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15-M: Da indignação à revolução - Os desafios de um novo movimento

270511_15m_1Estado espanhol - En Lucha - [Joel Sans, Tradução de Diário Liberdade] Os acampamentos se estenderam como um rastro de pólvora. Em praticamente 100 praças de todo o Estado espanhol está se vivendo uma explosão de participação impressionante que continua para além das eleições de 22 de maio. Esta explosão, não obstante, não sai do nada. Soma-se aos exemplos de lutas por toda a Europa que vivemos nos dois últimos anos e tem uma conexão com as revoluções no mundo árabe, encabeçadas pelos jovens desempregados e sem futuro.


Não estamos somente perante uma revolta social pelo contexto de crises e de ataques do governo do PSOE. Trata-se também de uma revolta política que se opõe justamente à política oficial e institucional e à reduzida democracia atual.

Os acampamentos que estão se levando a cabo nas diferentes cidades dos Estados constituem um autêntico desafio ao marco institucional. Até o momento, já confrontaram com êxito a proibição de acampar durante a jornada de reflexão. Muito mais se pode conseguir se são ampliadas as suas forças.

Esta revolta tem elementos de grande importância. Em primeiro lugar, rompeu com o pessimismo generalizado; criou, com o seu exemplo, um novo ambiente que nos assinala que o povo pode e tem vontade de lutar. Em segundo lugar, mostra-nos a capacidade de envolvimento, criatividade e organização coletiva que temos nós, aquelas pessoas mais afetadas pela crise. Ao mesmo tempo, os acampamentos, com suas assembleias, estão assinalando o que pode ser uma democracia real, organizada desde baixo; mostram na prática que há alternativas ao parlamentarismo e ao “votar a cada quatro anos”. Por último, tem um alto conteúdo de protestos anticapitalistas, pedindo alternativas concretas e globais ao sistema atual. A palavra revolução passou a formar parte do vocabulário cotidiano de milhares de ativistas.

Houve multidões de movimentos ao longo da história que cresceram enormemente, mas que depois diminuíram. Como está passando com os acampamentos, em um primeiro momento o movimento impacta a situação, rompe os limites estabelecidos e cria um novo marco de mobilização. Seu impulso inicial faz com que mais e mais gente se some, dando mais impulso ao movimento. O movimento se encontrará com obstáculos. Se não se começar a conquistar vitórias, haverá um momento no qual o movimento poderá estancar e diminuir ruidosamente. Isto ocorreu muitas vezes ao longo da história. O mais recente foi o movimento estudantil contra Bolonha há dois anos. Depois de três ou quatro meses de efervescência, com ocupações de faculdades e reitorias, o movimento não conseguiu seus objetivos, não soube manter-se e o curso seguinte foi que as universidades se mantiveram na calmaria.

O maio de 68 é outro exemplo de um grande auge e uma grande caída. No que pese a sua vertiginosa ascensão, o movimento criativo e revolucionário dos jovens nas universidades, e o movimento dos trabalhadores, mais influenciados pela esquerda institucional e os sindicatos moderados, não convergiram completamente. As propostas e energias dos estudantes não chegaram a se fusionar com os trabalhadores em greve. Depois de três semanas, a maior greve da história era desconvocada pelos grandes sindicatos e o movimento terminava, em troca de umas pequenas concessões salariais. As propostas de transformação radical da sociedade foram frustradas.

É por isso que é importante pensar no movimento atual para além dos primeiros dias e projetar aquelas orientações que permitam fortalecer ao máximo o movimento e, ao mesmo tempo, ganhar algumas vitórias que o mantenham. Isto significa falar de estratégia: o que fazemos para parar os cortes sociais, que tipo de mobilizações fazem dano ao sistema, como conseguimos passar de um movimento de dezenas de milhares de pessoas para um de centenas de milhares ou milhões? Ainda que os acampamentos tenham, todavia, uma enorme energia de sua fase inicial, faz falta projetar este tipo de questões para continuar quando se modere o impulso.

Da praça à cidade

Os acampamentos são um grande espaço de organização, de aprendizagem, de conscientização e de visualização de ideias. No entanto, ainda que se ocupe uma praça, fica todo o resto da cidade. Por isso mesmo é importante evitar a tentação de pensar que em uma só praça podemos construir a sociedade que queremos. As praças não devem ser um fim em si mesmo, mas um foco para que a luta se estenda para além de seus limites. Em várias cidades, como Madrid e Barcelona, já se deu um passo que pode ser chave: organizar assembleias e ações nos bairros. Isto permite levar a mensagem do movimento a muitas pessoas mais e que muitas mais possam ser envolvidas com ele, com assembleias nas quais se pode trabalhar e participar mais facilmente.

A extensão geográfica ajuda a ter um apoio social para manter os acampamentos de pé. Ainda assim, devemos saber que as ocupações das praças, as concentrações e os panelaços não têm uma força material que pressione os poderes para mais além de seu simbolismo e de suas mensagens. É por isso que, além de manter os acampamentos, devemos planejar como fazer dano lá onde fere mais aos poderosos, ou seja, na economia.

Das ruas aos centros de trabalho

Na economia encontramos um ponto débil do sistema capitalista. A maior parte das pessoas que estão nas praças acampando e fazendo assembleias são trabalhadoras. Os poderosos insistem que os chefes são os que fazem com que as coisas funcionem. Mas tudo o que existe e que valorizamos na sociedade atual é produto do trabalho. Se os trabalhadores e as trabalhadoras deixam de trabalhar o sistema para. Necessitamos, pois, transportar a energia dos acampamentos para os locais de trabalho, onde a classe trabalhadora produz tudo aquilo que o sistema necessita para acumular vorazmente mais e mais lucros.

Se conseguirmos generalizar as assembleias das praças em assembleias nos locais de trabalho, se conseguimos que as concentrações na rua se transformem em greves, em seguida estaremos dando um passo importantíssimo. A enorme energia, valentia e criatividade demonstrada nos acampamentos necessita confluir com a grande força material que tem a classe trabalhadora e que já mostrou, ainda que somente pontualmente, na greve geral de 29-S.

A ideia da greve geral está começando a se esboçar em muitos acampamentos. Mas, como chegamos a ela?

No momento, os acampamentos não têm muitos vínculos diretos com os centros de trabalho. Se conseguirmos, teremos mais capacidade para impulsionar greves. Para isso também devemos buscar alianças com os sindicatos combativos que existem mais além do CCOO e UGT. Sindicatos como a CGT, o SAT em Andaluzia, a IAC em Catalunha, o ELA e LAB em Euskal Herria, que se opuseram ao pacto das pensões e que propugnaram uma linha de mobilização contra os cortes sociais e os efeitos da crise. Mais ainda, também é importante tecer alianças com todos os sindicatos combativos, estejam no sindicato que estejam.

Esta necessária confluência entre os acampamentos e o movimento dos trabalhadores está mais acelerada em Catalunha, onde os agressivos cortes do governo de direita de CiU levou a fortes mobilizações na saúde já antes dos acampamentos. Nos últimos dias, várias marchas de trabalhadores e trabalhadoras (de hospitais, de telefonia e bombeiros) terminaram na Praça Catalunha ocupada. O acampamento já mostrou sua solidariedade com o setor público em luta e se somou a suas convocatórias. São exemplos de lutas a reforçar e generalizar por todo o Estado.

O papel das organizações

Se os vínculos com o sindicalismo combativo levam a debates, há outro tema cadente nos acampamentos, o sentimento antipartidário. É um sentimento são, se temos em conta o papel que desempenharam os partidos de esquerda nos últimos anos. Não se trata somente do PSOE, que aplicou cortes duríssimos desde o governo. Partidos como Izquierda Unida não fizeram muito para mobilizar na situação de crise que nos encontramos. Inclusive temos exemplos como o de ICV-EUiA na Catalunha, que ficou no governo da Generalitat durante 8 anos, ficando como cúmplice das políticas neoliberais que se levaram a cabo.

É importante evitar que os partidos que se dizem de esquerda e que simplesmente querem formar parte do jogo institucional cooptem o movimento. Mas também devemos saber que existem organizações políticas de um caráter completamente distinto. Há organizações anticapitalistas, que não têm nenhuma pretensão de conseguir transformações através das instituições, mas que põem todos os seus esforços para construir a mobilização desde a base. Organizações que estão participando de forma honesta no movimento atual, aportando sua experiência ao mesmo tempo em que aprende nele. Este é o tipo de organização que os companheiros e companheiras do En Lucha formamos parte para conseguir uma mudança radical nesta sociedade. Negar o papel destas organizações no movimento não ajuda a construí-lo.

O movimento atual levanta numerosos desafios que vão aumentar caso se continue crescendo. É por isso que avançar nos debates estratégicos, ao mesmo tempo em que se organizam entre si os ativistas anticapitalistas que querem uma transformação total desta sociedade e construir um movimento amplo e radical, é um passo necessário para superar os desafios e generalizar a revolta.

Traduzido para Diário Liberdade por Gabriela Blanco


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