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010413 banda desenhada miguelanxo-pradoGaliza - Sermos Galiza - [Maria Abelheira] Da mao de Fidel, um idoso residente numha aldeia que evoca claramente os Ancares, Ardalém afunda no desarraigo da emigraçom e no desejo frustrado do retorno, a juventude em Cuba e a pessoa amada. Em chave de realismo mágico, Ardalém erige-se como o mais maduro poema visual do autor mais internacional da banda desenhada galega. 


Nos prémios de Zona Cómic ressoárom nomes galegos. Como evoluciona o setor da banda desenhada na Galiza?

Quanto à criaçom estamos num bom momento. A banda desenhada galega tem já várias geraçons de autores, desde o estourido gerado polo seu patriarca, Xaquin Marim, até os autores mais novos, entre os que há umha qualidade média muito alta. Temos, aliás, umha percentagem importante de mulheres criadoras, o qual reflete um processo de normalizaçom que era necessário a nível global, superando umha eiva que levávamos arrastando desde velho. Há já nomes femininos muito importantes e o número de leitoras também cresceu exponencialmente. Por último, temos umha variedade tanto estilística como de interesses temáticos que fai da Galiza o núcleo mais rico e variado de todo o Estado espanhol. Neste senso, eu sempre defendim que esta era a chave para a sobrevivência do ecossistema e para a nossa projeçom no tempo.

Como está a ser a acolhida de Ardalém?

Ainda que o livro saiu em novembro e som poucos meses de percurso, nom poderia ser melhor. O facto de que a ediçom em galego se esgotara e esteja já em preparaçom a segunda, é todo um acontecimento (ri).

O livro profundiza nas eivas coletivas da historia galega. De onde vén ese interese pola memoria?

Ao longo de toda a minha carreira profissional, este foi um tema que tentei desenvolver numha percentagem elevadíssima, às vezes como fruto da minha realidade pessoal, outras, da narrada por outros. É difícil fixar estes limites porque, no meu caso, a realizaçom é um processo muito devagar que abrange, habitualmente, vários anos. As ideias dormem esnaquiçadas em pequenos bilhetes dispersos até que, num momento, surge um elemento que fai de aglutinador. Com Ardalém, umha das obras de que eu tenho mais consciência de como foi o processo de criaçom, o arranque foi um poeminha que tinha escrito desde finais dos anos 90. Fôrom elementos posteriores que fum associando, os que revelárom que tinha umha história entre as maos.

Quijo usar Fidel para narrar o desarraigo do povo galego?

Com certeza, toda história individual nom deixa de ser um reflexo da história coletiva. Como indivíduos somos fruto da coletividade em que estamos encarnados e, como coletividade, somos o resultado da vida dos indivíduos. No caso de Fidel, o que é primordial na construçom da personagem, é a sua relaçom com a memória, com uns referentes que para os galegos e galegas, evidentemente som muito imediatos. Desde que o livro foi apresentado, nom há sitio que vaia no que alguém nom me comente que, na sua família, há umha história parecidíssima. No entanto, som situaçons e experiências que ficam por serem universais, pois permitem umha projeçom visceral, humana e imediata.

As paisagens evocam os Ancares. Tem isto algo de autobiográfico?

Nom, embora sempre haja umha experiência de percepçons próprias. Claramente, há muitíssimos elementos, sobretodo visuais que, sem serem necessariamente representaçons exatas e fidedignas de nengum lugar, apontam face à algures. Com certeza, dou a entender que a aldeia poderia ser algum lugar dos Ancares e estas imagens funcionam porque estám integradas nas olhadas coletivas.

Porém, costuma transitar face à esse imaginário, como na história da vaca de Quotidiania delirante.

(Ri). Costumo, sim. Eu tenho um relacionamento pessoal muito forte com o interior; som corunhês, e portanto, há umha parte de mim marítima que, se calhar, é mais evidente no meu trabalho. Mas, desde a infáncia, passei temporadas na Terra Chá e em Guitiriz e, depois na adolescência, foi quando descobrim os Ancares. Portanto, apesar de nom serem histórias propriamente autobiográficas, inevitavelmente, som fruto de umha experiência que, além do mais, gera um dos ingredientes básicos da criaçom, que é o nexo com o receptor, mediante o reconhecimento de determinados tipos, situaçons ou paisagens. Portanto, um finês pode pegar na história e fazê-la sua, mas sempre haverá esse plus para quem puder entrar nessa identificaçom.

Três anos demorou para que Ardalém saísse do prelo. Foi necessário um trabalho de documentaçom?

Embora eu nom costume trabalhar assim, neste caso sim que pesquisei arredor das viagens em barco a Cuba das galegas e galegos emigrados, já que precisava fazer voltar o velho avô a Havana. Contodo, chegou um momento em que tivem que parar porque a procura se estava a tornar umha imparável boceta de Pandora.

Fai esta mistura de realismo e fantasia parte de umha visom própria?

Eu nom me fago essas formulaçons, nem a priori nem como exercício de estilo ou de personalidade; simplesmente, ponho-me a escever a história e com muita freqüência deriva nesta combinaçom apesar de que noutras fico mais perto da realidade, mesmo abeirando o costumismo, como é o caso das quotidianias.

Mas sempre delirantes…

(Ri). É verdade. Também há inercias culturais que acabam por condicionar muito e, no caso da Galiza, existe umha forte tradiçom dessa combinaçom entre o real e o fantaseado; as lendas, ao fim e ao cabo, som isso: interpretaçons fantásticas de realidades às que se pretende dar umha transcendência ou explicaçom. Com certeza, é um jeito de contarmos muito galego.

É Cunqueiro um referente premeditado?

Agora nom, porque já foi completamente digerido mas, nas minhas leituras adolescentes, engolim a obra dele e foi toda umha epifania; nom só polas histórias que conta, senom polo jeito de contá-las. Engaiolava-me essa forma modesta de fazer fantasia frente à fantasia desbocada que me deixava fora e me impedia a identificaçom por estar tam afastada da realidade humana. Como Ardalém mistura realidade e fantasia, quando ando polo mundo, sempre me falam dos referentes latino-americanos; mas eu sempre digo que o primeiro autor do realismo mágico que me fascinou foi Cunqueiro.

Após passar por umha empresa como Dreamworks, sob a direçom de Steven Spielberg, que diferenças há com outros projetos como De Profundis com Continental?

Embora ambos sejam animaçom, fôrom experiências que nom se parecem em nada, sobretodo a nível de resultados. Na série de Man in Black, em que estivem a trabalhar quatro temporadas, os ritmos de produçom eram trepidantes, as equipas imensas e, portanto, havia umha série de parámetros que estavam por cima da conceiçom artística. Nom me arrependo daquela experiência porque me permitiu aprender praticamente todo a respeito da animaçom para fazer De Profundis. Logicamente, tens de aceitar as limitaçons que o próprio processo impom e nom podes pretender que essa obra tenha ambiçons para as que nom foi pensada. Porém, tinha umha parte divertida, embora a responsabilidade criativa que eu sentia fosse muito menor. De Profundis foi, em troca, um projeto impagável, com umha equipa muito reduzida por necessidade de como eu o queria fazer. Estar quatro anos a trabalhar junto a Náni Garcia para enquadrar a imagem e a música em cada nova seqüência de planos foi umha experiência que seria impossível dentro de umha estrutura empresarial normal.


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