O incipiente estudo parte da «comuna autónoma» como base de um modelo de organização para a Galiza, tal como as repúblicas de aldeia promovidas por Gandhi na Índia, o confederalismo democrático de Öcalan no Curdistão ou os municípios autónomos zapatistas de Chiapas. A proposta de Mancomunidade para uma Galiza territorialmente indeterminada coloca também em causa a noção de fronteira estatal como limite inflexível para que primem as noções de biorregiões ou bacias hidrográficas.
Como modelo organizativo, parte de um nó básico, a paróquia civil ou bairro vilego, como pequena comunidade livre, autossuficiente e autogovernada em concelho aberto, federada em estruturas superiores comarcais e biorregionais, partindo do princípio de a independência ser começada desde baixo, como acumulação de independências prévias: individual, comunal e comarcal, frente à fascinação revolucionária com a «tomada do poder» para evitar o erro cíclico de assumir estruturas hierárquicas no processo para reproduzi-las reiteradamente.
Salientando o potencial autogestionário galego, tendo em conta que 25% do território (700 000 hectares) está gerido por comunidades vizinhais, para o autor, pode ser o germe de uma Mancomunidade de comunidades vizinhais à margem do estado e, ainda mais, tendo em conta a história da organização social e territorial galega e a sua persistência ao longo dos séculos como forma de resistência perante a superposição da estrutura estatal.
Fazendo uma viagem desde o Neolítico até os nossos dias, diferentes estudos recentes sustentam a tese de o que hoje chamamos Galiza foi organizada sem estado quase na totalidade do tempo dando exemplos do período da Idade de Ferro, restando importância, quanto a organização territorial, à invasão romana e continuidade do castro como modo de assentamento, o Reino dos Suevos, entendido como monarquia com poder jurisdicional sobre a população germânica recém chegada ou as revoltas irmandinhas como rutura unilateral das relações de vassalagem.
A ausência deste tipo de análise e falta de adaptação do esquema federal libertário à realidade galega por parte do anarquismo de entre-guerras provoca uma anomalia em que, algumas vozes do galeguismo teriam considerado a afinidade entre o pensamento libertário e a realidade própria do país, fruto da sua longa história de confrontação com a estatalidade. Exemplos como Vicente Risco, Vilar Ponte, Manuel António ou Castelão lançam propostas, algum deles no Solidariedade Obreira, centradas no autogoverno e autossuficiência tendo como ponto de partida a paróquia.