E isso fazia-se em condições bem mais difíceis que as presentes, onde podemos botar mão de inúmeros recursos que nos oferece a internet e a Lusofonia toda de que formamos parte; isso a pouco que se premerem teclas adequadas dos computadores.
Na altura de que o Fernando falava, é dizer, na época anterior a se empoleirar no poder do estado o ditador Franco, aboiando em sangue; podem-se pôr magníficos exemplos da construção duma língua culta, muito incutida no espaço lusófono, com raízes fundas na nossa terra, nas falas do português da Galiza e com um cuidado que se pretendia modelar e exemplificador. De jeito muito sábio o Fernando, numa genial palestra, explicava-nos a língua de Castelão.
Pois bem, isso era algo que trajava todo o galeguismo. Não era concebível um galeguismo constituído de analfabetos e que os analfabetos tivessem pretensões de liderança. Isso iria ecoar a cousa de imbecis.
Frente a isso o regionalismo espanhol era de uso da língua castelhana algo agalegada, segundo fosse a sua competência; e nessa altura, a escola nacional espanhola ainda no alcançara tanto sucesso como no presente, faltavam ademais os meios ou mídia omnipresentes, e o kit que recebe cada família galega ao abandonar a vida tradicional.
Esse regionalismo espanhol e todo o espanholismo, se tivessem que usar a língua nacional da Galiza, por meros cálculos políticos, faziam-na bem acastrapada, miscigenada com o castelhano, e declarando assim estarem a reproduzir a verdadeira fala do povo, que era para eles a de vilegos e citadinos, em processo de substituição.
O galeguismo de Castelão, Bóveda. Outeiro Pedraio, Vilar Ponte etc. etc. como depois passará com Carvalho Calero, Marinhas del Valle etc. etc. não dava apreço a esse pessoal, que andava sempre amuado ao perceberem um uso da nossa língua nacional digno, modelar e bem enfeitadinho, e além disso amuavam-se todos, pois por muito que se afirmarem como espanhois, o galeguismo não deixava de os considerar como o que eram: pessoal analfabeto.
Na altura, no galeguismo, não era concebível usarem jotas e g+e/i, com a pronuncia gutural fricativa surda kh e inúmeras mais cousas. Isso que agora é lei, (e os que fazem essas leis bem sabem o que fazem, pois não dão fio sem pontada).
Passaram-se os anos, na Galiza (na parte que formam quatro províncias da reforma de Isbel II) há um regime autonómico e um Parlamento, onde estão representadas organizações galeguistas, algumas nacionalistas que se afirmam ferrenhas, espanholismo seródio e progressismo sem casta “a la page”, que louva e adora o madrilenismo prísico.
Para uma pessoa como eu que achega a sua olhada de longe, que consulta intervenções de todos, e que neste ano teve a sorte de ser convidado por uns bons amigos até seis vezes distintas a olhar de perto a atividade parlamentar, torna-se bem certo o que estava pairando nos nossos amenos diálogos de amigos, de que falava no começo do texto:
1- Hoje é indistinguível a pertença a grupo político pola qualidade da língua (desapareceu Pilar Garcia Negro, que ficou sem escola e sem discípulos).
É o sucesso do ensino do galego nestes últimos trinta anos, fez maravilhas, pois é língua que se aprende às crianças, como um latim ligeiro.
2- A qualidade da língua é em geral castelhano adaptado, e sobre o modelo do castelhano é construído o galego (língua espanhola), item mais, qualquer cousa que for castelhano pode passar por galego, pois o esforço em se corrigir, em ser modelares não existe por nenhures.
3- Em todos os grupos há deputados e deputadas que são pura e absolutamente analfabetos. Nenhum grupo parlamentar é excepcional nisso, é dizer, que desconhecem a língua nacional, salvo que se entenda por língua nacional um castelhano de deficiente qualidade.
O galeguismo nada tem, ao final, que criticar ao espanholismo na matéria, dança a mesma melodia linguística: a da miscigenação castelhana, tanto no órgão de representação popular e por todo o lado. Todos caminham no progresso interminável da normalização -é dizer, de contratarem uns tradutores adaptadores de textos- sem modificar processos de nenhum tipo.
E quando há excepções, que as há, com certo grau de cuidado e uso modelar da língua, isso resulta não ser um património de nenhum grupo, pois as excepções dão-se em todos, mas sem que isso signifique muito.
O galeguismo nacionalista, salvo reintegrantes (que há também por todo lado mais ou menos camuflados) nem tem projeto modelar e no que a gente possa pegar, nem vai amuar o espanholismo seródio e/ou prísico.
E além de todo isso, passa-se algo muito importante: se os analfabetos e analfabetas percebessem que o são, que o seu é de vergonha, por respeito próprio e por seu orgulho e honra estariam a estudar e formar-se para usarem a língua com o mesmo cuidado de terem que usar o castelhano em Madrid ou o inglês que hoje tanto pega, algures.
Quando essa sensação de vergonha não se produz, é quando se evidencia igual o discurso prático dos diversos grupos. O que entende o nosso povo é muito claro, a língua não vale nada... Deve ser um sentimento de velhos, que caminha com os idosos pra dar trabalho ao coveiro.
O bilinguísmo harmónico do castelhano adaptado leva a barbaridades como prohibido tirar cabichas e cousas pelo estilo ininteligíveis na língua nacional..... Porém, nessa língua miscigenada nada faz problema e incluso pode parecer "conquista". Nem o espanholismo vai andar amuado ante a firmeza e clareza dos esclarecidos galeguistas, quem se ausentam dessa obriga.
E o nosso povo, que tudo percebe, sabe que o discurso nacionalista na matéria, tanto os da Assembleia Representativa como outros, é miragem.