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230714 Breve-História-do-ReintegracionismoGaliza - PGL - Tiago Peres leva vários anos a trabalhar num livro histórico, nunca melhor dito. Através das páginas da Breve História do Reintegracionismo, que vê a luz neste verão, o autor demonstra que ainda nos resta muito a saber sobre as origens do movimento reintegracionista e o processo de codificação do galego. O peso do Decreto Filgueira e o papel do Conglomerado Galaxia também ocupam um lugar salientável nesta obra.


Quais os maiores desafios a que se enfrenta um historiador para historiar o reintegracionismo?

O maior desafio é manter a objetividade e a distância com o teu objeto do estudo. É claro que a objetividade não existe, mas como historiadores devemos ir na sua procura. Além disso, para a etapa contemporânea há uma dificuldade acrescentada ao estarem a maior parte dos seus protagonistas ainda vivos. É também nesse sentido um maior risco. Quanto mais nós achegamos cronologicamente, mais complicado é saber valorar o peso real que determinadas pessoas tiveram na organização e articulação do movimento. Seja como for, o livro não tem por objetivo contornar os egos dos reintegracionistas, que são muitos e mui variados, (risos), mas fornecer uma visão global do movimento desde o começo dos confrontos normativos até a atualidade.

O livro não recolhe apenas texto mas também numerosas imagens diagramadas polo profissional Ricardo Cabanelas. Era o livro que sonhavas?

Pois na verdade está perto do livro dos meus sonhos. Essa foi desde o começo a nossa ideia, e digo nossa já que a ideia inicial foi de Valentim Fagim. Acho que os dois olhamos a necessidade dum material destas características. Um livro breve, de carácter divulgador mas ao mesmo tempo rigoroso do ponto de vista historiográfico e com um desenho atrativo. É algo, por outra parte, muito comum na historiografia anglo-saxónica mas ainda pouco estendido nas nossas latitudes.

Como bem dizes, o livro conta com um dos melhores desenhadores galegos, Ricardo Cabanelas, que para além de um magnífico profissional e também o autor de muitos dos desenhos e logótipos do movimento.

Assinalar também que a “Breve História do Reintegracionismo” não está pensada para os próprios reintegracionistas, mas para todas aquelas pessoas que tenham interesse em conhecer como foi o processo de codificação do galego moderno. Processo que em muitas ocasiões foi ocultado ou desvalorizado. É nesse sentido, e em palavras de Antón Villiar Ponte, um livro sobre as “loitas” normativas.

A maioria das pessoas julga que o reintegracionismo é um movimento recente, nascido em finais de 70, começos de 80. Qual a focagem do livro ao respeito?

As pessoas que pensam isso vão levar sem dúvida uma surpresa ao lerem este livro. Se bem é certo que o reintegracionismo como movimento social começa por meados dos 80, uma outra coisa foram as diferentes lutas normativas antes da oficialização das Normas Ortográficas de Morfolóxicas do Idioma Galego(NOMIG). Neste sentido, os confrontos normativos dentro das fileiras do galeguismo e do nacionalismo são tão velhos como a própria história do galeguismo. É claro que o argumento da modernidade do reintegracionismo foi tradicionalmente utilizado pelo isolacionismo, mas é um argumento que tem um problema, dá-se mal com a história. Por citar tão só um exemplo dos muitos que aparecem no livro: um Ricardo Flores, nas páginas da Fouce, chamava “espanholeiros” aos membros do Seminário de Estudos Galegos por entender que a sua proposta ortográfica não confluía o suficiente com o português.

Quando um movimento é periférico é comum simplificá-lo se for visto de fora. É assim tão simples o reintegracionismo?

Não é simples, antes diria que é todo o contrário. Nesse sentido, acho que o estudo do Reintegracionismo como movimento é, do ponto de vista historiográfico, um fenómeno muito interessante para qualquer historiador, mas também muito complexo. Complexo pela heterogeneidade e diversidade organizativa, mas também pelas diferentes posições com respeito a codificação e as mudanças de postura de muitos galeguistas. Foram também muitas as diferentes propostas normativas, sobretudo nos começos dos anos oitenta, que foi a época, como acertadamente assinalou Johanes Kabatek, das “Mil e uma normativas”. Eu procurei simplificar já que embora também existissem e existem conflitos ortográficos ocultos dentro das duas tendências maioritárias, a dialética principal foi, e continua a ser, o confronto entre reintegracionismo vs isolacionismo.

A RAG decidiu dedicar o dia das letras a Filgueira Valverde. Qual o seu peso na questione della lingua? Como historiador, qual a tua opinião sobre a nomeação?

Suponho que a estas alturas não deveria estranhar que a RAG decida dedicar o dia das letras a Filgueira Valverde. Paradoxalmente acho que, mesmo do seu ponto de vista, é um erro ter feito essa eleição. Já como historiador, Filgueira Valverde é uma pessoa que dá muito jogo, já que mesmo como poderão ler as pessoas que comprarem o livro, Filgueira defendeu o galego-português nas páginas da Fouce, mesmo colocando quadros explicativos onde os leitores podiam observar a extensão da nossa língua pelo mundo. O seu percurso vital posterior é bem conhecido, e não faz falta insistir. Tem a sua importância por ter sido o que finalmente deu nome ao famoso Decreto Filgueira Valverde, mas do meu ponto de vista haveria que falar mais do Conglomerado Galaxia para perceber como foi o processo de oficialização do galego, e não focar a responsabilidade numa pessoa em concreto. As responsabilidades em diferentes graus foram compartilhadas entre os agentes na Galiza do nacionalismo espanhol e o galeguismo cultural mas também alguns sectores do nacionalismo galego.

Estamos perante um movimento em expansão. Até onde julgas que pode chegar?

O livro remata com uma frase que acho que resume muito bem a tua pergunta. Um dos paradoxos do reintegracionismo é que embora seja um movimento de carácter minoritário e a margem da oficialidade tem como vocação ocupar o centro do debate sobre língua na Galiza. E pessoalmente estou convencido de que isso tarde ou cedo vai acontecer, e vai ser assim porque ao contrário doutros movimentos, o reintegracionismo tem umas características que possibilitam esta expansão. Estou a falar não só dos clássicos argumentos utilitaristas com respeito à língua, como também do facto de ser um movimento que ultrapassa as fronteiras ideológicas e partidárias articulando-se de maneira transversal. Essa transversalidade é uma da suas características definitórias e ao mesmo tempo a que possibilite o seu sucesso no futuro.


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