A promessa de Julian Assange de revelar documentos sobre Israel começou a ser cumprida. Nestes últimos dias vieram à tona denúncias sobre o assassinato de uma das principais lideranças do Hamas ocorrida em janeiro deste ano na cidade Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos. Esses primeiros documentos fazem parte de uma série de 3700 que se tornarão públicos nos próximos quatro meses.
Assange ainda aguarda sob liberdade condicional, em prisão domiciliar em uma casa na região rural da Inglaterra, seu julgamento de extradição. Em entrevista recente ao diário espanhol El País revelou que sofre ameaças de morte toda hora por parte de membros das Forças Armadas dos Estados Unidos.
O fundador do Wikileaks irá escrever sua autobiografia, na qual irá contar a história do site. O livro será lançado no segundo semestre de 2011.
Wikileaks revela ação da Mossad em Dubai e expõem colaboração de governos árabes com os EUA e Israel
Depois de revelar há alguns dias atrás que lideranças do Fatah pediram para que Israel atacasse o Hamas em 2007, mais uma vez o Wikileaks expôs tanto a ação do governo sionista na luta contra os povos árabes como a colaboração de governos da região com esta política. Desta vez, a denúncia recaiu contra o governo dos Emirados Árabes Unidos (EAU).
O serviço secreto de Israel (Mossad) assassinou um dos líderes do Hamas em Dubai no início de 2010. Para executar a ação, os militares israelenses entraram clandestinamente no País usando documentos e passaportes falsos, além de disfarces. O governo dos Emirados Árabes chegou a cogitar esconder o fato para proteger Israel. Só não fez, pois isto levaria a uma crise interna e externa muito grande, como revelam alguns telegramas do embaixador norte-americano Richard Olson, publicados recentemente pelo wikileaks.
"As duas opções discutidas foram não dizer nada, ou revelar mais ou menos todo o conteúdo das investigações dos Emirados Árabes Unidos", escreveu Olson em um telegrama enviado a Washington. No mesmo telegrama ele ainda apresenta o motivo pelo qual o assassinato não foi completamente omitido: "Não dizer nada teria sido percebido como proteger os israelenses." Mesmo assim, o embaixador ainda conta como o governo árabe fez para não incriminar Israel, mas afirma que inevitavelmente iriam associar o crime ao serviço secreto israelense. "A declaração foi feita cuidadosamente para que não apresentassem acusações diretas, mas a referência a um grupo com passaportes ocidentais será entendida localmente como uma referência ao Mossad".
Até hoje nem o governo dos Emirados Árabes Unidos se pronunciou sobre a revelação do Wikileaks e nem Israel reconheceu que comandou a ação que acabou na morte de uma das principais lideranças do Hamas.
Agência antidrogas tem sido usada como pretexto para espionar opositores de governos latino-americanos
Há muito tempo vem sido denunciado que o governo norte-americano vem usando o pretexto do combate ao tráfico de drogas para aumentar sua presença militar em outros países. Estas denúncias têm como principal alvo a ação dos EUA na Colômbia, em particular a ação promovida contra os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC.
No entanto, documentos recém vazados mostraram que casos como este não se restringem ao país governado por Juan Manuel Santos. Os governos do Paraguai e do Panamá acionaram a agência antidrogas norte-americana (DEA, da sigla em inglês) para espionarem inimigos políticos do governo.
Telegramas de embaixadores americanos revelam que o governo paraguaio pediu a espionagem do grupo guerrilheiro EPP, o Exército do Povo Paraguaio. Já no Panamá, o presidente do país, Ricardo Martinelli pediu à embaixada norte-americana que espionassem grupos opositores.
Segundo algumas informações, o DEA tem hoje pelos menos 87 escritórios em 67 países diferentes. O que mostra que longe de combater o tráfico de drogas, todo este aparato norte-americano que dispõe de um amplo serviço de espionagem é um instrumento para ingerência dos EUA em outros países. Todas estas operações são usadas para preservar os interesses do imperialismo na região e são uma violação tanto dos direitos das nações à autodeterminação como dos direitos democráticos dos cidadãos.
Oriente Médio: aos amigos, tudo, aos inimigos, sanções e ditadura
Em telegramas enviados para membros do governo norte-americano, em 2008, o presidente egípcio Hosni Mubarak enviou informações para autoridades dos EUA com o objetivo de combater a política do Irã de oposição ao imperialismo.
Mubarak relatou aos norte-americanos que caso o Irã decidisse construir uma bomba atômica o Egito também iria fazer outra para contrapor o poder iraniano na região. No entanto, a colaboração do governo egípcio com o imperialismo não para por aí. Em outros telegramas revelados pelo Wikileaks, o governo de Mubarak informa sobre a espionagem que seu serviço secreto fez contra militantes árabes que estariam alinhados e sendo apoiados pelo Irã. Em abril, 26 pessoas no Egito foram condenadas por terem ligações com o Hezbollah.
Sobre o Iraque, a posição do governo egípcio foi a de recomendar aos EUA que instalassem uma ditadura militar em Bagdá para conter a crescente crise com a ocupação no país.
Desde a Revolução Iraniana de 1979 os dois países têm relações cortadas por causa do apoio dado a Israel e aos EUA pelos governos do Egito.
EUA querem caçar direitos democráticos dos povos e querem atacar e interferir até no Tribunal Europeu de Direitos Humanos
Em uma correspondência secreta, Vicent Carver, cônsul geral dos EUA em Estrasburgo, cidade francesa onde está situado o Parlamento Europeu, critica duramente o Conselho da Europa. A crítica é pela posição dos europeus de não atender aos pedidos de facilitar extradições de presos e transferências secretas de suspeitos de terrorismo.
Ou seja, os EUA exigem o fim de uma série de direitos democráticos da população européia para que possa ampliar suas ações com a desculpa do combate ao terrorismo.
Caso a política americana fosse aceita teria influencia no caso de Julian Assange. O fundador do Wikileaks não teria o direito de recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, caso os EUA solicitassem seu pedido de extradição, por exemplo.
Vale lembrar que este Tribunal é controlado pelos imperialistas europeus, que seja com governos de direita ou de "esquerda", têm atuado sistematicamente contra a população do continente. A tentativa de ingerência dos EUA até neste órgão mostra a ditadura que estão tentando implantar no mundo.
Governo norte-americano mantém restrições e perseguições contra opositores das ditaduras latino-americanas
No início do governo Obama, o ex-militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Paulo de Tarso Venceslau, consegui um visto de entrada nos EUA. Tal situação foi interpretada como uma mudança na política externa dos EUA, pois Venceslau e outros militantes que participaram do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969, estavam há quase quatro décadas sem poder pisar em solo norte-americano.
No entanto, um dos telegramas emitidos pela ministra conselheira Lisa Kubiske revelou que não se tratou de um engano da embaixada norte-americana o acontecido.
No mesmo telegrama foi revelado que a decisão em relação a Venceslau só não foi revertida por medo de que viesse à tona a forma como os EUA tratam seus opositores, mesmo depois destes já terem mudado de política. Em um dos trechos do telegrama, Kubiske afirma que o FBI mantém fichas dos envolvidos neste caso.
A restrição imposta neste caso se aplica ainda hoje a pessoas como o ministro da Comunicação Social Franklin Martins e o direitista Fernando Gabeira do Partido Verde (PV).
MST denuncia Globo por manipular informações divulgadas pelo Wikileaks
O jornal O Globo publicou uma matéria onde ataca o Movimento dos Sem Terra por este ter espiões dentro do Incra. As informações obtidas teriam partido de documentos cedidos pelo Wikileaks e uma das fontes usada pelo jornal foi o historiador Clifford Andrew Welch, membro do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos em Reforma Agrária. O relato de Welch a O Globo atestaria que as denúncias contra o MST são verdadeiras.
O jornal ainda usa supostas negociações ilegais envolvendo o MST e empresários do agronegócio com terras destinadas para reforma agrária para atacar ainda mais o movimento.
No entanto, o MST e o historiador denunciaram que a matéria tem como objetivo favorecer os interesses dos EUA e desvirtuar as denúncias feitas pelo Wikileaks contra o imperialismo. "Nunca falei e jamais falaria algo assim [contra o MST]. No primeiro lugar, a palavra espião é invenção da Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais", declarou Welch (site do MST 27/12/2010).
Foi mostrado recentemente e analisado nas páginas deste jornal a tentativa dos EUA e de militares brasileiros de aprovar uma lei-antiterrorismo no Brasil. Nesta lei, o combate ao terrorismo seria usado como pretexto para perseguir e colocar na ilegalidade todos os movimentos sociais brasileiros. Neste sentido, a "denúncia" do envolvimento do MST com o governo Lula promovido por O Globo somente pode ser entendido como uma campanha a favor da política de intervenção e repressão dos EUA contra a população brasileira e suas lutas.