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291014 Manuel-VasquezGaliza - PGL - «Eu conhecia a AGAL desde havia muitos anos, visitava o seu sítio web, lia publicaçons, etc. Enfim, era para mim umha das fontes aonde ia para tirar dúvidas.»


 

Manuel Vázquez Blanco é médico e sempre tivo interesse polas línguas. Mas chegou antes ao estudo do castelhano, latim, alemao ou inglês, do que ao estudo do galego. Depois cursou Filologia portuguesa e desde aquela é um erudito da língua.

Como profissional da medicina, qual pensas que é a situaçom da língua galega no sistema sanitário (público e privado)?

Existe atualmente umha aparência de igualdade do ponto de vista político-legal, sem qualquer validez prática, umha situaçom de diglossia onde cada umha das duas línguas tem funçons repartidas. Consoante esse esquema, é comum os utentes esforçarem-se por falar em espanhol para comunicar com o médico e com o resto dos profissionais da saúde, mesmo no caso de o médico se dirigir a eles em galego, e mesmo por pessoas quase monolingües em galego. É típico ver como os médicos, também os galegofalantes, utilizam o galego somente na comunicaçom com os doentes. Porém, na interaçom com os colegas ou para redigir relatórios, atestados ou elaborar trabalhos, utilizam o espanhol.

E qual é a situaçom do profissional galegofalante neste ámbito?

O médico ocupa o lugar central do sistema de saúde, quer público quer privado. Portanto, o seu papel é fundamental para valorizar a língua galega, prestigiando-a com a sua utilizaçom, dando assim o exemplo a outros profissionais e aos próprios utentes. Para isso é necessário romper preconceitos, pois às vezes falar e escrever em galego em determinados contextos estigmatiza as pessoas, assinalando-as do ponto de vista político. Para umha língua como a galega é importante deixar de ser considerada própria de habitantes do campo e de pessoas sem formaçom, assim como alcançar um uso real polas assim chamadas elites culturais, sociais e económicas, o que ainda está longe de acontecer.

 

Nasceste numha aldeia mas dizem que o reintegracionismo nom liga bem com ter nascido lá, que opinas?

A populaçom rural, e durante muito tempo também a maioria da populaçom, foi quem conservou viva a língua (o despovoamento rural está diretamente relacionado com a diminuiçom do número de falantes da língua galega).

As variedades locais faladas na Galiza, sem código elaborado, infiltradas de castelhanismos, escritas com a ortografia do espanhol, isoladas do resto da comunidade lingüística galego-portuguesa, ficárom assim mais afastadas da norma padrom da língua. Porém, as variedades autóctones conservam muito bem a prosódia e a gramática (por exemplo, a colocaçom dos pronomes, dificílima para falantes nom nativos).

Quando as burguesias instaurárom as suas repúblicas, organizárom um estado à sua própria imagem. O estado foi construído por umha classe social poderosa, economicamente privilegiada, com umha língua e umha cultura bem elaboradas e com uns interesses e objetivos bem conscientes. Onde a burguesia dizia liberdade, queria dizer liberdade de propriedade, e onde dizia igualdade, queria dizer igualaçom no sentido da homogeneizaçom cultural. Na construiçom da naçom-estado espanhola, forom empregados todos os meios possíveis para conformar os cidadaos à língua e à cultura nacional, como a administraçom, a justiça, e particularmente o serviço militar e a instruiçom pública.

Do mesmo modo que a impossibilidade para viver dignamente na sua terra natal é o que impele os emigrantes a estabelecerem-se noutras partes do mundo, quando a gente nom pode sair adiante na sua língua, muda para a de maior prestígio, a da administraçom, a da política, a da economia.

Nom há nada de contraditório nisto, som fenómenos bem conhecidos, comuns a todos os casos onde umha língua regional está a ser substituída por outra que é a língua do estado, da administraçom.

 

Tens muito interesse e também formaçom em diferentes línguas (latim, alemao, grego, inglês…); como nasceu esta paixom? O que destacarias de toda esta aprendizagem?

Num primeiro momento, o meu interesse polas línguas era essencialmente “desinteressado”, isto é, com o único objetivo de conhecê-las. Trata-se de saber polo prazer de saber, a recompensa é o próprio conhecimento. Depois, o conhecimento dumha língua permite ver o mundo como o vêem os seus falantes nativos, ler as criaçons literárias ou científicas na língua original, sem traduçom.

Chegaste ao galego depois de ter estudado outras línguas. Pensas que o galego pode ajudar a “abrir portas” tanto dentro quanto fora da Galiza?

O bilingüismo permite participar de mundos culturais distintos, raciocinar de forma diferente em cada idioma, e predispom para atitudes mais flexíveis diante de situaçons diferentes, entre outros benefícios.

Abre as portas da cultura: que pode haver mais absurdo que ler o Ensaio sobre a cegueira em espanhol sabendo galego? Ou pior ainda, alguém ousará algum dia traduzir essa obra ao galego da “Xunta”?

É muito expressivo ouvir os portugueses dizer que eles nom som capazes de ler um texto qualquer em galego, que o preferem ler em castelhano…

Ao começar com os estudos de Filologia Portuguesa, de que maneira muda a tua percepçom do português e a relaçom entre este e o galego que conhecias até esse momento?

O estudo da língua portuguesa mostra-nos que temos umha língua de cultura perfeitamente desenvolvida, com umha história contínua desde as suas origens na Idade Média, com todos os recursos necessários numha sociedade moderna.

No entanto, há gente que está a elaborar normas ortográficas, a inventar palavras…

Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te tornares sócio e que esperas da associaçom?

Eu conhecia a AGAL desde havia muitos anos, visitava o seu sítio web, lia publicaçons, etc. Enfim, era para mim umha das fontes aonde ia para tirar dúvidas.

Todos os esforços para defender e dignificar a nossa língua som poucos. O uso digno, individual, ativo da língua em todos os foros, é essencial. As sociedades e associaçons como a AGAL som fatores que contribuem para o surgimento dumha consciência lingüística autónoma, para liberarmo-nos do jugo do castelhano e para evitar que a língua da Galiza termine convertendo-se numha variedade dialetal do espanhol.

Como gostarias que fosse a ‘fotografia lingüística’ da Galiza em 2020?

Gostaria de ver estabelecido o princípio de territorialidade das línguas, em que cada língua é a única oficial no seu território (a língua veicular, por assim dizer) e todas som iguais em direitos, ao nível estatal.

 

Conhecendo Manuel

 

 

  • Um sítio web: www.wikipedia.org
  • Um invento: A escrita.
  • Umha música: Sinfonia nº 7 de Beethoven.
  • Um livro: O Processo, de Franz Kafka.
  • Um fato histórico: A Revoluçom Francesa.
  • Um prato na mesa: Filhoas com mel.
  • Um desporto: O xadrez.
  • Um filme: Ágora.
  • Umha maravilha: O Universo.
  • Além de galego: Cidadao livre.
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