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050913 moncaoGaliza - PGL - [Alexandre Banhos] O professor Miguel Cupeiro1 observou que a qualidade da língua de muitas pessoas que na maioria das situações fazem uso do português da Galiza é muito deficiente.


Porém, o mesmo professor observou que, quando esses mesmos utentes do português da Galiza se deslocam a um espaço de plena normalidade da sua língua, o seu uso e qualidade melhora muito significativamente, que usam vocabulário bem vivo da língua, que habitualmente desbotavam, que aparecem expressões e locuções que o observador pensava serem neles desconhecidos, e que aqueles locutores, que semelhavam tão deficientes, têm uma qualidade de português da Galiza muito superior da que o professor Cupeiro como observador acreditara.

O nosso professor refletiu sobre isso na localidade Minhota de Monção, ela tão pertinho da localidade de Salvaterra do Minho, onde era só fazer o breve trajeto através da ponte sobre o Minho e observava nos falantes o fenómeno da surpreendente melhoria da sua língua – do seu galego – ao estarem em Monção.

A esta tão surpreendente como interessante curiosidade no comportamento dos falantes de português da Galiza, ele pôs o belo nome de A Síndrome Monção.

Que é o que se passa na Galiza para se dar isso.

Proémio

Na Galiza não existe conflito linguístico, como bem sabem todas as autoridades regionais, incluídas aquelas que têm responsabilidadesrelacionados com a língua e a cultura; pois não há pessoal a pelejar por nenhum lado por questão de língua, e ninguém se bate por usar uma ou outra língua, e as queixas também não são muito fortes sobre discriminações, e quando aparecerem são devidamente apagadas pelos meios, e pelo consenso social bem assumido e constantemente predicado, de que aqui cada pessoa fala o que quer, que ninguém tem problema nisso.

As autoridades regionais sabem bem que conflitos estão lá na Síria, no Iraque e no Afeganistão; porém. na pacífica Galiza, conflito não existe... e menos que nenhum outro o linguístico, e isto se proclama por todo o lado.

As autoridades regionais da Galiza, que não são esmagadoramente burras ainda que o pareçam, podiam estudar algo – ou trazer à tona – e descobrirem que a ciência linguística chama conflito ao que bem pacificamente se vive na Galiza, quer dizer, à situação – sempre instável – de encontro de duas línguas num mesmo espaço de convívio, e em que uma vai deslocando a outra de espaços onde com anterioridade era ela que ocupava esse espaço com normalidade.

Eu que sei que não são burros, acredito que disto sabem muito as autoridades regionais da Galiza, muito mais do que alguns sociolinguistas de relumbrão2, pois de facto vão dia sim e dia também, por muito riso e graça que isso faça em botafumeiros ad hoc, como Conselhos da Cultura, Rages, Ramon Pinheiro, Ilgas e outros fóruns, ditando normas e disposições emanadas do think tank FAES de las JONS, para favorecer o avanço firme e seguro e indiscutido de uma, e a minoração e banimento (o mais apressado possível) de outra língua3.

Ao cerne do assunto

Os utentes que usam preferentemente e de modo habitual a língua nacional da Galiza estão submetidos a uma fortíssima pressão coactiva no meio urbano e de maneira crescente um pouco por todo o lado, pelo que tendem a usar sempre as palavras que são comuns com o castelhano, quando há possibilidade de escolha, e fogem como cão que leva o demo de locuções e expressões idiomáticas que possam ser algo problemáticas nos ouvintes, ou que eles possam pensar serem algo problemáticas. Para não enfrentarem um problema que sentem seu, contribuem para a erosão – banimento – do português da Galiza

O falante galego está a fugir de contínuo do que podemos chamar galego cerrado.

A língua na Galiza não fala infelizmente dos locutores, como se passa com toda língua num espaço de normalidade, senão que falar o pior possível é identificado com as elites sociais e políticas.

Na Galiza os falantes nativos e nativizados, a cada passo que dão, andam a autocorrigirem-se, num mecanismo de sobrevivência e de saúde mental. Porque fazem isso? Eis:

Numa das línguas do território é possível desenvolver uma vida plena, está protegida por um guarda-chuvas comunicativo muito potente que a faz presente por todo o lado e, além disso, os falantes dessa língua têm o "direito" de não necessitarem da outra e de usarem essa por toda a parte.

A proximidade entre as duas línguas, castelhana e portuguesa, é bastante grande, e não representa nenhuma dificuldade para um castelhano utente se exprimir em bom português da Galiza. Lembro-me de que visitando uma empresa brasileira, um dirigente explicava-me que os espanhóis que lá trabalhavam eram bons e rapidamente se integravam no país. Na empresa tinham dous engenheiros industriais madrilenos, e dizia-me "aos 20 dias de chegarem já começam a se exprimir em português e aos seis meses falam-no e escrevem-no aceitavelmente bem". Isso sim, no Brasil os espanhol-falantes não têm o direito de imporem a sua língua4.

O espanhol falante na Galiza tem a liberdade de impor a sua língua por toda a parte – isso pode-se acompanhar das mais peregrinas explicações –. A essa imposição chama-se liberdade de escolha ou também de forma que eu só poso entender irónica, "bilinguismo harmónico".

O galego-falante que se quer manter na sua língua acha que se a tal é um pouco cuidada, muito cedo vai receber pressões "sobre como me falas"; "você quer-me impor a língua"; "és um talibã linguístico"; "há que ser respeitoso"; "eis que eu respeito que me fales na tua língua"; o" castelhano a gente toda sabe"...

Ou noutro caso, ao falar terá que ir explicando do que fala para ser bem entendido, exceto que o conteúdo exato das suas palavras for paralelo exato do castelhano – isso que penso que também ironicamente chamam "galego oficial" –.

Em suma, que na Galiza passam-se cousas muito simpáticas: uma pessoa pode desconhecer totalmente o português da Galiza e escrever os documentos administrativos da administração nesse "galego oficial" que só exige realmente conhecer o castelhano... parece conto isso contado a lusófonos, mas a norte do Minho isso é parte do simpático dia-a-dia5.

Nos territórios em que há duas línguas, podem-se dar as seguintes situações:

a) Todos sabem as duas línguas, porem só usam de jeito normal nesse território a sua própria (em grande medida era a situação da Flandres nas últimas décadas do século passado).

b) Todos sabem as duas línguas e usam-nas diglossicamente segundo a funcionalidade que elas tenham em cada caso (é o caso da Suíça alemã, o idioma suíço – Schwyz – e o hochdeutsch; ou no Paraguai entre castelhano e guarani).

c) No território há duas línguas, porém a comunidade minorada criou um espaço de normalidade – um apartheid linguístico – em que dispõe de um certo grau de normalidade (era o caso dos países bálticos na URSS e é o caso basco, onde na medida em que cresce esse apartheid, medra o uso do euscaro, e nas gerações novas duplica os idosos).

d) No território ambas as línguas interagem continuamente e os espaços linguísticos tendem a perder uniformidade – desaparecimento da sociedade tradicional na Galiza – (é o caso catalão e galego, ainda que com distintos graus de avanço e com diferentes graus de barragens sociais; mas para ilustrar só dizer que o catalão – galo-romance-ocitano – é uma língua mais afastada – linguisticamente – do castelhano que o português (ibero-romance ocidental); porém, nos últimos trinta anos sofreu um forte processo erosivo que o achegou muito ao ibero-romance central6).

O modelo d) é o mais instável de todos.

O amigo Jesus, que é vizinho da cidade onde moro e do bairro, dizia-me o outro dia: "é que tu podes falar sempre na nossa língua com plena normalidade – és alheio às pressões coactivas–, como gostaria de ser como tu!"... Vou-lho dizer aqui para que o saiba claro quando me leia, que nem eu nem ninguém somos absolutamente alheios às pressões, e que o galego que não mude uma expressão ou uma palavra num contexto x, e mais cousa... sé o há, seria o único que poderia atirar a primeira pedra que correspondesse neste caso...

Notas:

6 Além de que seja já a sexta vez que os catalães lutam pela sua sobrevivência como povo tentando constituir um estado próprio (desta vez com só uma parte da Catalunha, a comunidade autónoma catalã), e as cinco anteriores acabadas a ferro e fogo – esperemos que a Europa se note agora – , nesta ocasião, para além de fatores económicos, está a ter muita força no processo independentista aquilo que uma pessoa tão sensata como Jordi Pujol exprimia no outro dia, "é que não existe nenhuma outra possibilidade de sobrevivermos".


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