A rebelião dos trabalhadores dos canteiros-de-obra da Usina Hidrelétrica Jirau expôs de forma contundente o que os consórcios responsáveis e os apoiadores destes empreendimentos vêm tentando esconder com o blá-blá-blá do “desenvolvimento” e do “progresso”: o seu potencial de destruição. Embora os prejuízos causados pelas usinas do rio Madeira – um dos maiores projetos de investimento no mundo atualmente – venham sendo denunciados desde 2000 por movimentos sociais, organizações nacionais e internacionais, pesquisadores e até mesmo órgãos do Estado, a revolta dos trabalhadores dos canteiros-de-obra desencadeou uma repercussão nacional e internacional.
A superexploração do trabalho nos canteiros-de-obra do rio Madeira, envolvendo violência, trabalho escravo e até mesmo mortes, é apenas uma das faces da tragédia causada pelo barramento de um dos maiores afluentes do rio Amazonas. Os danos ambientais são graves. A mortandade de onze toneladas de peixes ocorrida em 2008, ainda na etapa inicial das obras, é um indicativo do processo de degradação ambiental em curso. Do lado das comunidades atingidas, a violência se expressa pelo deslocamento obrigatório de milhares de pessoas, que tiveram suas casas inundadas pelas barragens. Dentre as opções oferecidas, estão a indenização em forma de carta de crédito ou o reassentamento nas “casas de placa”, das agrovilas. Ficar não é uma opção, já que as “casas de placa” esquentam muito no calor amazônico e são de péssima qualidade.
Poucos dias antes da revolta explodir, a página virtual do PT exibia uma matéria com um vídeo do prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, falando bem do “jeito petista” de fazer barragem, marcado pelo “pleno emprego e pelo desenvolvimento social e ambiental”, em oposição aos projetos executados durante a ditadura militar. Mas a democratização do país não alterou, de forma significativa, os procedimentos do setor elétrico em relação aos seus efeitos sociais e ambientais. Os projetos de vida das comunidades ameaçadas por estas obras são descartados. Os argumentos técnicos sobre a inviabilidade dos projetos hidrelétricos são ignorados, como ocorreu no rio Madeira. A decisão é política e tomada, sem muita margem pra negociação.
Longe de se configurar num caso isolado, os conflitos no rio Madeira se inserem num contexto de expansão de hidrelétricas rumo à Amazônia e está articulado com planos de integração regional envolvendo a infra-estrutura dos países sul-americanos, conduzidos pelos Estados e por grandes corporações nacionais e internacionais. A tragédia do rio Madeira ilustra, de forma exemplar, os efeitos perversos das políticas do setor elétrico no Brasil, marcados pelo descompromisso com padrões mínimos de dignidade humana e ética ambiental. Se por um lado, desperta preocupação, ao apontar para o que virá com a euforia de fazer barragens que mais uma vez ganha força em nosso país, por outro lado, aponta caminhos para uma possível aproximação entre a luta dos atingidos por barragem (MAB) e a luta dos trabalhadores dos canteiros-de-obra.
__xxsup0Potencial hidrelétrico
No Brasil, está praticamente esgotado o potencial hidrelétrico dos melhores eixos da região Sudeste, a indústria barrageira tem se voltado para a Amazônia, caracterizada como uma nova fronteira hidrelétrica, detentora de 44% do potencial total do país. Embora seja comentado o quanto as hidrelétricas irão levar de energia à população, o principal motivo que determina a pressa na conclusão das obras é utilizar a energia gerada para abastecer as grandes indústrias nacionais e internacionais, que consomem muito, como na produção de bauxita/alumínio.