Além destas semelhanças com o caso catalão, a seleção galega afronta uma situação certamente surpreendente se consideramos o veto que padece desde a chegada à presidência da Junta em 2009 do popular Alberto Núñez Feijoo. Foi daquela quando deixou de receber financiamento para levar a termo a sua atividade. Segundo o secretário geral de Desportos do governo galego, José Ramón Lete, a administração tinha outras prioridades. Assim foi como a Junta promoveu a desaparição da seleção galega. Um verdadeiro paradoxo tendo em conta que se tratava duma equipa que não era oficial.
Apesar da tentativa dos dirigentes populares, a equipa nacional galega continuou competindo. A despeito da falta de recursos públicos e as pressões exercidas desde a Federação Galega de Futebol para que não disputasse o tradicional jogo natalino, a seleção galega manteve-se fiel ao seu encontro anual. Isso foi possível graças ao coletivo Siareiros Galegos, que aglutina os grupos de torcedores galegos do Celta de Vigo, o CD Ourense, a SD Compostela, o CD Lugo, o Ponte Vedra CF e o RCD da Corunha, entre outros. Foram estes siareiros os que permitiram a continuidade desportiva da seleção galega embora as restrições e a falta de recursos públicos que a conduziram à marginalidade. Desde então, os siareiros (...) encarregaram-se de organizar os jogos que disputou a seleção desde o último encontro oficial que a enfrentou em dezembro de 2008 com o Irão no estádio de Riazor. O trabalho voluntário destes torcedores, sem qualquer tipo de apoio institucional nem patrocinadores, manteve em pé a seleção galega de futebol. Uma equipa que em 2009 enfrentara-se com um combinado internacional no campo de Santa Isabel de Compostela. O ano seguinte, Galiza jogou contra Palestina em Ourense. Neste encontro, os galegos apresentaram, por vez primeira, um onze misto formado por jogadores dos dois sexos. A fórmula repetiu-se em 2011 contra os saarauis. Neste último jogo, destacou a presença de Verónica Boquete, uma das futebolistas com mais projeção internacional, que manifestou abertamente o seu apoio à oficialidade da seleção galega.
Apesar do seu compromisso, alguns jogadores não puderam vestir a camisola da Galiza atendendo as pressões federativas e dos clubes, que lhes denegaram a licença para participar nos encontros aludindo à sua não-oficialidade. Assim, sem poder contar com futebolistas da segunda divisão, o conjunto galego teve que optar por conformar uma equipa, uma outra vez mista, integrada por futebolistas de terceira e amadores.
Porém, os obstáculos, os intentos de boicote e o silêncio da mídia não evitaram que a seleção galega jogasse mais um ano o seu encontro. Esta vez, a vitória 2 a 1 contra o Saara Ocidental foi o mais irrelevante, o verdadeiro trunfo estava sobre a relva.
Carles Viñas é um historiador catalão