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Carlos-Bello-1-1024x768Galiza - PGL - Carlos Bello, nasceu em Compostela, mas atualmente mora em Lugo, onde trabalha de advogado numa empresa galega com filial no Brasil. Além da AGAL, também  faz parte da associação Cultura do País.


Neofalante de Compostela sem nenhum contacto com o galego, quando e como decides dar o passo?

Não tinha contacto familiar, mas sim na escola (na minha bastante elevado para o que era a média do país), livros, TVG, etc…

Decido dar o passo inicialmente de forma tímida em COU com certas amizades e o mergulho importante foi na Universidade, com a mudança de ambientes, o que facilita o processo.

O motivo é pura e simplesmente ideológico. Sou nacionalista desde que lembro, ainda sendo um cativinho urbano espanhol-falante.

Quando percebes que a tua língua é internacional?

Sempre tinha ouvido e partilhava aquilo da unidade linguística, tronco comum, etc… Mas o certo é que os materiais em português que chegavam às mãos de um rapaz compostelano eram escassos.

Os meus anos de universidade foram os dos inícios da Internet. Internet foi uma janela ao mundo lusófono fundamental, onde vias que a nossa língua era ainda mais útil se eras prático e adaptavas a tua escrita ao que faziam já centos milhões de pessoas.

Existe um preconceito que associa o reintegracionismo e a Lusofonia à cidade e a neofalantes, que achas disto?

Pois a experiência prática diz-me que maioritariamente é assim. Se calhar a ausência das ligações sentimentais e familiares podem ajudar a analisar a língua de uma ótica eminentemente prática.

És advogado, são úteis para ti os conhecimentos de português a nível profissional? Pensas que poderás tirar proveito neles neste sentido?

Sem dúvida estou a tirar proveito desses conhecimentos. Sou advogado de empresa e ainda que com centro de trabalho em Lugo, a companhia onde trabalho tem uma filial no Brasil. Nunca tive (nem eu nem os meus companheiros galegos, mesmo sem terem estudado “português”) problema nenhum de comunicação nem de compreensão de textos. Esta facilidade, assumida com naturalidade na gente de Lugo, é observada com admiração polos companheiros de Madrid, que não duvidam em que o “normal” é que sejamos os galegos os que levemos os assuntos brasileiros.

Os maiores problemas são à hora da redação e ortografia, mas isso sem dúvida poderia corrigir-se em futuras gerações com o ensino da normativa internacional nas escolas e liceus.

Tens viajado ao Brasil por questões de trabalho, como vem os brasileiros e brasileiras a nossa língua?

Tenho estado por trabalho em Natal, Rio de Janeiro e São Paulo, e só é nesta última cidade onde conheci duas pessoas que sabiam da existência do idioma falado na Galiza: um deles um advogado casado com a filha de um imigrante galego e outra um taxista filho de um “espanhol”, que resultou ser de Coristanco.

O que tenho percebido é que quando falamos galego tentando orientá-lo à moda luso-brasileira, o ouvinte fica desconcertado.Tenho perguntado interlocutores de onde é que lhe parece que sou pela minha fala, e o mais comum é que me digam que sou português com sotaque indecifrável. Também me têm qualificado de italiano, mas curiosamente nunca como hispanófono.

Falar e compreender português é um requisito quase imprescindível para fazer negócios no Brasil. Do outro lado do Atlântico não têm esse costume tão galego dos portugueses de mudarem ao portunhol enquanto souberem estar perante um “espanhol”. O Brasil é um mundo autossuficiente e imenso, e essa autossuficiência existe também no referido à língua.

Participas ativamente na Associação Cultura do País em Lugo. Que tipo de intervenções realiza a associação em prol da língua?

CdP é uma associação cultural comprometida com a cultura e a língua de Galiza, e portanto monolingue. Temos feito concertos pela língua, aderimos a eventos ou plataformas como Queremos Galego, participaremos no éMundial de Arçua ou apresentamos livros relacionados com a questão da língua. Pelo Lar, o nosso local social, têm vindo a apresentar os seus livros boa gente coma Carlos Callón, Valentim Fagim, José R. Pichel, Xosé Henrique Costas ou Eduardo S. Maragoto.

E no que toca à aproximação à Lusofonia?

Ademais dos lançamentos citados, desde há quatro anos, por volta do 25 de Abril, temos a “Noite da Lusofonia” com concertos lusófonos. Ademais, quando procuramos músicos ou autores que apresentem obras ou palestras, tiramos com naturalidade para o Sul do Minho ou para o resto da lusofonia. Por exemplo, a palestra que fizemos este ano com ocasião do aniversário do Manifesto Nacionalista de Lugo correu de conta de uma investigadora da Universidade do Porto, sobre as relações entre a Geração Nós e a Renascença portuguesa; e no mês de abril tivemos uma sobre o Movimento dos Sem Terra. Aliás, no Clube de Leitura de Cultura do País opta-se indistintamente por livros em normativa ILG-RAG ou em ortografia internacional (de facto acho que predominam estes últimos). Demonstramos pela via prática que a nossa língua é mundial, pois para ler um livro que originariamente fora escrito em catalão (Pell freda), o Clube optou pela versão em “português” (comprada na Ciranda). Ao contrário do que se passa com catalães e bascos, nós não temos que perder tantos esforços em obter materiais em galego, pois a nossa é a língua normalizada de 250 milhões de pessoas.

Na tua opinião, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua sociabilização?

Acho que a clave está na visualização da utilidade e da incrível facilidade com que os galegos podemos aceder a um idioma supostamente estrangeiro. Aprender português nas escolas galegas deve ser um objetivo, e considero que não há argumento nenhum que se possa opor a isso, mesmo nas mentes mais centralistas e reacionárias.

Uma estratégia que considero útil para certos âmbitos, e que na prática aplicamos em Cultura do País, é empregar indistinta ou alternativamente segundo as circunstâncias uma ou outra normativa ortográfica para o galego. Pode parecer caótico ou debilidade nas convicções, mas acho que ajuda a muita gente a ver que é o mesmo idioma, e que podem estar lendo dois textos da mesma procedência com uma ou outra normativa, sem perceber a mudança ortográfica. Tudo é galego e pode escrever-se de uma ou outra forma.

Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associação?

Ouvira falar de AGAL há lustros, conhecia a publicação Agália, e tinha daquela uma visão de ser mais académica. Nos últimos tempos conheci alguns dos seus afiliados e acho que todos eles são uma gente excelente, que lhe estão a dar um enfoque com um aquele “lúdico”, prático e integrador que faz o reintegracionismo mui atrativo.

Decidi associar-me porque tenho vontade de colaborar dentro das minhas possibilidades a espalhar essa visão utilitarista do reintegracionismo. Espero que a AGAL continue no mesmo rumo e com ainda muita mais força.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

Monolingue em galego; mas acho que é mais provável uma apocalipse zumbi.

A realidade é que nas novas gerações de galegos os galegofalantes são menos dos 10% e, no caso de continuar assim, estamos destinados à extinção. Para o 2020 gostaria que tivéssemos assumido a gravidade da situação, e que a única opção para reagir é compactar forças com o objetivo posterior de recuperar espaços significativos. Não é pessimismo, mas otimismo realista.

Descartando desde já que com as atuais instituições tenhamos capacidade de aplicar na educação pública o mergulho linguístico ao estilo catalão, acho que é fundamental criarmos uma rede própria de escolas galegas em todas as cidades do País, ao estilo Semente, mas também de primária e secundária. Ao jeito das gaelscoil irlandesas ou das ikastolas bascas. Em minha opinião esta deveria ser a prioridade absoluta de todo o corpus social preocupado polo idioma, pois como não acordemos, em poucas décadas já não teremos idioma na Galiza de que nos preocupar. Não é tão difícil, pode-se fazer havendo vontade, como demonstraram sem recursos os companheiros picheleiros. Dessa rede de escolas e de outros espaços próprios criados ad hoc, deveria sair uma minoria galeguizada urbana, da qual tirar para tentar reconstruir. Isto, com vontade, poderia ser factível tê-lo organizado em 2020.

 

Conhecendo Carlos Bello

  • Um sítio web: Facebook
  • Um invento: O uniforme agropigho: botas de goretex e forro polar.
  • Uma música: Morrison’s jig.
  • Um livro: O cervo na torre
  • Um facto histórico:  O dia que Ith subiu à torre de Hércules e decidiu conquistar Irlanda.
  • Um prato na mesa: Churrasco.
  • Um desporto: Futebol gaélico (e os Torques de Lugoslávia são a melhor equipa).
  • Um filme:  Vilamor; pois, como em esse filme, eu também amo uma valdeorresa.
  • Uma maravilha: Estar subido a um marco da raia seca, já que é o único lugar onde existe uma Galiza livre e não me pode prender a Guarda Civil nem a GNR
  • Além de galega/o : Panceltista

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