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151111_ramom_ovelha.nodoGaliza - Galiza livre - O completo ermo no que a historiografia oficial do nacionalismo deixou o campo de investigaçom do arredismo, permite-nos levar, ainda a estas alturas, gratas surpresas sobre o nosso passado. Descobrir que a nossa orfandade política nom é tam grande como pensávamos, e que o nosso movimento nom tinha qualquer incapacidade congénita, alheia ao resto dos nacionalismos vizinhos, para poder lutar, sem rodeios nem circunlóquios, pola independência.


Fugir do monocultivo político: apostar na construçom nacinal

Na década que vimos de encerrar, após o fracasso do último intento de unidade política independentista, fijo-se cada vez mais evidente umha mudança de paradigma no arredismo galego: relativizaçom do papel da política convencional e ênfase na criaçom de projetos de construçom nacional que permitam viver desde já, sem esperar por condiçons objetivas, nos nossos próprios valores, à margem e enfrentados a Espanha e o Capital.

No nacionalismo de pré-guerra houvo projetos exemplares neste sentido, que por desgraça nom tivérom continuidade: agrupaçons de excursionismo como os Ultreia, criaçom comunitária de instituiçons académicas próprias como o Seminário de Estudos Galegos ou as "galescolas" das Irmandandes da Fala, meios de comunicaçom próprios e autosustentados como o periódico A Nosa Terra; as Missons Biológicas na modernizaçom das técnicas agrícolas; clubes desportivos intimamente ligados ao galeguismo, como o Celta ou o Eirinha, e um longo et cétera. Projetos que tivérom a sua concreçom teórica mais ambiciosa na proposta de Ramom Obelha na III Assembleia Nacional do Partido Galeguista em 1934, pretendendo alargar a auto-organizaçom do povo galego a todos os espaços sociais, até construir um potencial "novo Estado Galego".

* * *

O Partido Galeguista, após o fracasso seu fracasso nas eleiçons estatais de 1933, no que os 106.000 votos nom lhes alcançam para obter nengum deputado, e o triunfo da direita paralisa a tramitaçom do Estatuto, celebra em Ourense, no 13 e 14 de janeiro de 1934, a sua III Assembleia Nacional. Nela aprova-se umha linha política com três eixos básicos: a luita pola autodeterminaçom, a republicanizaçom da Galiza, e a dignificaçom da sua vida política -luita contra o caciquismo-; aprovando, aliás, a aliança estratégica com o republicanismo e socialismo espanhol.

Mas o realmente novidoso foi a proposta do médico viguês Ramom Ovelha Vidal -posteriormente fundador do grupo Zéltia, e que ocupava umha das vice-presidências da Assembleia- de ir configurando nas sombras um novo Estado Galego que puder sair à luz quando as condiçons o permitissem. A esta estratégia chamou-lhe "Autodeterminaçom funcional" da Galiza, que consistia em começar já a construçom nacional, sem aguardar por mais formalismos.

A proposta -que reproduzimos íntegra aqui- explica que "Para o Partido Galeguista a autodeterminaçom política da Galiza é um problema resolto na sua vontade. Nom importa que nom o tenha sido ainda na realidade galega. Nós estamos obrigados a proceder, vista a lonjania de consegui-lo polo vieiro formal, com arranjo aos procedimentos marginados pola audácia nacionalista de outros Países". Para isso, "propom-se sem medos e sem prazos, a urgente constituiçom da Galiza em Povo ceive, com as obrigas dessa posiçom real e os órgaos de execuçom correspondentes", criando umha Assembleia através das eleiçons de "todos os galegos acreditados de tais pola possessom do carné", conformando um autêntico governo galego, com o seu Boletim Oficial, equipas técnicas, etc., de jeito "que o organismo parlamentar da Galiza trocaria em realidade real todos os enunciados que contém o programa do Partido". O projeto centrava-se na construçom de um corpus de leis e medidas políticas, que seriam oficializadas namais se der o momento oportuno, para começar o governo do novo Estado Galego com garantias. O próprio Ovelha coloca como exemplo de projeto sucedido de construçom nacional o Seminário de Estudos Galegos, que nom aguardou pola resposta de qualquer umha reclamaçom às autoridades académicas espanholas para pôr em pé o seu próprio projeto nacional.

A proposta de Ramom Ovelha foi aprovada por aclamaçom, e como tal recolhida nas atas da Assembleia. Ainda, no seguinte número d´A Nosa Terra (nº 322, 3-II-1934), resenha-se com entusiasmo a proposta:

Galiza já é livre

O acordo da III Assembleia do Partido Galeguista, de criar a autodeterminaçom funcional da Galiza, coloca-nos, aos efeitos dum sério trabalho construtivo, na posiçom de supor ao nosso País governando-se a si mesmo.

Tempos, pois, que criar o organismo político, jurídico e administrativo da paróquia; reorganizar o município e fazer umha nova distribuiçom dos seus orçamentos; criar organismos para o cooperativismo agrário e marinheiro; estudar as terras para transformar os cultivos antieconómicos noutros de mais proveito; ditar várias leis encaixadas nas nossas costumes e nas nossas realidades étnica e social; organizar um plano de higiene e de estética rural.

Estamos, numha verba, construindo um país. Precisamos projetos, iniciativas, ideias novas e audaces. Precisamos projetistas, arquitetos, construtores e canteiros.

Rapazes estudantes e estudosos da Galiza. Mestres de escola. Mocidade campesina e marinheira. Eis umha grande, umha gloriosa empresa, capaz de dar sastisfaçom à nossa audácia e abrir um luminoso horizonte às nossas inquedanças.

A audaz proposta, ninguneada por Beramendi como veremos mais adiante, atingiu grande consenso no Partido, e nom tivo maior percurso por desleixo dos dirigentes do mesmo. No artigo "Laboura construtiva" (A Nosa Terra, nº 325, 24-II-1934) , o jovem Francisco Fernandes do Rego coloca o caso basco, com a criaçom de um Conselho Nacional "encarregado de reger a vida do nacionalismo", e entregado às tarefas urgentes da construçom nacional em todos os campos da vida basca apesar da repressom, como o caminho a seguir na Galiza:

"Vê-l´aí o caminho que se nos marca e que temos a obriga ineludível de seguir. Ainda está recente a última Assembleia do P.G. Ainda está nas nossas mentes a acertadíssima ideia de autodeterminaçom funcional da Galiza, pensada e defendida polr Ramom Ovelha. Fijo-se algo para que esta ideia se levasse a cabo? Iniciárom-se as primeiras gestons? Nom quigeramos por nengum motivo que a admirável proposta, ficara no esquecimento. Orçamentos de gastos e ingressos da Galiza. Sanidade. Ensino. Organizaçom. Política comercial. Pecuária. Pesca. Repovoaçom florestal. Agricultura. Trabalho. Direito... estám exigindo o troque de enunciados a realidade. Se a atual e a futura situaçom da Galiza, como povo, nom a requerisse, aí está Euskadi como exemplo"

É-nos difícil rastrejar a evoluçom da proposta de "autodeterminaçom funcional", pois dispomos apenas dos textos feitos públicos n´A Nosa Terra, ao nom ter acesso à documentaçom interna. Porém, em setembro de 1934 celebra-se em Compostela a segunda juntança do Conselho Nacional do PG, onde vários responsáveis do partido pergunta polo estado no que se encontra a materializaçom da proposta. Di assim a ata:

A Nosa Terra (nº 348, 15-IX-1934)

Umha importante juntança do Conselho Nacional

[...]

Proposta do irmao Ovelha

Vários Conselheiros perguntam em que estado estám os trabalhos para pôr em marcha a ideia do irmao Ovelha contida na interessante proposta apresentada polo mesmo e aprovada por aclamaçom na Assembleia de Ourense.

O Secretário Geral explica que esse cometido foi asignado na primeira juntança do Comité à Secretaria Técnica, passando depois, por ocupaçons do irmao Sebastiám Gonçales, à de R. I.

Os irmaos Sebastiám e Plácido dam conta do atuado nesse sentido e das dificuldades com que tropeçárom por pôr a marcha a ideia se ha de realizar-se na sua integridade.

O Conselho, estimando que a sua realizaçom ainda que seja só em parte nom deve aprazar-se mais, aceita a proposta de Álvares Galego no sentido de que o Comité Executivo designe ponentes que preparem, com os assessoramentos que estime precisos, anteprojetos de leis sobre Instruçom, Sanidade, Economia, Trabalho, Fazenda, e Regime local e elitoral que se consideram mais urgentes.

Estes anteprojetos e os que sucessivamente se vaiam elaborando serám submetidos pola Secretaria Técnica a informaçom pública, à que poderám concorrer quantos o tenhem por comenente, pertençam ou nom ao Partido. Estudadas as emendas ou engádegas que se proponham, formulará-se o Projeto da respeitiva Lei Galega que será submetido a discussom em Assembleia convocada a tal efeito e à que poderám concorrer quantos previamente o solicitem da Secretaria Técnica, que ademais, invitará especialmente a quantas pessoas tenham autoridade publicamente reconhecida na materia de que se trate.

Este acordo do Conselho será aginha posto em marcha.

Em julho de 1935 Carvalho Calero fai umha proposta de reconstruir a toponímia galega, e sinala que "a iniciativa brindada polo irmao Ovelha à III Assembleia do Partido vai, na realidade, levando-se à prática, senom na totalidade da sua forma, na essência da sua intençom. Agora temos ponência e irmaos encarregados de preparar um repertório legislativo que resolva ou encaminhe os problemas vigentes na nossa Terra. Convém pôr o máximo entusiasmo nessa obra, obra de formosa e ergueita política. Pouco importará que os decretos e leis preparados assim, permaneçam longos anos sem atingir realidade oficial. Serám de cote prova da nossa miolar preocupaçom perante os arregueijos galegos e gloriosa executória para o Partido". Assim, insire a sua iniciativa de reconstruir a toponímia tradicional galega nas canles da autodeterminaçom funcional da Galiza, e mesmo dá um toque de atençom ao desleixo dos responsáveis de que a obra se vai levando a cabo, sinalando que a Secretaria Técnica é a responsável da posta em marcha da mesma.

Compre sinalar que a proposta de Carvalho Calero tardaria, finalmente, décadas em materializar-se. Nom por acaso, foi o reintegracionismo e o independentismo -os setores que mais decididamente apostárom na estratégia da construçom nacional- quem os levou a cabo. No Dia das Letras de 2003 a AGAL disponibilizava publicamente o TOPOGAL a aplicaçom informática que compilava de forma didática o ingente trabalho de normalizar e restaurar toda a toponímia tradicional galega, das comarcas a cada umha das paróquias e praticamente todas as aldeias, passando polos concelhos. Um trabalho fulcral levado a cabo integramente por trabalho voluntário. Aliás, nesse mesmo ano, a entom organizaçom unitária do independentismo, Nós-UP, apresentava o mapa nacional galego, que pola primeira vez incluia as comarcas orientais, e restaurava a toponímia das mesmas.

O precedente de 1921

Resenhamos já noutro trabalho o intento no ano 1921 de organizar também um Estado Galego à sombra, após a celebraçom da III Assembleia Nacionalista em Vigo, que aprovou importantes medidas, como a de estreitar laços com Portugal, celebrar na Corunha um assembleia de nacionalistas ibéricos ou criar comissons para unificar a ortografia do idioma.

O setor de Vicente Risco sairá, porém, mui descontente da Assembleia por mor da aprovaçom de participar das eleiçons municipais: "Hai -dirá- duas crases de galeguistas (prescindindo xa dos rexionalistas á antiga, dos cursis do rexionalismo «sano y bien entendido»): os que queren camiñar de presa e os que queren camiñar paseniñamente.

Os que queren camiñar de presa todos son de temperamento político. Os que queren camiñar paseniñamente cuasi que todos son de temperamento apostólico. Os primeiro profesan unha grande tolerancia para canto se lle ofrece por diante. Os segundos profesan unha fonda intransixencia nas cuestións relacionadas c'o ideal. Eu confío mais n'estes que n'aqueloutros».

A raíz do mesmo dam-se certas movimentaçons entre a militáncia que visa criar um partido clandestino. Vítor Casas contará-lhe a Fermim Fernandes Pençol por carta:

«Estivo eiquí unhos días Rodríguez de Vicente de Bayona. Falamos con el de todo o que pasa. Trai un proyecto moito intresante. E o seguinte: Nomear un Presidente, varios conselleiros e un segredario xeral do partido. O Presidente e o Segredario levarán todo o peso da organización consultando os casos que se presenten cos conselleiros. Para nós, esto non llo digan a todos, será a Constitución da República Galega. Os conselleiros serán os ministros cada un encarregado d´unha especialidade. O Segredario levará todo o traballo, será pagado, e residirá onde viva o Presidente. Como che digo par o púbrico será o Presidente do Partido e os outros serán os seus conselleiros. Pra nós, non convén divulgal-o moito, serán o Presidente e os Ministros da República Galega. Así será o único xeito de comenzar a actuar e dar señales de vida. [...] ¡Morra Hespaña! ¡Viva a República Galega!»

Numha data indeterminada entre finais de setembro e começos de outubro de 1921, nomeou-se um Governo galego à sombra, com responsabilidades por áreas. O fracasso desta República Galega clandestina foi, porém, mui rápido. Sabemos por umha carta de Risco a Lousada, que no 10 de novembro o projecto já estava morto.

O desprezo da historiografia autonomista

O projeto de Ramom Ovelha que, como vimos, tivo a sua importância teórica, foi acolhido de forma entusiasta por amplos setores do partido, é despachado do seguinte jeito por Justo Beramendi no seu livro De provincia a nación:

"Aínda había algúns máis radicais ós que todo isto lles sabía a pouco [refere-se às linhas aprovadas na III Assembleia: autodeterminaçom, republicanizaçom, e dignificaçom da vida política]. O médico vigués Ramón Obella, que ocupaba unha das vicepresidencias da asamblea, presentou un relatorio sobre "Autodeterminación funcional" de Galicia, onde se propoñía, "sin medos e sin prazos", que o PG promovese, entre os "galegos acreditados de tales pol-a posesión do carnet", unha sorte de eleccións constituíntes alegais e a creación dun embrión de Estado galego dotado de todas as competencias previstas no programa de Lugo de 1918. A dirección, sabiamente, non a rexeitou de plano senón que a fixo pasar a mellor vida polo medio máis sutil de prometer que o Consello Executivo se encargaría do seu estudo e desenvolvemento. A Nosa Terra (nº 321, 28-I-1934) daría despois satisfacción a este sector do partido representando este acordo nada menos que como algo que creaba "potencialmente o novo Estado Galego con todal-as suas consecuencias mediatas e inmediatas".

Do mesmo jeito, quando a historiografia militante recuperara a importância da proclamaçom da I República Galega em 1931, o grande historiador apenas falou para desqualificar com a sua terminologia habitual: ""No tuvo ninguna repercusión en la dinámica política del momento, y arroutadas como estas, los anarquistas hacían 200 al mes".

Nota: na fotografia, Ramom Ovelha Vidal, de pé, com Calvet, e à esquerda Plácido Castro, responsável das relaçons internacionais do Partido Galeguista


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