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Divida Interna Britânica: Para onde o dinheiro foi?

270411_divida_inglaterraInglaterra - World Socialist Web Site - [Jean Shaoul, Tradução de Diário Liberdade] 23 de Abril de 2011. Todos concordam que a dívida pública se tornou exorbitante, insustentável, um dreno na economia, sejam eles da coalizão Conservadora-Liberal Democrata, da oposição Trabalhista, ou os comentaristas da mídia, como foi colocado no Guardian, “Não existem sérias discussões acerca da necessidade da redução da dívida, apenas sobre o melhor horário de fazê-lo”.


As alegações são de que o setor público é esbanjador e ineficiente. Os funcionários públicos são protegidos excessivamente com salários altos e pensões “polpudas”. Então, os gastos públicos precisam sofrer cortes, pelo interesse de todos.

No entanto, ninguém consegue apresentar nenhuma evidência de que os gastos públicos são os responsáveis pelo alto valor da dívida Britânica, pois estas não existem. Consideremos, primeiramente, as tendências nos últimos 40 anos.

Os gastos públicos mantiveram uma média de 42% do PIB entre 1967 e 2010. Em geral, essas variações ocorreram de acordo com os ciclos financeiros, crescendo durante as recessões e declinando nos períodos de recuperação econômica, assim como os impostos subiram e os pagamentos da previdência declinaram em relação ao PIB.

Quando a crise financeira e econômica mundial, do início dos anos 1970 atingiu a economia Britânica, o governo Trabalhista efetuou um resgate do Fundo Monetário Internacional, em 1976, e implementou uma série de cortes ainda mais selvagens do que aqueles realizados pelo governo Thatcher no começo dos anos 1980.

Apesar da ofensiva ideológica de Thatcher contra o “grande governo”, com privatizações, as unidades de eficiência e determinados esforços para o corte de gastos do bem estar social, os gastos públicos continuavam na faixa de 42% do PIB quando o Novo Trabalhista retornou ao poder em 1997

O que aconteceu então sob o governo Trabalhista?

Em seus primeiros anos, o Novo Trabalhista ainda estava rigidamente preso aos planos de gastos do governo Conservador, trazendo os gastos públicos aos 37% do PIB em 2000/2001, o menor índice dos últimos 50 anos e muito mais baixo do que o do governo Thatcher. Gordon Brown, o Chanceler do Tesouro, só permitiu que os gastos subissem em absoluto apenas em 1999 e só ultrapassou os gastos dos Conservadores em 2005.

Este aumento foi, no entanto, muito diferente do resto do período pós-guerra, pois, aumentou acentuadamente em um período de crescimento econômico, de £333 bilhões em 1998-9 para £582 bilhões em 2007-8, um aumento de 45%.

Os maiores crescimentos foram em saúde e educação, que contam com 61% do crescimento total. Apesar dos gastos com pensões e bem estar social terem subido em termos absolutos durante o governo Trabalhista, em termos relativos, os gastos decaíram de 36% para 33% em 2008, devido, principalmente, ao crescimento da economia. Os gastos aumentaram para 35% durante a recessão e medidas foram tomadas para cortar benefícios sociais e aumentar o número de empregos. Em 2009 isso resultou em aproximadamente 378.000 pessoas que saíram dos benefícios.

Mas significantemente, apesar dos aumentos, os gastos públicos na proporção de 40% do PIB ainda estão bem abaixo da média de 42% dos 50 anos anteriores. E ainda mais importante, Enquanto a dívida pública subia, ela também, equivalendo a 36% do PIB em 2008, não era maior que o normal.

A informação de quem foi beneficiado com os gastos é reveladora.

O número de funcionários no setor público aumentou de 4.8 milhões em 1997 para 5.4 milhões em 2008. Este aumento de 12% está muito longe de representar o aumento de 42% dos gastos públicos. E o número de contratados, 20% do total da força de trabalho de 2008, continua menor que a do início dos anos 1990.

De acordo com a Pesquisa Anual de Honorários, salário anual médio bruto do setor público cresceu de £16.322 em 1999 (O primeiro ano cuja esta série de dados é disponível) para £23.925 em 2008, e é compatível com o salário anual médio bruto do setor privado, que subiu de £18.475 em 1999 para 27.956 em 2008.

Os funcionários do setor público recebem menos do que os do setor privado, apesar de muitos serem profissionais qualificados nas áreas de saúde e educação. E as diferenças salariais aumentaram de £2000 em 1999 para £3.600 em 2008. Em parte, essas diferenças refletem no fato de que 65% da força de trabalho pública é constituída por mulheres e muitas trabalham meio período.

A conta total dos salários cresceu de 24% para 27% dos gastos públicos, apesar do grande número de funcionários e dos altos salários. Então, o aumento de 42% dos gastos públicos não são causados pelos gastos com funcionários.

Então, para onde o dinheiro foi? Ele foi para a empresa privada.

Em nome da eficiência, o governo Trabalhista continuou e ampliou a política dos Conservadores de terceirizar serviços públicos, incluindo quase todas as funções locais do governo. Um relatório encomendado pelo Departamento das Empresas e da Reforma Regulamentar conclui que entre 2007-08, dos £ 300 bilhões gastos em serviços (em relação aos pagamentos de bem estar social, juros e investimentos), £159 bilhões foram gastos com pagamentos e £141 bilhões em aquisições. Apenas 53% foram gastos internos. E dos £141 bilhões gastos em aquisições, £79 bilhões foram para a nova e florescente “indústria de serviços públicos”.

O governo trabalhista lançou a Iniciativa Financeira Privada (PFI) à todo vapor, onde o setor privado foi convocado a financiar, construir e operar hospitais, escolas, prisões, estradas e o sistema judiciário, por um preço largamente inflacionado. Mais de um terço mais caro, se comparado ao valor de mercado, este sistema fracassou.

O governo Trabalhista aumentou os subsídios públicos para a perda, construindo metrôs privatizados e parcialmente privatizados no subsolo de Londres. O governo desperdiçou bilhões em consultores administrativos a cada ano para elaborar reformas e orientá-los, atingindo os £2.8 bilhões em 2005-06.

Estas medidas, juntamente com a expansão dos gastos públicos depois do ano 2000, foram subsídios disfarçados para os setores empresariais e financeiros e criaram uma força de trabalho paraestatal, estimada em um número aproximado entre 1.2 e 1.7 milhões de funcionários de empresas privadas que se tornaram de fato autoridades públicas.

De acordo com Financial Times, a realização privada de serviços públicos, à medida que reflete na indústria dos serviços públicos no Reino Unido, cresceu de £42 bilhões em 1995-96 para £80 bilhões em 2007-08 em preços correntes. Apenas na Suécia e na Austrália proporções maiores do PIB foram alcançadas.

Tomadas em conjunto, isso significa que grande parto do crescimento dos gastos públicos entre 2001 e 2008 foi devorado, não pelos funcionários públicos, mas pelos custos adicionais e terceirizações, administração interna e semimercados, o PFI, subsídios para ferrovias privadas que de outra maneira conseguiria pagar seus dividendo para seus acionistas e etc.

Então quando e porque a divida pública e o balão de débito foram feitos?

Os gastos públicos em relação ao PIB, só excederam de fato no início dos anos 1990 depois que o governo injetou dinheiro para que os bancos não falissem e do início da recessão em 2008-09.

O dinheiro público empregado no resgate em 2007-08 de duas hipotecárias falidas, Northern Rock e Bradford & Bingley, somou, no mínimo, £127 bilhões às dividas do setor público, uma soma equivalente a 8.6% do PIB em 2007-08, aumentando a divida líquida total do setor público para 48% em relação ao PIB. Esses dois resgates sozinhos equivaleram aos mais de £110 bilhões gastos na saúde pública, de longe o setor com mais gastos nos anos de 2008-09.

Em outono de 2008, o governo entrou em cena com uma série de medidas econômicas e financeiras para escorar os bancos e o setor financeiro e prevenir um colapso econômico. Devido a estes subsídios a divida pública cresceu rapidamente, de £525 bilhões em 2008 para £772 bilhões em 2012. E ela deve subir para £1.2 trilhões em 2012, uma soma equivalente a 68% do PIB, e continuará crescendo, este é o custo do serviço de débito.

Como o gráfico aponta, o crescimento do índice débito/PIB é produto do resgate dos bancos. É isto que é insustentável, não o custo dos serviços públicos. É isto que faz com que a classe trabalhadora seja forçada a pagar pelos atos e concílios em prol dos patrões empresários dos Conservadores/Liberais Democratas e dos Trabalhista-manipulados.

Tradução de E. R. Saracino


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