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220914 222Galiza - Xavier Alcalá - Pois, amigos, sigamos com velhas teimas, às quais temos direito por sermos velhos. Na anterior nota para Palavra comum recordava-vos aos que sois novos como se comportara o ínclito Filgueira Valverde a respeito da norma com a que escrever o galego: facilitou a imposição da escrita demótica, como lhe chamava o Professor Ricardo Carvalho e, não contente com isso, ainda –desde as alturas do poderzinho regional– vetou toda possibilidade de cada um escrever como considerasse mais adequado.


A repressão, que hoje perdura, exerce-se impedindo que os autores possam ser galardoados com prémios se as suas obras não estiverem escritas segundo a norma gráfica oficial, da qual é garante a Irreal Academia do Impaís; e que os livros produzidos pelas editoriais possam receber qualquer tipo de ajuda se não cumprirem com essa norma (vade retro Satana se não cumprir um texto escolar).

Que conseguiram os Pais da Pátria logo de trinta anos de “normalização linguística” na Galiza? Que os galegos sejam tão burros como os castelhanos para lerem e falarem línguas alheias. Com a agravante de terem afastado o galego da sua forma gráfica histórica, que o junta ao português. O castelhano não tem uma língua irmã para ter em conta à hora de escrever, embora se pronuncie doutro jeito. O galego, sim.

Mas as mentes do Filgueira (ministrinho, presidente do kafkiano Conselho da Cultura Galega) et caterva nunca perceberam o que algum dos seus contemporâneos entendiam como necessidade, e estou a pensar em Paz Andrade, home de empresa, com visão do mundo. Aqueles aldeões ao serviço de Madrid desdenhavam as ideias teóricas de Ricardo Carvalho e as práticas, comerciais, de Valentim Paz Andrade. Passadas as décadas, o pacato Parlamento Galego (que preside uma mulher indigna por incapaz de falar a língua patrimonial) em pleno admitiu a conveniência do português ser ensinado na Galiza.

Ora, o mal está feito, e, como mostra, eis os casos de dois apelidos galegos que se pronunciam continuamente de maneira absurda, dentro e fora da Galiza (fora porque o absurdo nasce dentro). Refiro-me a Rajoy e Feijóo.

Durante três décadas a escrita demótica esclerotizou as mentes galegas. Alá onde desde séculos se escrevera um “ge” ou um “jota”, passou-se a escrever oficialmente um “xis”. É certo que na fala galega houve uma evolução que leva a unificar sons, e verdade que se pronunciam da mesma forma “queixo” e “queijo”; mas a simplificação foi fatal para a riqueza léxica do galego… e produziu um efeito perverso sobre os apelidos. Tal é o caso de Rajoy e Feijóo.

Mariano Rajoy é um declarado inimigo do galego, um notável galeguicida; Alberto (Núñez) Feijóo é um agente da destruição do galego, que fala como mixórdia, em mistura fonética, sintática e morfológica com o madrileno. Mas não é por isso que os locutores da Radiotelevisão Galega pronunciem os seus apelidos como Rakhoi eFeikhó (e como eles todos os locutores da Espanha, e os de Portugal fazendo esforços). Não é que os profissionais galegos do micro tenham medo às represálias do partido no poder. O absurdo parte da lógica: pronunciariam Rashoi e Feishó se virem esses nomes escritos como Raxoi e Feixó.

Foi memorável um quadrinho d’O Carrabouxo, humorista gráfico de grande sucesso: mostrava nele a figura do Rajoy de caminho ao que sempre se chamara Paço de Rajoy até a Lei de Normalização. Como a partir dela passou a ser o Pazo de Raxoi, o Carrabouxo simplesmente lhe fez falar ao renegado: “Soy Rajoy y voy al pazo de Raxoi”.

No absurdo caem todos os galegos. O povo tem perdão; mas há “intelectuais” tão bárbaros como uma senhora que se faz chamar de escritora e mantém que o seu apelido, Seixas, “sempre foi Seijas e se deve pronunciar Seikhas. Sempre!”

Enfim, pelo fio de Rajoy e Feijó (ou Feijoo, mas indevidamente Feijóo) podemos chegar a um terrível novelo: o dos apelidos galegos. Mais isso é afastarmo-nos do inicial problema gráfico. Seguiremos noutra entrega.

[Palavra comum - Artes de letras da lua nova, 17/09/2014]


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