelos anos 50, de forma a fugir do contexto político e fazer uma fabula quase atemporal.

Caros Amigos - Qual a importância e a atualidade da discussão que o filme traz sobre a miséria e crianças na rua?

Frequentei o Projeto Axé (ONGS que trabalha faz 20 anos com educação de rua) em Salvador durante 3 anos para fazer a adaptação e descobri que a essência do problema não mudou nesses 70 anos desde que o livro foi escrito. Por que as crianças vão parar na rua, como é a relação na família de casa e na família que se forma na rua, como se relacionam com a sociedade... nada mudou. Trazer esse olhar sem passar pelo tema do trafico de drogas, que de certo modo mascara esse assunto, eu acho muito importante.

Caros Amigos - Como foi a escolha do elenco? Por que a preferência por não-atores?

Eu tinha 12 personagens adolescentes, baianos, meninos de rua e não existia um repertório de atores profissionais nessa faixa etária com essas características. A opção por não atores não é novidade, remonta ao neo-realismo italiano. Fizemos a pesquisa em 22 ONGs que já davam um suporte social aos jovens e continuaram dando após o término da filmagem. Entrevistamos 1200 jovens, selecionamos 90 para dois meses de oficinas e então pudemos chegar aos 12 finalistas que passaram por um longo processo de preparação.

Caros Amigos - De acordo com o estudo "As crianças invisíveis na literatura brasileira", o livro de Jorge Amado foi o primeiro romance sobre meninos de rua da literatura brasileira. Ele chegou a conversar com você sobre o processo de elaboração do livro, da época em que viveu com crianças de rua para fundamentar sua escrita?

Não conversei com ele sobre o assunto, mas ouvi muito ele falando que a situação pouco tinha mudado nas décadas de 80/90. Agora sei que ele conviveu bastante com os Capitães da Areia e busquei, do mesmo modo, conhecê-los intimamente antes de começar o filme.

Caros Amigos - Você chegou a dizer que no filme é construída uma "nova baianidade, que é mais do século 21", com interpretação que o Carlinhos Brown faz de Dorival Caymmi, fotografia contemporânea inspirada em Mário Cravo Neto. Fale um pouco sobre essa nova baianidade representada no longa, e quais elementos fundamentais que permanecem tanto na obra literária quanto na sua adaptação cinematográfica com leitura mais contemporânea.

As inspirações vêm da cultura que cerca o universo dos Capitães da Areia, o culto do mar, da pesca, do porto. Essas eram as características da literatura de Jorge, da música de Caymmi, das fotografias de Pierre Verger, depois de Mário. Foi nessa fonte que fomos beber pois a história pedia isso. A cultura popular faz parte da vida desses personagens, não está ali para "inglês ver". Os Capitães, como o povo do porto, lutam capoeira e frequentam o candomblé. O Guy Gonçalves,o Adrian Cooper,o Carlinhos Brown e eu, nos inspiramos nos próprios Capitães (atores e personagens) para buscar essa nova baianidade.

Caros Amigos - Principalmente no momento em que é mostrado o reformatório e os maus tratos da polícia com os jovens, aborda-se com força a questão da repressão e criminalização de crianças e adolescentes em situação de rua. Qual o paralelo que você faz entre o que se passa no filme e os dias de hoje?

O filme mostra só a ponta de um enorme Iceberg. A frase "você nasceu pra ser bandido, menino, não vai ser gente nunca" é síntese desse princípio de perda total de identidade dos menores. Nos dias de hoje a questão parte dessa frase para justificar atos de crueldade bárbaros. O documentário Juízo, de Maria Augusta Ramos, enfoca isso muito bem.


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