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150214 ricardo gilGaliza - PGL - "Deveço porque me ensinem a minha língua, por um reaprendizado e por conhecer a gente que tanto bem faz e que além disso semelham boas pessoas".


 

Ricardo Gil é enfermeiro de profissom, descobriu a utilidade da língua ao ir trabalhar a Leiro e às zonas "raianas" de Lóvios, adora viver o galego como umha língua internacional e decidiu associar-se à AGAL depois de abrir os olhos durante um ano de estágio em Portugal. Para além disso é um apaixonado leitor de livros e devece por aprender a língua.

Qual a tua experiência de falar e de receber aulas em galego na tua profissmo de enfermeiro? Qual a utilidade do galego no meio sanitário?

Pois na Escola de Enfermagem de Ourense, embora quase todo o quadro de pessoal soubesse galego, lá mal existia. Os apontamentos maioritariamente eram redigidos em castelám e os exames pois também nessa língua. Todavia havia professores e parceiros da turma que falavam e escreviam em galego, mais a presença era ínfima.

O galego é muito útil no meio mas por umha cousa muito clara, o padrom de doente ingressado ou que requer tratamento, adoita ser uma mulher idosa, e esse perfil pois fala como natural o galego. Logo se quisermos saber o que é a comichom, a dor, o joelho/geonlho o tornozelo, se som alérgicos ao "pó" ou ao "polvo" (isto é brincadeira minha) e podermos ajudar o utente temos que saber galego, esta é a utilidade principal, a de comunicar. Aliás, se trabalharmos em zonas raianas saber o galego internacional vai-nos permitir agir quando alguém diga que tivo um enjoo.

Que implica para ti falar galego no dia-a-dia? Fazes distinçom na hora de falar galego no mundo laboral, na família, com as amizades?

O galego para mim é um orgulho, umha vantagem e umha responsabilidade. Orgulho porque dá-nos umha maneira de estarmos no mundo e é umha herança dos nossos devanceiros; vantagem porque como em qualquer País no qual há duas línguas as crianças tenhem facilidade para aprender mais idiomas e costumam obter melhores pontuações em ambas as matérias, aliás somos o elo com duzentos milhões de vidas; e responsabilidade porque nom podemos resignar-nos com um galician-homehold, como os yankees é que chamam o espanhol falado polos descendentes dos hispanos e que nom serve para o nível académico nem científico. Por isso temos que ler e estudar muito galego e com isto, é claro, as nossas variantes brasileiras, portuguesas africanas, asiáticas e timorenses.

A verdade é que falá-lo é assaz complexo e explico isso. Primeiro a reticência inicial das amizades de longa data (toda a vida), depois o costume de me exprimir quer em galego quer em castelám com determinadas pessoas. Por falar nisso, quando as pessoas som das camadas mais jovens, quer dizer das faixas etárias que já viveram com o galego nos meios de comunicaçom e na educaçom, tendem a pôr etiquetas e a recriminar essa mudança.

O facto de meus pais serem galego-falantes possibilitou a minha transiçom para esta língua mas na casa, como sempre, falamos ambos os idiomas. No mundo laboral, em troca, tivem umha vantagem muita importante, pois como enfermeiro costumo trabalhar no rural e como é sabido o galego é o meio de comunicaçom corriqueiro, logo com a gente a língua era a galega e em Leiro e Lóvios já comecei a ouvir "lusismos", ou seja, galego de longa data.

Achas útil o atual galego que é empregue nas instituições sanitárias (campanha de publicade do SERGAS, documentaçom clínica...)?

É um padrom dumha qualidade questionável e altamente dependente da norma castelhana, embora haja pessoas engajadas com esta forma e tenham vocabulário comum com o padrom português, qualquer um pode lêr muitas incoerências e decalques do castelám. Para mím umha língua é autónoma se quando a traduzires com um tradutor automático dá um texto sem sentido, com muitas gralhas e que tens que reler e reescrever. Isso nom ocorre nem com galego-RAG nem, olho, com o valenciano, que semelha como se fossem dialetos do espanhol. Isto é facilmente comprovável, avonda com olharmos artigos na Wikipédia .

O SERGAS escreve cousas como "o sangue é vida, compártea.....", teima em escrever "ó" em troca de "ao", "poboación" por "populaçom", às vezes é "cancro" e "vacina", outras "câncer" e "vacuna", vêem-se muitos "cabestrillos" e poucas "estribeiras" ou "tipoias" ou "charpas". Sei lá, mas o problema é da normativa e de nom sabermos bem o galego.

Volto ao exemplo do galician-homehold, se olharmos com arroubo o enxebre e esquecemos que há vida além do Padornelo, imos retalhar a Galiza em 10 ou 12 galegos diferentes e já nem entre nós em galego, nem com os animais, nem gaitas.

Graças ao galego achas possível ter mais oportunidades de trabalho?

Com certeza, a começarmos com Portugal, depois temos o Brasil, muitos galegos sabem da importância de Cabo Verde como imigrantes com os quais trabalharem e de Angola que, segundo leio, é umha aposta de futuro. Os engenheiros médicos e professores som, sob meu olhar, os que melhores ensejos tenhem de conseguer um bom emprego, se eu for graduado ou licenciado em filologia hispânica e aliás som galego que sabe um bom galego, um galego internacional, vou ter a vantagem de dar aulas a uns 600 milhões de pessoas, quantas oportunidades de mudar a minha vida vou ter? Nom dou farejado (pressagiado).

Sentiste algumha vez discriminaçom por falares galego no meio sanitário? Chamaram-te a atençom por isso?

A verdade que tivem bastante sorte e quase ninguém me dixo pessoalmente nada. Outra cousa já é o que pensaram. Muitas vezes quando os idosos me perguntavam donde era e eu dizia que de Ourense, eles diziam "mais de Ourense, Ourense?? cidade?" E eu, sim. "Ah... pois, que bem sabe o galego". Um episódio desagradável foi quando eu anotei a palavra "jejum" e nom a castelhana "ayuno", houve lá comentários que fixérom com que reparasse no que se passava e já sabia que isso mesmo tinha passado. Bem, a cousa é que a gente que me conhece sabe que eu nom me agocho nem calo, tenho mais problemas, mais quando eu apercebo injustiças pois tento luitar. Depois, é claro, se alguém apenas souber castelám, pois eu vou falar com essa pessoa nessa língua, ou se for inglês, que já me aconteceu, pois em inglês, mas o meu trabalho eu anoto-o em galego e se alguém tiver umha dúvida eu colo as palavras castelhanas correspondentes entre parênteses, mais a forma galega vai lá.

O que te levou a tomares consciência da língua?

Pois vou aproveitar cá para agradecer primeiro a meu avó materno António, depois a um amigo do meu pai Juan Manuel, por me dizerem quando criança se eu sabia ou nom falar galego e que era umha vergonha ir à aldea sem o saber; e logo, com certeza, amizades como Sumavielle ou professores como Néstor.

Para acordar estremunhado do sono e berrar "eureka", ao Valentim Fagim, depois a Carlos Garrido e a seguir António Gil (nom somos parentes mas para mim seria um orgulho sê-lo), Fernândo Venâncio, Sanches Maragoto, Alonso Estraviz, Vasques Corredoira, Isabel Rei e Freixeiro Mato. Com muitos teve o prazer de me escrever e algum dia acho que teremos de nos conhecer. Para alguns, se cadra, algum nome daí nom é reintegracionista, mas para mim sim forom e som arcabouços a seguir.

Na tua opiniom, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua sociabilizaçom?

Pois fico mais umha vez com o que diz o grande didata que para mim é Valentim Fagim, eu adoro essa visom de vivermos o galego como internacional. Temos de ler romances de grandes autores como Eça de Queiroz, Pepetela, Mia Couto, Saramago, Lobo Antunes, Nélida Piñon, Adriana Lisboa, Guimarães Rosa mais nisso de ler neste pais já se sabe...

Assim que temos filmes, quer legendados em português quer dublados em brasileiro, e muitos sites para assistir online e de graça e documentários muito bons feitos por gente do PGL onde escutarmos as variantes do nosso sistema

Ou escutarmos música, que nem tudo é fado ou muinheiras, olhamos desde Michel Telló, Elis Regina, Zeca Afonso, Gustavo Lima, ouvir e dançar o Samba ou o forró.

Tentarmos fazer visitas ao Porto, a Coimbra, a Lisboa , aos Açores, a Madeira, e fazer amizades com as quais falarmos pelas redes sociais; irmos à Escola de Idiomas ver o que é isso do português.

Os que tiverem sorte e pouparem muito bem, pois irem ver o Mundial ou os Jogos do Rio para conhecerem o que é o Brasil.

Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associaçom?

Pois umha amálgama de ideias, projetos e gente que focavam a recuperaçom do galego através da sua reintegraçom no âmbito linguístico ao que sempre pertencera e pertence quer queiram quer nom.

Encorajei pelo facto de abrir os olhos após o meu ano académico em Portugal e lendo os excelentesManual galego do Ñ para o NHManual de introduçom á língua galegaManual de Galego Científico,Lexico Galego Degradaçom e Regeneraçom,101 Falares com Jeito, Manual Galego de Língua e EstiloO Galego ImpossívelEstudo Crítico das NormasCarvalho Calero Atual e Galego Língua de Calidade. Bom, alguns se calhar semelhavam calhamaços mas eu sou apaixonado pela leitura e, aliás, pela língua e acho que todos deveríamos ter contato com estes livros. Podem parecer muitos, mais som essenciais sob o meu olhar e com certeza quase todos som escritos por gente referente desta associaçom, que eu acho o âmago da estratégia reintegracionista.

Apenas almejo umha cousa, que haja áudio CD com um padrom de galego AGAL porque esto é algo que eu acho um ponto fraco, umha crítica construtiva que deito e anseio que alguém faça, pois muitas vezes escuito pessoas reintegracionistas que falam pior mesmo do que os da norma oficial (quer dizer para o "z" umha pronuncia, para o "ç" outra, o "g", "j" e "x" também deixam dúvidas, o tema das vogais abertas e pechadas que acho fulcral, e a musicalidade da língua semelha a dum castelám a falar galego. Para mim nom é umha piada e eu próprio tenho muitos erros...

Deveço porque me ensinem a minha língua, por um reaprendizado e por conhecer a gente que tanto bem faz e que além disso semelham boas pessoas.

Como gostarias que fosse a "fotografia linguística" da Galiza em 2020?

Para 2020 é já, como quem diz. Pois apenas que os miúdos escutassem as rádios e canais portugueses; que aprendessem português bem nas aulas de galego bem como cadeira; mais cartazes e material em galego e que ninguém olhe mal ninguém por falar ou escrever a normativa a empregar porque todas seriam oficiais (AGAL, ALIG, AO ou RAG).

Conhecendo Ricardo Gil

Um sítio web: http://www.pglingua.org/ e http://www.linguee.es/

Um invento: Que o galego é umha língua que nada tem a ver com o português, um invento dos grandes XD . Ora, já eu acho internet umha maré imparável e revolucionária.

Umha música: muitas...

Um livro: Papai ou mamai? Nom é pergunta a sério para mim, depende o tema eu podo recomendar.

Um facto histórico: Todas as guerras perdidas pelos progressistas, sobretudo na nossa naçom e no resto do estado como teria mudado ou nom.

Um prato na mesa: Arriscando-me a parecer um chauvinista "lacom com grelos", mas qualquer cousa partilhada com gente à que amas, isso é o que dá sentido.

Um desporto: A nataçom.

Um filme: Impossível apenas um.

Umha maravilha: As crianças, a vontade de aprender, o respeito, a liberdade, a diversidade, a autorealizaçom, o que nos faz verdadeiramente Humano.

Além de galego/a: agálico-doido.

 


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