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É preciso mais do que um símbolo vazio para representar as mulheres do mundo

Luka Franca

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A segunda luta

É preciso mais do que um símbolo vazio para representar as mulheres do mundo

Luka Franca - Publicado: Sexta, 23 Setembro 2011 02:00

Luka


Este ano tem sido um ano recheado pelo reconhecimento da necessidade de se haver mais mulheres na política brasileira, não é por acaso que este é um tema permanente nesta coluna, pois só este ano tivemos a posse da primeira mulher presidente do Brasil, o debate sobre a reforma eleitoral e a paridade nas listas de candidatura ao invés da cota de 30%, mais recentemente a decisão do IV Congresso Nacional do PT de se aprovar a paridade entre gêneros em todas as instâncias de direção desta organização, além de ações afirmativas para contemplar a juventude e o povo negro.

De alguma forma poderíamos dizer que 2011 é o ano de debater qual o lugar da mulher na política de forma mais séria e aprofundada, sem fetiches, blindagens e afins, até por que esta semana a presidente Dilma teve intensa agenda internacional nas instâncias da ONU, inclusive abrindo a 66ª Assembleia-Geral da ONU e é aí que o bicho pega, pois se este é o ano de se debater seriamente o lugar da mulher na política, é também importante se debater o que é política para as mulheres, ou não?

Não adianta debatermos ação afirmativa, cotas e o que for na política para termos mais mulheres na política se não tivermos claro de que lado é preciso devem estar as políticas públicas apresentadas à sociedade, Dilma em seu discurso na ONU fala que tem certeza que este será o século das mulheres, mas aí me pergunto: De quais mulheres?

Pois é fato o corte de mais de R$ 50 bilhões nas áreas não consideradas essenciais para economia, mas que para melhorar a vida das mulheres é fundamental, pois este corte do começo do ano recaiu sobre as pastas de educação, saúde, habitação, cidades, justiça e também o Pacto de Enfrentamento à Violência Contra Mulher, pastas diretamente ligadas ao essencial da vida das mulheres e que tiveram suas verbas drasticamente cortadas, já colocando o governo Dilma de um lado claro, e este lado não era o da maioria da classe trabalhadora brasileira, ou seja, não era o das mulheres.

É uma inconsequência política não se debater a fundo o que significa realmente mulheres no poder, pois no que uma mulher no poder exercido da mesma forma que as classes, raças e gêneros dominantes exercem beneficiam as mais pauperizadas e exploradas? Se a política de criminalização da pobreza continua aí e tem como seu maior tubo de ensaio o Rio de Janeiro com aval da presidente da república, ou até mesmo na política internacional onde já no começo do ano Dilma já havia dito ao secretário-geral da ONU Ban Ki-moon que o Brasil continuaria a chefiar as tropas da Minustah no Haiti, a mesma Minustah que há pouco tempo teve parte de sua tropa condenada no Uruguai por abusos sexuais, violências denunciadas e divulgadas pela Anistia Internacional a bastante tempo e não comentadas pela primeira mulher presidente do Brasil, chefe direta das tropas brasileiras à frente da Minustah.

Dilma coloca em seu discurso na ONU que nós mulheres sabemos que o desemprego não é apenas uma estatística, assim como o desemprego, também não são apenas uma estatística os milhares de postos de trabalho precarizados, tão precarizados que culminaram no que vimos em Jirau e Sto Antônio, ou é só olhar para o lado quando vamos para a faculdade ou trabalho, como bem dizem, a precarização tem rosto de mulher, mas isso não abala a empáfia dos governantes em geral do Brasil. Até por que, mulher serve pra isso mesmo, né? Limpar, passar, cozinhar e trabalhar 10 horas por dia sem reclamar, voltando para casa a noite sem segurança alguma e correndo o risco de ser violentada, isso não é apenas estatística, é vida real, porém ao que parece esta vida real não importa ter solução real. Importa continuar a cooptação, esconder bandeiras debaixo do tapete, negociar com a direita conservadora e reacionária para governar, é isso o mais importante.

Definitivamente, Dilma não representa nada o que um dia foi, é apenas um símbolo oco de seu significado, é a representação da representação, apenas mais uma saída individual do empoderamento fornecido por uma vertente burguesa do feminismo e é isso, assim como as políticas sociais aplicadas pelo governo Lula são paliativos e escamoteiam o investimento aviltoso de dinheiro público na privataria, assim como não se aplicou a resolução de 10% do PIB para educação pública que por anos o próprio PT defendeu. A vitória desta mulher este ano e esta semana em especial é apenas a vitória desta mulher, não há como ser vitória das mulheres maioria da sociedade se não tem realmente políticas públicas asseguradas para garantir saúde, educação e sua integridade física.

Dilma não passa de mais uma Angela Merkel, Margareth Thatcher, Condoleezza Rice e tantas outras, com a diferença de que hoje renega na prática e no dia a dia do governo o que um dia defendeu para este país e para realmente confrontar este símbolo vazio é preciso a esquerda retomar um debate que só avança se for debatido em conjunto com o socialismo de forma igual, e assim ajudar na auto-organização das mulheres para que se avance junto à classe trabalhadora, pois quando uma mulher da classe avança de forma coletiva nenhuma luta retrocede.


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