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Vituco Neira, dos Ruxe-Ruxe: 'Galiza é umha potência, falta é que a gente conheça a música do País'

150111_vitucoGaliza - - [Antom Papaqueijos, para o Diário Liberdade] Já há por volta de quinze anos do dia em que uns rapazes de Arins, (umha república popular a escassos minutos de Compostela), decidírom ligar definitivamente o amplificador e espalhar vátios arreio polas verbenas e locais do planeta.


 Estes veteranos fundadores no seu dia do que foi a Amelga (Associaçom de Músicos em Língua Galega), seguem nos dia de hoje com mais força e criatividade do que nunca. Sevilla, Xaco, Jimmy, Torroncho, Duarte, Xan Pericán e Vituco, com quem falamos, som os actuais militantes nos Ruxe-Ruxe.

Antom Papaqueijos - Como e quando nasceu Ruxe-Ruxe? E, acima de todo, porque nasceu?

Vituco Neira – Ruxe-Ruxe nasceu entre umha garagem em Sar e um quarto dumha casa em obras em Arins. Lá levávamos anos a destroçar versons com umhas guitarras e umha bateria. Depois, um dia do ano 96, alguém nos chamou para tocarmos num bar e nós nom tínhamos nem nome. Jimmi, o guitarrista do grupo, chegou umha noite à casa depois de andar de festa e viu como num concurso da TVG perguntavam o significado de ruge-ruge. Ao dia seguinte já tínhamos nome. Depois começamos a ensaiar numha corte de vacas em Arins e até hoje.

Ruxe-Ruxe nasceu polo muito que nos prestava o Rock and Roll. Daquela era algo mágico e agora, com o passar do tempo, essa sensaçom ainda foi em aumento. Nós amamos, a mais nom poder, o puto Rock and Roll!

[AP] - Se calhar chegastes justo quando o movimento Bravu começava a esmorecer. Como influiu em vós aquele fenómeno musical? Achas que continua vivo aquele espírito?

[VN] - O Bravu foi o argumento definitivo para que aquilo que fazíamos fosse em galego e falasse do que nos acontecia a nós na aldeia de Arins. O Bravu ensinou-nos que o nosso era o mais importante. A terra, a língua e a nossa gente.

Um dia fomos a um concerto dos Diplomáticos e ficou-nos claro o que era que queríamos.

Sempre dixérom que éramos a última banda Bravu mas acho que esse é um dado equivocado. Daquele espírito nascemos os Ruxe-Ruxe e outras muitas bandas que vinhérom depois. Aqui estamos muitos de nós porque esse sentimento continua vivo, a latejar e com muita vontade de batalhar.

[AP] - Conta um pouco das influencias musicais que tínhades, quer de fora, quer de dentro do País.

[VN] - As nossas influências fôrom todo o que chegou aos nossos ouvidos dos anos 90 para trás. Com toda aquela música que se ouvia nas emissoras de rádio fomos fazendo escola. Depois chegárom-nos os Clash, os Pistols, os Pogues, os La Polla Records, Siniestro Total, os Ressentidos, os Diplomáticos de Monte Alto, os Zënzar, Korosi Dansas...

[AP] - Como evoluiu o grupo a nível musical, ideológico, pessoal...

[VN] - A evoluçom vem dada pola experiência e suponho que algo aprenderíamos polo caminho. Também sou consciente de que com o passar dos anos vás perdendo preconceitos e fazendo-te mais livre. Sinceramente penso que a cada disco somos melhor grupo, fazemos melhores cançons e melhoramos a nossa fórmula para contar as nossas cousas.

No ámbito pessoal já começamos a ser conscientes de certas cousas, temos melhor perspectiva e aprendemos a desfrutar da passagem do tempo. Ruxe-Ruxe já tocou nos 90, nos 2000 e agora vamos pola terceira década.

Os nossos ideais continuam intactos e, além disso, agora somos mais sagazes.

[AP] - Os Ruxe-Ruxe tivérom formaçons muito variadas, 3 baixistas, 2 acordeonistas, muitos guitarras... é duro manter vivo um grupo de música dia após dia?

[VN] - O único que necessitas é ter expectativa polo projecto e que a vida pessoal che deixe tempo. Quando isso nom se cumpre imagino que é quando tenhem lugar as baixas. Polo grupo passárom grandes amigos e grandes pessoas, cada um com a sua vida e as suas circunstáncias. Todos deixárom grande pegada quer no pessoal, quer no musical, mas há vezes em que nom é possível continuar e, ainda que seja unha mágoa, há que baixar do carro.

[AP] - Custa muito dinheiro manter umha banda de rock na Galiza? Dá para viver, ou mais bem para "beber"?

[VN] - Nós temos a fortuna de tocar bastante e ter viabilidade económica para poder afrontar novos projectos. Estaria bem poder vivermos disto, mas isso teria a parte negativa de nos fazer escravos de fórmulas que funcionassem e iria pôr-nos em situaçons de ter que lhe passar a mao polo lombo a sabe Cristo que personagens.

Somos livres em todos os sentidos e fazemos o que nos presta e quando nos presta. Isso nom há dinheiro que o pague. Se dependêssemos exclusivamente do grupo para comer a nossa liberdade artística seria, sem dúvidas, muito menor.

[AP] - Como era a Compostela dos anos 90? Que inquietaçons tinha daquelas um rapaz espilido como tu?

[VN] - Os 90 em Compostela eram anos de muita música. Em todos os locais da zona velha e em muitos da zona nova havia música em directo. Nós, naqueles primeiros anos de grupo, tocávamos todas as semanas. Tivemos aquela sorte e oxalá hoje os grupos que começam tivessem tantas tabernas onde tocar.

As inquietaçons que eu tinha eram as de conhecer o País de ponta a ponta com a guitarra às costas.

[AP] - Como a vês agora? Vamos cara diante ou estamos a recuar?

[VN] - Compostela agora é umha chatice. É lamentável ver como se despreza os grupos da cidade por parte da câmara municipal. Somos a cidade mais paifoca do País e, por cima, vendemos a moto da modernidade cultural. Temos grupos ponteiros em muitos estilos que nom param de tocar polo mundo adiante mas em Compostela nom se lembram deles.

A Compostela musical é vanguarda e os programadores da cidade nem dam por isso. Que aconteceria se metessem na semana grande das festas os grupos ponteiros da cidade na Praça da Quintana? Pois nunca o saberemos, por tanto pailanismo. Depois malbaratam o nosso dinheiro numhas foleiradas de medo. É penoso.

150111_vituco2[AP] - Ruxe-Ruxe deve ser o grupo de rock mais prolífico da Galiza, pois estades a maquinar o vosso oitavo trabalho, que virá a seguir o disco "A Fura de Diante". Que tal funcionou este último e como vai ser o próximo que está em projecto?

[VN] - Pois o disco funcionou caralhudo. Vendeu avondo nestes tempos de crise e ademais temo-lo a descarregar de borla no nosso web onde leva unha bestialidade de descargas. Todo isto nom é que nos importe muito mas dá-nos energia e ânimos para afrontar o novo trabalho.

Quanto ao disco novo, estamos metidos em questom e as músicas soam muito bem. Será um disco punkeiro e rockeiro e também com muito de música da terra. Nom inventamos a pólvora mas a nós presta-nos muito como estám a sair as cousas.

[AP] - Se me permitirees umha pergunta um bocado extensa, como compositor principal dos temas do grupo, como vês o tema do chamado pirateio de discos, da gestom dos direitos de autor, das descargas na rede, da Lei Sinde...

[VN] - Nós o que queremos é que se escuite a nossa música. Que a descarreguem se quigerem, que pirateiem o disco e que a desfrutem.

De resto, quanto aos direitos, é obvio que se alguém tira proveito económico com o nosso trabalho nós temos também o direito de levar a nossa parte por pequena que for. Que a SGAE funcione como o caralho nom deveria de pôr em questom os direitos de autor em determinadas circunstáncias. Afinal, os que realmente se enriquecem com todo este assunto das descargas som as grandes companhias telefónicas mas a essas ninguém lhes mete mao.

Por outra parte, o controlo da Internet e o controlo dos mídia é umha batalha dos poderosos que sempre querem mais poder. A cousa é complexa e nom sei por que caminho continuará, mas sempre é perigoso que os mais poderosos metam as fauces.

[AP] - Existe a indústria discográfica galega? Existe a indústria musical em galego?

[VN] - A indústria musical galega existirá quando @s músic@s galeg@s puderem pagar as facturas, as hipotecas e a educaçom e manutençom dos filhos com o dinheiro que gera o seu trabalho. Por enquanto, a indústria musical galega é um pastel que papam entre quatro amigos, quatro produtoras e quatro gatos bem colocados.

[AP] - Quais fôrom para ti os melhores momentos em cima dum palco? E os piores?

[VN] - Maus, francamente, nom lembro nengum e dos bons, qualquer desses momentos em que entramos em transe absoluto bourando como se estivéssemos tolos, com os olhos em branco e adoecidos como cans com a raiva.

[AP] - Galiza, Portugal, Espanha, Itália... já andastes a queimar roda polo mundo, conta-nos um pouco da vossa experiência internacional.

[VN] - Pois muitas vezes chegas a tocar a um sítio onde nom sabes nem como chegaste e ficas surpreendido do interesse que tenhem e ponhem no que tu fazes. Depois sempre reflexionamos perguntando como chegamos a este ou aqueloutro sitio tocando cançons de Arins.

É muito formoso poder compartir com o mundo o que humildemente vamos fazendo. Depois estám as viagens, a gente que conheces e os inesquecíveis momentos que vivemos internamente o grupo e a gente que se move connosco.

De quando em vez soa o telefone e chamam-nos de sítios bem curiosos para ir tocar . Lá vamos! Para nós é como um prémio que desfrutamos como crianças com brinquedo novo.

[AP] - Figeste muitos amigos nestes anos de rock, e suponho que também algum que outro inimigo, como vês a relaçom entre bandas, com as promotoras, com a administraçom...

[VN] - Muitas amizades. Algumhas muito importantes e sentidas para nós. Inimigos achamos que poucos, ou polo menos nunca no-lo dixérom na cara.

Damo-nos francamente bem com as bandas com que vamos quadrando e com muitas delas temos umha muito boa e grande amizade forjada com o passar dos anos.

[AP] - Nom poderíamos obviar o teu trabalho jornalístico primeiro à beira de Xurxo Souto no seu mítico programa na Rádio Galega "Aberto por Reformas", e agora com o celebrado "Planeta Furancho" na Rádio Galega Música. O público galego demanda música na sua língua? Como vês o panorama?

[VN] - Tivem a fortuna de fazer parte do 'Aberto por reformas' junto ao mestre Souto e isso foi e será para mim unha experiência vital absolutamente inesquecível. Lá aprendim e compartim horas e rádio com um dos maiores referentes da cultura contemporánea do País. Para mim foi um luxo pessoal poder participar no programa e compartir tempo com Xurxo.

Agora com o Planeta Furancho tenho a sorte de poder desfrutar da música do País cada noite e de maravilhar-me com a qualidade dos nossos grupos. Somos vanguarda e estamos a viver um momento musical e criativo absolutamente histórico. Nós, no Furancho, somos testemunha directa.

O público galego, e o nom galego, quando vai conhecendo as propostas do País fica prendado e aí gera-se a demanda. Essa é a nossa teima: que a gente conheça a realidade musical galega. O demais cai de maduro.

150111_vituco3[AP] - Quanto às inquietaçons da mocidade galega, achas que pode ser a Fender Telecaster umha ferramenta normalizadora da língua?

[VN] - A língua o que necessita é que a empreguem, que a escrevam, que a falem, que a cantem. A Telecaster é unha guitarra bem atractiva mas nada comparado com o formoso que é o nosso idioma e a nossa cultura.

[AP] - Que cousas che prestárom aprender desde que trabalhas na rádio?

[VN] - Para mim a rádio é o meio de comunicaçom mais formoso, honesto, limpo e directo que existe. Aprendim a respeitá-lo e a desfrutá-lo. Também aprendim, e aprendo, cada noite que o protagonismo é da música, dos discos, das cançons, dos grupos, d@s músic@s e que eles som os que tenhem que falar e mostrar no programa todo o que levam dentro.

[AP] - Como vês o ambiente na rádio pública quanto à preocupaçom com a nossa cultura, o cumprimento dos seus estatutos e, porque nom dizer, a politizaçom?

[VN] - Vivemos num mundo político e mediatizado. Todo o resto vem atrás. Oxalá a política estivesse mais perto da realidade e fosse mais social mas o caminho do mundo é outro.

A Rádio Galega tem que ser a rádio de tod@s os galeg@s e tem que estar preocupada com a sua língua, pola sua cultura, pola sua música e polo seu País. Todo o que nom for isto mal feito está.

[AP] - Recomenda-nos algumhas propostas musicais para a segunda década do milénio.

[VN] - Pois pós-me num compromisso. Há muita e muito boa música no País e dependendo do momento poderia escolher umha proposta ou outra.

O que sim vos digo é que temos umha das melhores realidades musicais do mundo e que há variedades para todos os gostos, que o futuro é enormemente prometedor e o presente é umha delícia.

Temos autênticas jóias musicais que provavelmente em qualquer outro lugar do mundo seriam tratadas como tal.

Somos unha autêntica potência e agora apenas falta que @s galeg@s descobram @s noss@s músicos e desfrutem das propostas do País.

Temos quantidade mas por cima de todo temos muita qualidade.

[AP] - Para terminar, Motörhead, Diplomáticos ou Pogues?

[VN] - Três grandes, mas aí também podes pôr os The Clash, Bo Diddley, os Zënzar, os Korosi Dansas, os Ramones e a um feixe mais.

Os mestres som os mestres, há que desfrutá-los, aprender deles e respeitá-los.


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